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Quarta-feira, 24 de julho de 2024

Na contramão do mercado, Zara volta a abrir lojas no Brasil depois de hiato de cinco anos

Varejista espanhola segue com plano de investir 1,6 bilhão de euros em novo conceito de lojas e faz inaugurações no Brasil

Nas últimas semanas, os frequentadores do Shopping Pátio Higienópolis notaram uma grande mudança. No primeiro piso e de frente à entrada principal, está a nova loja da Zara, com mais de 2.000 metros quadrados.

No Brasil há mais de 20 anos, a varejista contava com 43 lojas por aqui e, desde 2018, não realizava inaugurações, exceto a do e-commerce, que aconteceu em 2019. Ao quebrar o jejum, a marca da espanhola Inditex, dona da Zara e outras marcas, também deve inaugurar um espaço – ainda maior, com 2.600 metros quadrados – no shopping Center Norte até o fim do ano.

Fachada da nova loja da Zara, no Shopping Pátio Higienópolis: aço, madeira e vasos de oliveiras fazem parte da decoração mais ‘clean’ (Foto: Divulgação)

As inaugurações coincidem com o anúncio da vinda da sueca H&M, que deve começar suas operações no país – online e física – nas principais cidades da região Sudeste em 2025, e com as novas regras de tributação para importação.  Apesar da movimentação, fontes ligadas à Inditex não classificam a abertura de lojas no Brasil como uma resposta a esses movimentos, mas como uma estratégia isolada da marca que enxerga na região um potencial de crescimento. Hoje, as Américas, o que inclui todos os países da América do Norte, Central e do Sul, respondem por menos de 20% do negócio da Inditex, e o plano de abertura de lojas nos Estados Unidos é mais agressivo que o brasileiro. A empresa também abriu lojas em outras praças, como Paris, Londres, Mumbai e Joanesburgo.

A abertura de lojas da Zara no Brasil, contudo, chama a atenção pelo momento muito particular para o varejo nacional. Essas empresas ainda sofrem com o efeito do juro alto sobre o custo financeiro e a demanda e, diante disso, muitas implementaram uma gestão rigorosa de caixa, cortando investimentos e até fechando lojas. Ao mesmo tempo, alguns fenômenos que em 2022 ajudaram o setor a compensar o aperto monetário, ainda que parcialmente, não se repetiram este ano, como o inverno mais longo e  boom de eventos que haviam sido represados durante a pandemia. “Em 2023, ainda estamos em um momento de juros altos, com famílias endividadas e uma competição com varejistas asiáticos mais agressiva”, avalia Ricardo Borges, sócio e analista de ações da SFA.

As varejistas têxteis que entraram no ciclo de juros mais elevados  com um nível de alavancagem financeira muito alto foram as mais afetadas. A Marisa informou, em julho, que fechou 88 lojas com geração de caixa negativa apenas no segundo trimestre. A Riachuelo também precisou se desfazer de plantas e mesmo a Lojas Renner, líder do setor,  fechou 20 lojas (entre Camicado e Renner) nos primeiros meses do ano – uma delas, em um ponto histórico em Porto Alegre. “As varejistas com condições financeiras um pouco mais apertadas precisaram ajustar seu parque de lojas de maneira mais urgente. Elas estão fazendo o trabalho interno para resolver isso. Esse fechamento de lojas deve ser visto como uma otimização do parque [de lojas]”, avalia Borges.

A própria Zara chegou a ter 55 lojas no país, mas começou o movimento de encerramento de operações um pouco antes, em 2021. “A Inditex fez o movimento [de encerramento de operações no Brasil] antecipado, por outras razões, mas, principalmente, pela preocupação com o avanço de outras redes como a Asos e a Boho na Europa. Com a ‘ameaça’, precisaram otimizar o parque de lojas mundial e, agora, já estão no momento de investir em expansão”, diz um analista do setor.

Para analistas do setor, as varejistas nacionais fariam bem em acompanhar os passos da Inditex na Europa, que buscou fortalecer sua cadeia logística, ajustar o time de 300 designers e das fábricas para ter mais otimização e reavaliar o seu parque de lojas. “Uma vantagem competitiva da Zara neste momento, em relação a varejistas de vestuário nacionais, é o chamado supply chain, acesso a uma cadeia de suprimentos global, que permite às lojas adaptarem-se às mudanças de estação e de moda com muito mais velocidade”, afirmou uma fonte.

Fonte: InfoMoney