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Quarta-feira, 24 de julho de 2024

A mais nova invenção dos “professores pardais” da Randon

A Randon encontra-se em fase de testes de seu inaugural veículo autônomo. Contudo, trata-se de algo distinto de um caminhão autônomo da renomada fabricante de carretas, freios e suspensões de Caxias do Sul. A Randon não busca concorrer com as montadoras, as quais são suas principais clientes no fornecimento de autopeças.

De acordo com o CEO Sérgio Carvalho, o veículo em questão assemelha-se a um “tratorzinho”, projetado para movimentar carretas em ambientes controlados, dispensando intervenção humana. Carvalho descreve a funcionalidade do veículo em um cenário específico, onde a carreta precisa ser deslocada para a área de estacionamento. O “tratorzinho” posiciona-se, engata a carreta e a conduz até o local desejado sem necessidade de intervenção humana.

O CEO enfatiza que esse veículo, uma solução integrada de hardwares, inteligência artificial e machine learning, está próximo do nível 5 de automação, o mais elevado, e prevê sua chegada ao mercado nos próximos dois anos.

Essa inovação em veículos autônomos é apenas um dos frutos do trabalho dos engenheiros e cientistas do Instituto Hercílio Randon, criado pela empresa em 2017 como a primeira instituição brasileira de ciência e tecnologia voltada ao setor automotivo, juntamente com o Centro Tecnológico Randon. Ao todo, 290 profissionais, em sua maioria mestres e doutores, integram essas iniciativas.

Carvalho destaca a transformação trazida por esse grupo para a empresa, ressaltando a importância de permitir que esses profissionais inovem sem a pressão de metas mensais ou trimestrais. O foco é buscar a disrupção no setor automotivo e explorar atividades que complementem o negócio das montadoras.

Um exemplo é a área de materiais compósitos, vista pelo CEO como tendo grande potencial. O uso de materiais compósitos, que combinam diferentes materiais para criar produtos mais resistentes, já rende à Randon receitas substanciais. Destaca-se um aditivo nanoestruturado com nióbio, desenvolvido recentemente, que aumenta a resistência à corrosão em materiais como aço, ferro e alumínio.

Apesar da queda de 20% no faturamento da área de tecnologia avançada, que inclui o tratorzinho autônomo, devido à escassez de semicondutores, Carvalho menciona que outras áreas da empresa já começam a sentir os impactos positivos das inovações.

Embora grande parte da receita da Randon provenha do mercado de caminhões, que enfrenta uma queda de 40% na produção, a empresa mantém um desempenho melhor que o setor, registrando uma receita de R$ 2,9 bilhões no terceiro trimestre, uma queda de 5%.

A empresa busca normalizar suas margens nos próximos trimestres, enfrentando o desafio de um excesso de estoque de matérias-primas adquiridas a preços superiores aos praticados atualmente. Além disso, a Randon continua em busca de aquisições que possam contribuir para seu ecossistema de inovação, mantendo uma alavancagem de 1,35x, com espaço para chegar a 2x caso oportunidades interessantes surjam. As ações da Randon apresentaram um aumento de 50% nos últimos 12 meses, e a empresa é avaliada em R$ 3,9 bilhões na B3.

Fonte: Brazil Journal