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Quarta-feira, 24 de julho de 2024

O cigarro tem futuro? Até a dona da Souza Cruz tem dúvidas

A queda abrupta de mais de 8% nas ações da British American Tobacco (BAT), controladora da Souza Cruz, ocorreu ontem, após a fabricante dos cigarros Camel e Lucky Strike revelar uma desvalorização de mais de US$ 30 bilhões em suas marcas americanas.

As ações agora estão sendo negociadas no patamar mais baixo dos últimos 12 anos, com a capitalização de mercado da empresa atingindo US$ 64 bilhões na NYSE.

Este é o primeiro episódio em que uma grande fabricante de cigarros realiza um corte tão significativo no valor de seus ativos, reconhecendo que o horizonte de longo prazo da indústria pode não ser tão extenso quanto se pensava.

A BAT atribuiu a decisão aos desafios enfrentados pela economia americana, com a inflação levando os consumidores a migrarem para marcas mais acessíveis, e ao aumento das vendas ilegais de vape. A empresa também destacou a redução do consumo de tabaco como um fator relevante.

Em resposta a esses desafios, a BAT ajustou o tratamento contábil de algumas de suas marcas, limitando sua avaliação a uma duração finita de 30 anos, resultando em um impacto negativo não monetário de US$ 31,5 bilhões.

O CEO Tadeu Marroco, que assumiu o cargo em maio, afirmou à Reuters que essa mudança contábil representa uma adaptação à realidade. Apesar de acreditar que os cigarros não desaparecerão em 30 anos, ele argumenta que não é mais justificável atribuir um valor superior a US$ 80 bilhões a essas marcas.

As marcas afetadas pelo ajuste incluem Newport, Camel e Pall Mall, adquiridas pela BAT em 2017, quando a empresa britânica comprou os 58% restantes do capital da Reynolds American por quase US$ 50 bilhões.

Além do anúncio da desvalorização, a BAT prevê um aumento de 3% no volume global de vendas de cigarros este ano, com a estabilidade da participação de mercado, compensando a queda nas vendas nos EUA com o crescimento em outros mercados.

A empresa também reportou um notável crescimento nas vendas de produtos alternativos, prevendo que essa linha atinja o ponto de equilíbrio ainda este ano, dois anos antes do planejado. A meta é que esses produtos, como vapes e bolsas de nicotina sem tabaco, representem 50% da receita até 2035. O Wall Street Journal classificou o writeoff da BAT como o segundo maior da história recente, ficando atrás apenas do impairment de US$ 54 bilhões realizado pela AOL em 2002, relacionado aos ativos adquiridos da Time Warner dois anos antes.

Fonte: Neofeed