Economia
Terça-feira, 14 de maio de 2024

BNDES aumenta aposta em debêntures de infraestrutura – e incomoda mercado

Banco já investiu R$ 13,1 bi em debêntures de infraestrutura e energia no ano, alta de 90% ante 2022

Sob o comando de Aloizio Mercadante, o BNDES tem demonstrado mais disposição para atuar no mercado de debêntures de infraestrutura neste primeiro ano de governo Lula. Além de atuar como coordenador de ofertas junto a outras instituições financeiras, o banco de fomento já investiu R$ 13,1 bilhões nesse tipo de papel desde janeiro até a primeira quinzena de novembro.

O maior apetite, contudo, tem causado incômodo entre alguns participantes do setor privado. Ainda que a entrada do BNDES nas operações contribua para reduzir o custo de emissão para as empresas, isso gera competição com fundos de investimentos e pessoas físicas, que buscam esses papéis em função do benefício fiscal.

“O BNDES deveria se concentrar em operações que têm baixa demanda do mercado e não dar funding mais barato para grandes empresas, que teriam condições de captar só com investidores privados”, disse um gestor. Como exemplos de emissões com menor interesse do mercado, ele citou projetos de risco mais elevado, de setores novos que não têm histórico de setores novos que não têm histórico de marco regulatório, como os de transição energética, ou de empresas pequenas e médias.

O BNDES, porém, não pretende mudar a atuação. Pelo contrário: a diretora de infraestrutura do BNDES, Luciana Costa, afirma que o banco deve ampliar os investimentos em debêntures de infraestrutura e energia, em setores que são o foco do PAC ou do plano de transição energética. “Segundo a Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), para zerar o déficit em infraestrutura e energia, o Brasil precisa investir R$ 375 bilhões”, argumenta.

O volume investido pelo banco até meados de novembro representa cerca de 38% do total de debêntures de infraestrutura emitido pelo mercado no acumulado do ano, que totalizou R$ 34,7 bilhões. E isso mesmo com o banco restrito a emissões de debêntures de infraestrutura que são usadas para financiar projetos e que tenham prazo superior a quatro anos.

Uma das operações em que o BNDES participou foi da Rumo. A instituição financeira subscreveu metade da emissão de R$ 1,5 bilhão dos papéis emitidos pela empresa em agosto para financiar os investimentos na ferrovia Malha Paulista, que liga a região Centro-Oeste ao Porto de Santos.

Nesse caso, o banco subscreveu a primeira série inteira da emissão, que teve valor de R$ 750 milhões e recebeu o selo de debênture sustentável, com vencimento em 2029 e taxa de IPCA mais 5,76%. Já a segunda série, também de R$ 750 milhões e prazo para 2033, contou com a participação de 207 investidores e saiu a IPCA mais 6,18%.

“A Rumo é uma empresa de capital aberto, bom risco de crédito e tinha condição de captar a emissão toda com investidores no mercado. Não é uma empresa que precisaria de funding do BNDES”, avalia um gestor.

O banco, que sempre atuou na modelagem dos projetos de infraestrutura, também aumentou nos últimos dois anos a presença em coordenação. O volume do qual participou como um dos coordenadores saltou de R$ 3,6 bilhões em 2021 para R$ 14,5 bilhões em 2023 até setembro. “Nosso objetivo é oferecer a melhor estrutura de financiamento ao projeto, seja via emissão de debêntures ou linhas de crédito. O papel do BNDES é ajudar a desenvolver o mercado”, diz Nelson Barbosa, diretor de planejamento e estruturação de projetos do banco.

Nessas emissões, o BNDES pode oferecer ou não uma garantia firme para que a emissão saia, assim como já fazem os bancos privados. “O tamanho da garantia firme depende do limite de exposição do BNDES à empresa, ao setor e do risco de crédito”, afirma Barbosa.

Fonte: Valor Pipeline