Economia
Sábado, 29 de junho de 2024

Por “dólar + 5%”, brasileiros mais que dobram aportes em renda fixa no exterior

Volume de investimento na classe renovou recordes vistos em 2020, segundo dados do Banco Central

Os juros mais altos dos Estados Unidos desde 2001 está prestes a fazer aniversário — dia 27 de julho marcará um ano do último aumento do Federal Reserve (banco central dos EUA), que elevou as taxas de referência a 5,5% – e o fenômeno, considerado raro, tem sido aproveitado pelos brasileiros.

Somente em 2024, os brasileiros aportaram US$ 9,33 bilhões em títulos de renda fixa americanos, o equivalente a R$ 50,52 bilhões, considerando a cotação atual do dólar, de R$ 5,42. O montante é mais do que o dobro do registro na mesma janela do ano passado, que foi de US$ 3,51 bilhões (cerca de R$ 16.799,23, considerando a cotação do dólar do fim do período, de R$ 4,78). Os dados são do balanço de pagamentos do Banco Central, divulgados na segunda-feira (24).  

O ano de 2024 têm sido de quebra de recordes de aportes mensais dos brasileiros em renda fixa no exterior. Janeiro, fevereiro e maio foram os meses de maiores volumes investidos, nesta ordem, superando os valores de 2020. Respectivamente, os investimentos foram de US$ 2,9 bilhões, US$ 2,6 bilhões e US$ 2,2 bilhões.  

Segundo o Banco Central, os títulos de renda fixa considerados no levantamento são títulos do Tesouro Americano, títulos de dívida de empresas e contas remuneradas, como os CD (similar ao CDB brasileiros).  

Analistas e gestores têm apontado a renda fixa dos Estados Unidos como uma oportunidade relevante desde o ano passado, quando os juros atingiram o pico atual. Segundo eles, os rendimentos estão altos em títulos considerados os mais seguros do mundo, com o adicional de remunerarem em moeda forte.  

Segundo a Janus Henderson, até mesmo os americanos estão aproveitando o fluxo. Contas remuneradas e fundos de curto prazo [money market fundsatingiram um recorde de US$ 6,3 trilhões neste ano, o maior volume da história, segundo John Lloyd, gestor de portfólio da gestora britânica.  

Papéis preferidos

Segundo os dados do Banco Central, a escolha dos brasileiros tem sido por títulos de longo prazo — classificados como aqueles com vencimento superior a um ano. Dos US$ 9,3 bilhões investidos no ano, 91,3% foram nos papéis mais alongados.  

Segundo Lloyd, essa é a melhor escolha neste momento por dois motivos. O primeiro é a cautela dos investidores que ainda estão mais atentos aos títulos de curto prazo e as contas remuneradas e não precificaram a queda dos juros nos papéis mais longos, que estão com preços menores. O segundo, é justamente essa precificação que irá acontecer em algum momento, elevando os preços dos títulos com remunerações mais altas.  

O ganho é duplo: com a valorização dos preços dos títulos e a remuneração dos juros, que ficará bloqueada em pagamentos mais altos.  

Atualmente, os Treasuries de 10 anos estão pagando 0,5 ponto percentual a mais do que um ano atrás, saindo de um yield de 3,74% para 4,24%. Papéis com vencimentos menores também abriram, como os de vencimento em 5 anos, que passaram de 3,99% ao ano para 4,26% em junho, ante um ano atrás.  

Os títulos mais curtos são os que oferecem a maior remuneração, mas inverteram os rendimentos, pagamento menos atualmente do que um ano atrás. O Treasury Bill de um ano diminuiu seu rendimento de 5,25% para 5,09% ao ano, conforme dados desta terça-feira (25).  

Ações em baixa  

S&P 500 passou por um rali no começo deste ano, valorizando 25,7% entre junho/2023 e junho/2024, mas isso passou longo das vistas e dos investimentos dos brasileiros. Os aportes diminuíram de US$ 1,02 bilhão entre janeiro e maio de 2023 para US$ 614 milhões no mesmo período deste ano.  

Já os fundos de investimento internacionais passaram por alguma recuperação entre o ano passado e este ano. Em 2023, os fundos fecharam com um saldo negativo de US$ 955 milhões. Entre janeiro e maio deste ano, houve uma recuperação de US$ 729 milhões, mesmo após saídas líquidas de US$ 569 milhões no mês passado. 

Fonte: InfoMoney