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Quarta-feira, 3 de julho de 2024

Casas Bahia aprofunda prejuízo para R$ 836 milhões no trimestre e tenta virar a página em 2024

A Casas Bahia viu seu prejuízo quadruplicar em comparação com o mesmo período do ano anterior, registrando um resultado negativo de R$ 836 milhões no terceiro trimestre, impactado pelos custos do plano de reestruturação. Este valor é quase R$ 150 milhões acima do que a corretora Genial projetava em uma estimativa que já era mais pessimista do que a média do mercado, conforme relatado nesta semana.

Esse trimestre apresentou o segundo pior desempenho da empresa, seguindo as perdas contábeis do quarto trimestre de 2019.

A empresa busca transmitir ao mercado a mensagem de que o pior já passou. A varejista espera concluir o plano de reestruturação até o final do ano, para iniciar 2024 com a casa arrumada, como afirmou o CEO do grupo, Renato Franklin, ao Pipeline.

Desde que assumiu como CEO em maio, Franklin liderou uma série de ajustes na empresa, incluindo a redução das despesas com marketing, o fechamento de seis mil vagas e de 38 lojas, somente no último trimestre, o que deve resultar em uma economia de R$ 370 milhões por ano. “Esperamos ver a captura total dos benefícios dessas medidas do plano de transformação e um balanço limpo no segundo semestre de 2024, mas podemos até antecipar”, disse o CEO.

A empresa também reduziu seu estoque de mercadorias em R$ 1,5 bilhão em relação ao mesmo período do ano passado e em R$ 780 milhões em comparação ao segundo trimestre. O grupo diminuiu o estoque de produtos de baixo giro, como modelos de eletrodomésticos antigos, através de liquidações, e migrou categorias com margens negativas e tíquetes médios baixos, como materiais de limpeza e bebidas, para venda exclusiva no marketplace (3P).

Apesar das mudanças no estoque, Franklin acredita que a empresa possui o volume adequado para a Black Friday, que ele espera que seja um evento com descontos mais “racionais”. “Antes havia descontos muito grandes devido à necessidade de queimar estoques na Black Friday, mas hoje o varejo como um todo está mais racional”, explicou.

A empresa continuou a consumir caixa, e as medidas de ajuste resultaram em um Ebitda negativo de R$ 66 milhões no trimestre. Sem essas despesas do plano, o prejuízo líquido teria sido de R$ 376 milhões no terceiro trimestre, e o Ebitda teria alcançado R$ 354 milhões positivos.

Para melhorar a estrutura de capital, a varejista levantou R$ 622 milhões em uma oferta subsequente de ações em setembro, captou R$ 500 milhões com bancos no quarto trimestre e realizou a monetização de R$ 663 milhões com ativos tributários. Agora, está estruturando um fundo de recebíveis (FIDC), inicialmente de R$ 600 milhões, mas com potencial para chegar a R$ 1,5 bilhão, com a empresa aportando 20% em cotas subordinadas. Esse fundo será usado para financiar o crediário, substituindo o crédito bancário. O grupo espera liberar até R$ 5,4 bilhões em crédito comprometido com os bancos, referente a operações de Crédito Direto ao Consumidor com Interveniência, com o crescimento do FIDC, conforme declarou Franklin.

A dívida bancária representava 84% da dívida financeira da empresa, que encerrou o terceiro trimestre em R$ 10,7 bilhões. Deste montante, R$ 5,5 bilhões eram de operações de crediário. Na dívida consolidada, R$ 1,9 bilhão era de curto prazo, e a Casas Bahia tinha, ao final do terceiro trimestre, R$ 2,8 bilhões em caixa.

A queda da taxa Selic, que estava em 12,25% na época, deveria trazer uma redução nas despesas financeiras da empresa, além de estimular o consumo. “A cada 1% de redução na taxa Selic, economizamos R$ 160 milhões nas despesas financeiras”, conforme explicou Elcio Mitsuhiro Ito, CFO da Casa Bahia. Ito também destacou que a taxa de inadimplência na carteira do crediário do grupo estava controlada, em contraste com outros varejistas.

Desde seu IPO em 2013, originalmente como Viavarejo, a pior performance anterior da empresa havia ocorrido no final de 2019, com um prejuízo contábil de R$ 854 milhões, como apontado pela L4 Capital. Naquela época, a empresa teve que ajustar seu resultado após uma investigação decorrente de uma denúncia anônima sobre irregularidades contábeis. No entanto, operacionalmente, a empresa havia registrado lucro. O segundo pior desempenho, agora superado, ocorreu no terceiro trimestre de 2021, com um prejuízo de R$ 638 milhões.

Fonte: Pipeline Valor