Pesquisa indica que mais eleitores consideram as posições da vice-presidente radicais do que as do ex-presidente
O desafio de Kamala Harris e de Donald Trump no debate desta terça-feira (10) é transmitir moderação sem aplacar o entusiasmo de seus eleitores liberais e conservadores, respectivamente. Pesquisa da CNN da semana passada revelou que 15% dos eleitores nos estados-pêndulo estão indecisos. Esses eleitores são, por definição, moderados.
Trump está neste momento mais bem posicionado do que Kamala, nesse sentido. É o que indica pesquisa divulgada no domingo pelo jornal The New York Times. Nela, 50% dos entrevistados disseram que Trump não está muito ao extremo, nem para a direita nem para a esquerda. Outros 32% o consideram conservador demais e 11%, não suficientemente conservador.
Já no caso de Harris, só 42%, ou seja, 8 pontos porcentuais a menos do que Trump, acham que ela não é radical para um lado ou para o outro, enquanto 44% dos entrevistados a consideram liberal ou progressista demais e 9%, não o bastante liberal.
Diante disso, a vice-presidente deve tentar retratar Trump como um extremista, associando-o ao Projeto 2025, elaborado pela Fundação Heritage, que propõe a redução do Estado e desregulamentação, a substituição de escolas públicas por privadas, o banimento de mulheres transgênero dos esportes e outras bandeiras conservadoras. Trump afirma que não tem nada a ver com o projeto. Das 400 pessoas que participaram de sua elaboração, 140 trabalharam no governo dele.
Harris também responsabilizará Trump pela anulação da jurisprudência que garantia o direito ao aborto no nível nacional. O ex-presidente se orgulhou de ter nomeado três juízes conservadores para a Corte Suprema, o que possibilitou essa decisão. Diante da sua impopularidade entre muitas eleitoras, Trump defende que cada estado defina suas leis sobre o aborto, como aliás tem acontecido, e não uma lei nacional proibindo ou, como querem os democratas, assegurando o direito.
De sua parte, Trump deve lembrar posições mais à esquerda adotadas por Harris no passado, como o apoio à criação de uma rede universal de saúde, e a oposição ao fracking, a extração de petróleo e gás da rocha por jatos hidráulicos, que tem impacto ambiental. A vice-presidente abandonou essas posições, impopulares em estados para os quais as receitas de óleo e gás são importantes, e entre o eleitorado mais moderado, que rejeita a intervenção do governo.
Harris procurará retratar Trump como alguém que só luta pelos próprios interesses e ocupa um lugar de privilégio desde o nascimento, como filho de um grande empresário do ramo imobiliário, enquanto ela é filha de imigrantes e foi servidora pública toda a vida. Ela explorará também o seu papel de ex-procuradora da Califórnia, que processava criminosos, enquanto Trump é réu em quatro processos criminais.
Trump deverá atacar os resultados do governo de Joe Biden, sobretudo na economia e na imigração, e perguntar por que ela não fez o que promete nesses três anos e meio como vice-presidente. Ele vai explorar também as conclusões de uma investigação da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, de maioria republicana, que responsabiliza o governo Biden pela morte de 13 militares americanos e pelo caos na retirada do Afeganistão em 2021.
É a primeira vez que Harris e Trump se encontram pessoalmente e o primeiro e último debate entre ambos. Considerando o efeito do último debate, da CNN, em junho, que levou à desistência de Biden; a disputa apertada e o número significativo de indecisos nos estados em disputa, esse debate pode ser determinante no resultado da votação em 5 de novembro.
Fonte: CNN