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Quarta-feira, 24 de julho de 2024

JBL perde R$ 500 milhões por ano com pirataria de caixas de som e fones no Brasil

Até agosto de 2023, mais de 45 mil anúncios de produtos falsificados foram derrubados. Se comercializados, poderiam movimentar em torno R$ 400 milhões de reais

“Olha a JBL”, gritam os vendedores pelas praias pelo país. Quase sempre, são produtos falsificados, feitos em países asiáticos e que entram ilegalmente ao Brasil por portos ou pelas fronteiras com países vizinhos. O sucesso global da marca nos últimos anos fez com a marca da Harman, adquirida pela Samsung em 2016, se tornasse um dos alvos da indústria da pirataria

E o Brasil, com uma das maiores costas litorâneas do mundo, boas condições climáticas, musicalidade na veia e baixo poder aquisitivo, está entre um dos principais destinos desses produtos, segundo dados da empresa. 

Na estimativa da Harman, o mercado de falsificados transaciona em torno de R$ 500 milhões por ano em itens da marca por aqui, especialmente caixas de som portátil e fones de ouvido. Um prejuízo que poderia ser bem maior.

Desde 2018, a empresa tem empreendido e evoluído em ações para coibir o contrabando e a pirataria, seja por meios físicos seja por canais digitais. A Harman não abre os valores investidos na empreitada. 

De acordo com a Associação Brasileira de Combate à Falsificação, a pirataria movimentou R$ 345 bilhões em 2022, alta de 17% em relação ao ano anterior.   Outra vítima famosa é a Stanley, que criou um selo para tentar diminuir as falsificações.

Como a empresa tem enfrentado a pirataria

No ano passado, por exemplo, a Harman fez denúncias a marketplace e e-commerces que levaram à derrubada de mais de 50 mil anúncios. Em 2023, até agosto, outras 45 mil postagens foram retiradas do ar. O crescimento da pirataria acompanha a evolução do próprio mercado. Dados da consultoria GFK mostram a divisão das caixas de som com expansão de 42% em faturamento nos últimos 12 meses. 

Nos cálculos da empresa, se comercializados online, esses produtos movimentariam cerca de R$ 400 milhões. A tarefa é hercúlea e ganhou um novo ritmo na pandemia de Covid-19. Com o número maior de potenciais consumidores online, aumentaram também as ofertas.

“A impressão que dá é que, realmente, a pirataria está muito forte, mas nós estamos sempre tentando mitigar e diminuir”, afirma Rodrigo Kniest, presidente da Harman do Brasil e vice-presidente sênior da região da América do Sul da Harman. 

Ele conta que a empresa montou um time, hoje com  cinco pessoas, e contratou plataformas digitais que fazem varredura de anúncios na internet. Os profissionais analisam os relatórios e, ao sinal de produtos falsificados, acionam varejistas e e-commerces para a derrubada. 

Quantos produtos foram apreendidos nos últimos anos

No começo da década passada, as preocupações da operação brasileira eram relacionadas ao “mercado cinza”, modelo em que distribuidores compram os produtos legalmente em outros mercados e trazem ao Brasil ilegalmente, sem o pagamento de impostos e taxas. 

  • Em 2015, 60% dos produtos vendidos por aqui seguiam esse fluxo
  • A empresa conseguiu reduzir esse negócio para algo em torno de 10%
  • Isso foi feito ao rastrear os distribuidores naqueles países que comercializavam para os importadores nacionais 

À medida que produtos como o JBL Flip, a caixa de som portátil em formato ovalado, entraram no mercado e caíram  no gosto dos consumidores, a pirataria avançou. 

Rodrigo Kniest: “A impressão que dá é que, realmente, a pirataria está muito forte, mas nós estamos sempre tentando mitigar e diminuir” (Harman/Divulgação)

Além do monitoramento digital, também em 2018 a empresa começou a investir em ações junto aos órgãos públicos e estruturou, a partir de escritórios de advocacia, uma política de treinamentos para profissionais da Receita Federal, Polícia Federal, entre outros, que atuam em portos e áreas de fronteiras. 

A ideia é prover conhecimento técnico para que tenham mais ferramentas que permitam a identificação de cargas com produtos falsos.

“Tem casos de falsificação que chegam a ser comédia. Eu já achei na Avenida Paulista pau de selfie com a marca JBL, que é algo que não fabricamos”, afirma Kniest. 

“Mas isso é um extremo. E tem outro extremo que é bem mais sofisticado e eles botam os produtinhos bem acabados. Tem alguns que são idênticos aos nossos, à primeira vista. Se olhar a 10 metros de distância, é a mesma coisa. Quando pega na mão, nota que o acabamento não é o mesmo. Mas para um fiscal da Receita Federal tomar uma decisão de fazer uma apreensão, ele precisa ter certeza”. 

Até o mês de agosto, a empresa registrou a apreensão pela Receita Federal de mais de 300.000 produtos falsificados, contabilizando itens como caixas de som portátil e fones de ouvido das marcas JBL e da Harman Kardon, do mesmo portfólio. Desde 2018, o volume de apreensões supera 2 milhões de itens.

Como saber se os produtos da JBL são originais

Com tantas falsificações no mercado, a recomendação do presidente da Harman é usar o fator preço como parâmetro inicial para checar se um produto é ou não verdadeiro. Se tiver muito barato, o consumidor deve ficar atento. 

Além disso, precisa checar no site da própria JBL se o item faz parto do portfólio da marca no Brasil.“Se não estiver no nosso site, ou é pirata ou grey market, o que dá no mesmo porque não vai funcionar bem no país”. Em cada região, os produtos atendem a determinadas especificações técnicas e regulações. Quando são transportados para outros países, podem não funcionar da forma esperada pelos consumidores.

Uma das próximas ações, inclusive, vem neste sentido. A empresa pretende lançar globalmente um recurso nos próprios aplicativos da marca para que as pessoas consigam saber onde cada produto da JBL foi produzido. 

Ao fazer a conexão, a informação vai aparecer no dispositivo. “Será uma proteção a mais para o lojista na hora de ele comprar um produto de algum distribuidor”. A solução deve ser implementada no próximo ano.  

Fonte: Exame