Economia
Sexta-feira, 17 de maio de 2024

Gasolina e diesel vão ficar mais caros por causa da guerra entre Israel e Hamas?

Segundo especialistas ouvidos pela EXAME, o movimento inicial de volatilidade do petróleo é normal e não deve impactar os preços da gasolina e do diesel no curto prazo. Preocupação é com cenário de longo prazo

A prolongação do conflito entre Israel e o Hamas, bem como a entrada de outras nações no embate, pode ter implicações para o bolso dos brasileiros, afetando os preços dos combustíveis. Na segunda-feira, 9, o petróleo Brent registrou um aumento de 4,22%, em resposta direta ao conflito no Oriente Médio, atingindo a marca de US$ 88. Na terça-feira seguinte, o preço do Brent recuou ligeiramente, caindo 0,57% e chegando a US$ 87,65.

Embora Israel e a Palestina não sejam produtores de petróleo, a preocupação dos mercados reside na escalada do conflito. Conforme especialistas em combustíveis entrevistados pela EXAME, esse início de volatilidade é considerado normal e, a curto prazo, não deverá afetar os preços da gasolina e do diesel. No entanto, a apreensão se concentra no cenário de longo prazo.

Amance Boutin, especialista em combustíveis da Argus, prevê que, após a fase inicial de turbulência, os preços do petróleo devem retornar ao nível anterior, como ocorreu após o início do conflito entre Rússia e Ucrânia. Portanto, é improvável que qualquer aumento significativo seja imediatamente repassado ao consumidor. Ele destaca que os aumentos de preços tendem a ser mais lentos que as quedas, na perspectiva dos importadores.

Sérgio Araujo, presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), também observa que os preços do petróleo e seus derivados são sensíveis a movimentos geopolíticos. Ele acredita que, na sua visão, esses são movimentos especulativos, uma vez que o conflito não afeta diretamente a cadeia de suprimentos de combustíveis. O risco de um impacto maior pode surgir caso se confirme o envolvimento do Irã e a subsequente sanção a esse país.

A preocupação dos especialistas se concentra no suposto envolvimento do Irã, um grande produtor de petróleo, no conflito. Segundo o Wall Street Journal, o país teria participado da coordenação dos ataques em Israel ao lado do Hamas, embora o Irã tenha negado qualquer envolvimento. Igor Lucena, economista e doutor em Relações Internacionais, destaca que a entrada do Irã no conflito, aliada a outros fatores, como a redução da produção de petróleo e a guerra na Ucrânia, poderia levar o preço do barril de petróleo a ultrapassar os US$ 90. Ele ressalta que fatores geoeconômicos e geopolíticos podem pressionar os preços do petróleo.

Lucena também enfatiza que a intensidade e a duração do conflito determinarão o impacto nos preços do petróleo e, consequentemente, nos preços dos combustíveis para os brasileiros. Se o conflito se agravar e envolver mais atores na região, é possível que haja um aumento significativo nos preços do petróleo e do gás. Por fim, ele sugere que a Petrobras pode não ser capaz de conter os preços e terá que repassar os aumentos para o consumidor.

Em uma entrevista coletiva para discutir o relatório Panorama Econômico Mundial divulgado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) nesta terça-feira, o economista-chefe do FMI, Pierre-Olivier Gourinchas, afirmou que a guerra pode elevar o preço do petróleo e reduzir o crescimento global. Segundo os cálculos de Gourinchas, um aumento de 10% nos preços do petróleo poderia reduzir o crescimento do produto interno bruto (PIB) mundial em 0,15% e aumentar a inflação global em 0,4%.

O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, destacou que o mercado ficará mais volátil com o conflito, especialmente no que diz respeito ao diesel, que já estava sob pressão. Essa preocupação se justifica pelo fato de parte do suprimento de diesel ser importado. Boutin, da Argus, explica que a extensão do conflito pode acionar uma série de efeitos em cadeia, potencialmente aumentando os preços no Brasil. Ele observa que uma parte do suprimento de diesel na Europa é importada da Índia, e o porto de Ashkelon em Israel é um ponto de descarga importante para navios de grande porte que transportam diesel para países europeus. No entanto, devido ao conflito, esse porto está temporariamente fechado, o que impede o envio de navios para a Europa. Como resultado, os europeus podem buscar combustível nos Estados Unidos. Embora os EUA tenham uma participação menor nas importações de diesel do Brasil, a alta de preços nos Estados Unidos pode sustentar as ofertas de venda do principal fornecedor do Brasil, a Rússia. No entanto, ainda é cedo para determinar um aumento iminente nos preços, uma vez que o mercado ainda pode se ajustar às circunstâncias conflituosas.

Fonte: Exame