Economia
Sábado, 27 de julho de 2024

Governo vai propor redução do IR de pessoa jurídica na próxima etapa da reforma tributária, diz secretário

Segundo Bernard Appy, responsável na Fazenda pela reforma, compensação deve ocorrer com taxação de lucros e dividendos. Primeira etapa da reforma tributária, ainda não aprovada, se concentra nos impostos sobre consumo.

O Secretário Especial para a Reforma Tributária do Ministério da Fazenda, Bernard Appy, anunciou que o governo federal planeja, na próxima fase da reforma tributária, uma diminuição da alíquota do Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ), junto com a isenção das contribuições sobre folha de pagamento das empresas.

Embora a proposta exata do governo para a alíquota do IRPJ não tenha sido revelada, ele assegurou que o Brasil manterá a conformidade com os padrões internacionais de tributação de renda.

Segundo informações da Tax Foundation, uma organização sem fins lucrativos que analisa impostos e coleta dados fiscais globalmente há mais de 80 anos, a média do IRPJ nos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que engloba 38 nações altamente desenvolvidas, foi de 23,6% em 2021. No Brasil, a tributação para grandes empresas é aproximadamente 34%, considerando tanto o IRPJ quanto o CSLL, representando uma cifra elevada em comparação internacional.

Appy afirmou que o padrão internacional é um ponto de referência para o Brasil, ainda que não signifique uma cópia exata, e destacou que a decisão não foi finalizada.

Durante o governo do presidente Jair Bolsonaro, o então ministro da Economia, Paulo Guedes, almejava reduzir a alíquota máxima do IRPJ no Brasil para 25%.

Atualmente, a etapa atual da reforma tributária, que está em tramitação no Congresso, focaliza em impostos de consumo. A fase subsequente se concentrará na tributação de renda.

Alterações no Imposto de Renda

O Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, indicou que a proposta de mudança nas regulamentações de tributação de renda será apresentada ao Congresso Nacional somente após a aprovação das alterações nos impostos de consumo, que estão atualmente sob debate legislativo.

Embora a reforma tributária para o consumo já tenha sido aprovada pela Câmara dos Deputados, ela ainda necessita ser passar pelo Senado Federal e por uma nova rodada de votações na Câmara para se tornar efetiva. O governo almeja que as mudanças sejam implementadas ainda neste ano.

Soluções de Compensação

O Secretário Bernard Appy não revelou detalhes sobre as propostas do governo, porém sugeriu que, além da tributação da distribuição de lucros e dividendos de empresas para indivíduos, haverá outros métodos para compensar a diminuição da arrecadação devido à isenção da folha de pagamento e à redução do IR das empresas.

Appy mencionou que existem várias opções para corrigir as distorções causadas por essas mudanças, mas é impossível antecipar exatamente quais serão.

O Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também insinuou que o governo poderia propor a taxação de fundos exclusivos como um meio de equilibrar o déficit projetado para as contas públicas em 2024, com expectativas de arrecadar cerca de R$ 10 bilhões.

Ao mesmo tempo, o Ministério da Fazenda busca eliminar os juros sobre capital próprio, que atualmente representam uma maneira de distribuir lucros para acionistas de empresas de capital aberto.

Lucros e Dividendos

Appy também não divulgou a alíquota proposta para a distribuição de lucros e dividendos de empresas para indivíduos.

Ele mencionou que a tributação de lucros e dividendos possui uma média, mas não segue um padrão fixo, variando significativamente entre diferentes países.

Atualmente, o Brasil é um dos poucos países que não tributa a distribuição de lucros e dividendos para pessoas físicas, apesar de ter impostos desse tipo em vigor anteriormente, até 1995.

Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apontou que outros quatro países – Estônia, Letônia, Eslováquia e Romênia – também não tributam esses rendimentos.

Durante o governo Bolsonaro, o então Ministro da Economia, Paulo Guedes, inicialmente propôs uma alíquota de 20%, porém a Câmara dos Deputados aprovou em 2021 uma alíquota menor, de 15%. A proposta, entretanto, não prosseguiu no Senado, resultando na não implementação da taxação.

Isenção de Folha de Pagamento

Appy reiterou que a discussão sobre a isenção da folha de pagamento das empresas ocorrerá em conjunto com as mudanças no Imposto de Renda.

Ele explicou que existe uma avaliação política sugerindo que é mais adequado tratar esses dois temas em momentos distintos, mas o momento político exato será determinado pelo ministro e pelo Congresso Nacional.

Em maio, Appy sugeriu a possibilidade de uma isenção “não linear” da folha de pagamento, com redução da tributação apenas para salários mínimos.

Atualmente, a contribuição patronal sobre folha de pagamento é de 20%. Caso a isenção seja aplicada, os rendimentos até um salário mínimo, atualmente em R$ 1.320, não seriam tributados. Esse modelo beneficiaria principalmente contratações de trabalhadores com salários mais baixos.

Atualmente, a isenção da folha de pagamento para empresas dos 17 setores mais empregadores no país está em vigor. Essas empresas substituem a contribuição previdenciária, que é de 20% sobre salários de funcionários, por uma alíquota sobre receita bruta, variando de 1% a 4,5%. Essa regra tem validade até o fim de 2023.

Além da contribuição patronal de 20%, os empregadores também são obrigados a pagar um seguro de acidentes de trabalho, o FGTS de 8% do salário do trabalhador, contribuições para educação salarial e para o sistema S.

Já os empregados contribuem com 11% de seus salários. As contribuições de empregadores e empregados variam de 34% a quase 43% no Brasil. Empresas registradas no Simples Nacional são uma exceção e pagam menos impostos.

De acordo com um estudo do Ipea divulgado em 2022, a alíquota média de contribuição dos empregadores em 13 países de economias avançadas

Fonte: G1