Economia
Segunda-feira, 22 de julho de 2024

Ibovespa fecha com ampla queda e perde 121 mil pontos, após Haddad e emprego nos EUA

Investidores repercutiram payroll e falas de Haddad na reta final do pregão; dólar vai a R$ 5,32

A alegria durou pouco… Depois da forte alta de ontem, com esperanças renovadas de um ciclo de baixa de juros nos principais bancos centrais do mundo, tudo mudou. E para pior. Isso porque o payroll, o principal relatório do mercado de trabalho nos EUA, mostrou uma força acima do esperado e desanimou os mercados mundiais.

O Ibovespa acabou com forte queda de 1,73%, aos 120.767,19 pontos, uma perda de 2.131 pontos, para terminar a semana com desvalorização de 1,09%, na terceira seguida no vermelho. O dólar comercial também foi afetado e subiu com amplitude: mais 1,42%, a R$ 5,32. Não deu também para os juros futuros (DIs), que avançaram com consistência por toda a curva – os vértices de 2026 a 2029 saltaram mais de 3%.

A desandada do mercado se ampliou na reta final do pregão. De última hora, o ministério da Fazenda convocou entrevista coletiva – tudo o que não se precisava numa sexta com payroll era de novas falas, ainda mais não programadas de Haddad.

O ministro da Fazenda disse que “não é preciso subvenção para os andares de cima”, que “pode haver mais contigenciamentos até o final do ano” e que deve “enviar até o final do mês decreto de regulamentação da meta de inflação”.

Mais cedo, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, já havia tocado o dedo nas feridas do mercado, ao dizer que o tempo vai jogar a favor da autoridade monetária brasileira, argumentando que alguns ruídos que têm contribuído para o aumento das expectativas de inflação vão diminuir.

Ibovespa sucumbe ao payroll

O estrago nos mercados, porém, começou cedo. Os mais recentes relatórios sobre o mercado de trabalho até haviam dado esperanças de que o cenário seria bom para as aspirações do Federal Reserve, que espera um mercado de trabalho menos apertado para pensar em reduzir as taxas de juros. 

Na terça-feira (4), o JOLTs mostrou abertura de postos de trabalho no nível mais baixo desde 2021. No dia seguinte, o relatório ADP de empregos privados ficou abaixo do esperado em maio. Então, para completar, ontem os pedidos semanais de seguro-desemprego mostraram um avanço acima do esperado.

Mas hoje foi tudo por água abaixo. “A economia americana continua forte. Se a população está empregada, tem renda. E se tem renda tem consumo e inflação, consequentemente”, lembra Jefferson Laatus, estrategista-chefe da Laatu.

Claudia Rodrigues, economista do C6 Bank, diz que o mercado de trabalho aquecido “pressiona ainda mais a inflação de serviços, que já roda em patamar elevado. Essa dinâmica dificulta uma queda mais rápida da inflação como um todo em direção à meta. Na nossa visão, aumenta a possibilidade de não haver cortes de juros nos EUA neste ano”.

Para Seema Shah, estrategista-chefe global da Principal Asset Management, os dados de hoje (do payroll) “minam a mensagem que outros dados econômicos recentes têm transmitido sobre o desaquecimento da economia dos EUA e fecham a porta para um corte na taxa de juros em julho”.

“Não apenas o número de empregos criados explodiu novamente, como também o crescimento dos salários surpreendeu positivamente – ambos se movendo na direção oposta ao que o Fed precisa para começar a flexibilizar a política”, disse. Para ele, a notícia positiva “é que, com um mercado de trabalho tão forte, a economia dos EUA não está nem perto do território de recessão”.

Assim, os investidores em Wall Street até tentaram ver esse copo meio cheio e os principais índices ensaiaram uma alta na parte da tarde da sessão, para a partir daí a oscilação assumir. No fim, houve pouco descolamento da estabilidade.

A visão sobre a política monetária mudou: antes do relatório, a negociação de contratos futuros indicava uma chance de 69% de redução da taxa, que está na faixa de 5,25% a 5,5%, até setembro, em comparação com uma chance de 31% de que o primeiro corte ocorresse mais tarde no ano. Após o relatório, os contratos futuros mostram apenas cerca de 52% de chance de um corte até setembro.

Ibovespa tem queda generalizada

O impacto em São Paulo foi mais forte. A queda brutal do Ibovespa foi generalizada. A Vale (VALE3) perdeu 1,31%, mesmo com minério de ferro em alta na China. Por aqui, os investidores se debruçaram também na notícia de que a Advocacia Geral da União (AGU), os governos estaduais de Minas Gerais (MG) e Espírito Santo (ES) apresentaram na última quinta-feira (6) uma nova contraproposta de R$ 109 bilhões à mineradora, BHP e Samarco, por conta do rompimento da Barragem de Fundão, em 2015.

A Petrobras (PETR4) ensaiou uma resistência no campo positivo na abertura dos negócios, mas não durou muito. Terminou com baixa forte de 3,75%, com queda do petróleo internacional (que foi até suave) e em meio a notícias da retomada da fábrica de fertilizantes Ansa, que trouxe repercussão no mercado em meio a mais sinais dados pela empresa e que marcam os primeiros movimentos da CEO Magda Chambriard, A estatal anunciou que sua Diretoria Executiva aprovou a retomada das atividades operacionais da Ansa, que a empresa decidiu “hibernar em 2020”.

baixo volume de negócios e saída dos estrangeiros da Bolsa brasileira também pode ser uma explicação para esse momento ruim do mercado nacional. Mas não é tudo. É o cenário global e nacional que pesou mesmo.

Varejo e bancos caem; Embraer exceção

Enquanto isso, o sangue jorrou pelos monitores dos investidores. Magazine Luiza (MGLU3) é um exemplo. A queda de 7,56% hoje mostra que analistas podem ter razão em ser cautelosos, apesar da empresa estar colhendo frutos. Outros varejistas também perderam, como Lojas Renner (LREN3), com 1,57%.

Nenhum setor conseguiu sorrir. Os bancos caíram, com Bradesco (BBDC4) liderando os negócios e uma queda de 0,77%; BB (BBAS3) recuou 1,70% e o Itaú Unibanco (ITUB4) perdeu 1,41%.

Uma boa exceção foi Embraer (EMBR3), que decolou 4,04%, com detalhamentos sobre a encomenda dos mexicanos. Nesse caso, foi exceção mesmo, porque apenas sete ativos fecharam o dia no azul.

Fonte: InfoMoney