O republicano Donald Trump é o novo presidente dos Estados Unidos, e vai assumir o posto em janeiro de 2025 em meio a muita expectativa sobre sua condução da economia, o que inclui o setor do agronegócio. Quando candidato, prometeu implementar mudanças significativas nos rumos da economia e do agronegócio americano.
A aposta de Trump é em uma política de maior protecionismo, visando fortalecer a produção americana – parte do combo “Make America Great Again”- com a promessa de adicionar taxas a produtos estrangeiros, principalmente chineses, que ele planeja aplicar uma tarifa geral de 60%.
Principais pontos da política agrícola de Trump
- Reduzir as taxas de juros e diminuir os custos de energia para os agricultores
- Reverter regulamentações agrícolas impostas pelo governo Biden
- Reduzir a imigração nas fazendas americanas
- Impor tarifas mais altas sobre as importações
Os EUA são o segundo maior produtor global de commodities agrícolas, em um ranking que tem a liderança da China e o Brasil em terceiro lugar. Mas especialistas apontam que a estratégia que o republicano pretende adotar, pode fortalecer o agronegócio brasileiro.
O chefe do Departamento de Agricultura dos EUA na Hedgepoint Global Markets, Chris Trant, diz que podemos esperar uma política agrícola semelhante ao mandato anterior de Trump (2017-2021). Ele explica que a política agressiva do republicano acabou levando a uma guerra comercial sem precedentes com a China em 2018.
“O país era historicamente o maior comprador individual de soja dos Estados Unidos, e o atrito levou a uma queda nas exportações e no preço dos EUA. Como resultado, o Brasil substituiu os Estados Unidos como o principal exportador do produto para a China”
Trant lembra que o governo Trump criou um programa para compensar os agricultores dos EUA pela queda resultante nos preços. “Essa foi uma consideração tanto econômica quanto política, pois os agricultores eram vistos como uma parte essencial da base eleitoral do presidente Trump”.
Apesar de as relações comerciais terem se normalizado com a China desde então, o Brasil ainda é o maior parceiro comercial do país asiático para as importações de soja. “Se Trump for eleito e seguir uma cartilha agressiva semelhante, poderá haver uma nova guerra comercial com a China. Entretanto, dada a redução da participação das exportações de soja dos EUA para a China, é possível que a reação do mercado de soja seja menos volátil se a história se repetir”.
Carolina Bohnert, especialista em investimentos e sócia da The Hill Capital, também avalia que as medidas de Trump, se concretizadas, podem acabar por fortalecer o agronegócio.
“Os ramos da economia voltados para a exportação de matérias-primas, com destaque para o setor agrícola e pecuário, estão propensos a colher vantagens. Este segmento em particular experimentou ganhos significativos durante o período de tensões comerciais envolvendo a China”.
A especialista reforça que empresas como SLC Agrícola e BrasilAgro, focadas no setor de grãos, poderiam ser impulsionadas pelo aumento da demanda chinesa, que tradicionalmente busca alternativas ao mercado americano em períodos de tensão.
Ministro diz que Brasil não deve ser ‘refém’
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, afirmou que o Brasil tem de respeitar a posição mais protecionista do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, mas que não deve ficar refém dessa relação. “Queremos ter relações comerciais com toda a América do Sul, com os Estados Unidos, com a Europa, mas também não precisamos ficar reféns dessa situação”.
Para Fávaro, uma ampliação das relações diplomáticas e comerciais do Brasil com os países do Sul Global “supera qualquer protecionismo” a ser adotado por outros países. “Neste Sul Global, temos grande densidade populacional com Índia, China, Japão, toda a Ásia, além de todo o Oriente Médio com países com muitos recursos. E temos a América do Sul com grande densidade populacional e países bem estabilizados”, ponderou o ministro.
‘Golpe’ nas exportações americanas à China
Os produtores agrícolas dos Estados Unidos estão se preparando para a perspectiva de uma nova guerra comercial sob o comando do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, que atingirá novamente as exportações de produtos agrícolas para a China, mas disseram que, embora qualquer nova tarifa seja prejudicial, eles se sentem mais bem preparados.
Vários produtores americanos de safras que vão de amêndoas a soja estão na China esta semana para a China International Import Expo (CIIE), um evento destinado a incentivar as compras de importação e para se reunir com autoridades.
O setor ainda está se recuperando das tarifas de até 25% que Pequim impôs às importações agrícolas dos EUA, de soja a sorgo, durante a guerra comercial de 2018, em retaliação às tarifas impostas pelo governo Trump.
A China é o maior mercado para os produtos agrícolas dos EUA e é seu maior cliente de soja, a principal exportação dos EUA para a China, mas vem reduzindo suas compras.
As exportações agrícolas dos EUA para a China caíram 24% no ano passado, para 29,1 bilhões de dólares, de acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA).
Espera-se que esse valor caia ainda mais este ano, mas a China continuará sendo um mercado importante, disse Jason Hafemeister, subsecretário adjunto interino de Comércio e Serviços Agrícolas Estrangeiros do USDA.
“É uma preocupação”, disse Hafemeister. “Mesmo nos últimos dois anos, reconhecemos o potencial de ruptura no comércio entre os EUA e a China, de modo que muitos de nossos esforços foram direcionados para a diversificação de nossos mercados”, disse ele à Reuters à margem do CIIE.
Trump, que conquistou a vitória na eleição presidencial desta semana, ventilou uma tarifa geral de 60% sobre os produtos chineses, com a expectativa de que as exportações agrícolas americanas sejam novamente o foco principal da retaliação da China.
“Eles precisam de alimentos, nós produzimos muitos alimentos… Esperamos que as coisas não saiam do controle e que permaneçam proporcionais”, disse Hafemeister.
O setor agrícola dos EUA tem procurado se expandir para o Sudeste Asiático, África e Índia, e além dos grãos a granel para produtos de valor agregado, mas o tamanho e o apetite da China são difíceis de substituir.
Verity Ulibarri, que produz sorgo do Novo México e que também preside o U.S. Grains Council, disse que o setor se posicionou de forma a mitigar os riscos da guerra comercial.
“Ao olharmos para o futuro e vermos o que pode ou não acontecer, ter essa experiência nos dá uma sensação melhor de como lidar com isso. Não estamos assustados, sabemos que há riscos”, disse Ulibarri, referindo-se à guerra comercial de 2018.
A vitória eleitoral de Trump fez com que os contratos futuros do farelo de soja e do farelo de colza da China subissem na quinta-feira.
“Parece que quase tudo está sobre a mesa”, disse Allan Garbor, presidente da câmara de negócios AmCham Shanghai. “Mas, pessoalmente, eu diria que realmente esperamos que a área de alimentos e agricultura seja uma área segura para todos.”
Fonte: Reuters