Agronegócio
Domingo, 5 de maio de 2024

Agricultura terá papel relevante – e inédito – na COP28. Como o Brasil se prepara?

Agro brasileiro faz preparativos para apresentar setor como parte da solução para impedir as mudanças climáticas

De acordo com informações do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), cerca de 20% das emissões globais de carbono são atribuídas às mudanças no uso da terra. A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) também relata que aproximadamente um terço dos solos em todo o mundo encontra-se moderada ou altamente degradado, o que prejudica a capacidade do solo de armazenar e reciclar carbono, nutrientes e água, tendo um impacto direto na produção de alimentos.

Diante desse contexto, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP28), que ocorrerá em Dubai, nos Emirados Árabes, de 30 de novembro a 13 de dezembro, contará pela primeira vez com a realização de 22 grandes eventos dedicados à agricultura, alimentação e água. É esperado que a FAO apresente diretrizes sobre como os sistemas alimentares precisam ser transformados para que o mundo cumpra a meta global de limitar o aumento da temperatura a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, como acordado internacionalmente.

O Brasil, como o principal produtor de alimentos, fibras e energia no Hemisfério Sul, desempenha um papel crucial nessa discussão. Antes do evento, o país está fazendo esforços para buscar convergência entre os setores agrícolas, ambientais e de relações exteriores em relação à agenda de segurança alimentar e climática. Nelson Ananias, coordenador de sustentabilidade da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), afirma que o objetivo é apresentar uma posição unificada, destacando como a agricultura pode ser a solução para atingir as metas de redução de emissões.

Ele enfatiza que o setor agrícola tem um enorme potencial para contribuir tanto na mitigação quanto na adaptação às mudanças climáticas, com foco na erradicação do desmatamento e na produção de alimentos e energia de baixa emissão de carbono.

A CNA, que tem um escritório em Dubai, pretende promover a transição energética no país, que é conhecido por sua indústria de petróleo, através de biocombustíveis, biometano e biomassa. A entidade não está buscando diretamente financiamento dos países desenvolvidos para a agricultura de baixo carbono, mas espera apoio para tornar suas iniciativas mais ambiciosas.

No que diz respeito às finanças climáticas, Ana Toni, secretária de Mudanças do Clima do Ministério do Meio Ambiente, defende uma mobilização global para financiar a transição energética de forma realista, reconhecendo a necessidade de trilhões de dólares para combater as mudanças climáticas. Ela espera que os países desenvolvidos se mobilizem para apoiar os países em desenvolvimento, priorizando financiamentos alinhados com a agenda verde.

Além disso, na COP28, Ana Toni espera que avancem as discussões sobre a infraestrutura necessária para enfrentar a transição energética e como capacitar a mão de obra e os sistemas educacionais de pesquisa para concretizar esse objetivo. Políticas públicas e o envolvimento do setor empresarial brasileiro são considerados essenciais para esse processo.

A AMCHAM Brasil também destaca a importância do setor empresarial na busca de soluções para as questões climáticas. A transição para uma economia de baixo carbono dependerá da combinação de recursos públicos e privados, com um foco em ações sustentáveis. Na COP28, a AMCHAM Brasil apresentará 183 projetos de 111 empresas, com investimentos que ultrapassam R$ 31 bilhões, incluindo iniciativas relacionadas à geração de biomassa, indústria de biológicos e agricultura de baixo carbono no setor agropecuário.

Fonte: Exame