Cultura
Sexta-feira, 3 de maio de 2024

Como o novo ‘Transformers’ marca o reinício da franquia após a saída de Michael Bay

Lorenzo di Bonaventura, o produtor de “Transformers”, tinha um problema nas mãos no começo de 2019. A franquia inspirada nos brinquedos da Hasbro se via diante de uma sequência e um derivado que renderam os piores desempenhos na bilheteria desde o seu salto ao live-action, em 2007.
“Transformers: O Despertar das Bestas”, que chega aos cinemas esta semana, é o reinício simbólico da história dos robôs que se transformam em carros um que Bonaventura alimentou desde a gênese do projeto.
É a solução para uma situação delicada, já que os filmes anteriores despertaram reações opostas. “Transformers: O Último Cavaleiro”, a despedida do diretor Michael Bay do comando da saga, foi massacrado pelo épico inchado e incoerente; “Bumblebee”, primeira aventura solo fora da história principal, foi elogiado pela premissa inocente e desconectada dos outros capítulos.
“A gente tinha um ponto de vista específico”, diz o produtor em entrevista. “Queríamos a intimidade de Bumblebee e do primeiro Transformers e a escala maior dos cinco filmes de [Michael] Bay.”
A ideia também era manter a continuidade entre os filmes. O novo capítulo se passa nos anos 1990, pouco depois de “Bumblebee” e antes dos outros longas. De velhos conhecidos, só Optimus Prime e o próprio Bumblebee: mocinhos, vilões e personagens humanos são todos inéditos.
Tudo isso ajudou na escolha de Steven Caple Jr. para comandar a aventura. Até porque o diretor tinha passado por algo similar em “Creed 2”, de 2018. O filme era parte de uma franquia longeva e em nova encarnação, “Rocky”, com estrelas do porte de Michael B. Jordan e Sylvester Stallone em uma história mais ampla.
Essa afinidade ajudou o cineasta a adentrar a franquia. “Quando assumi o projeto, busquei um olhar de fã da série, do que eu queria ver e de quem eu sou”, diz o diretor.
Foi assim, para refletir a realidade do mundo no elenco, que Anthony Ramos e Dominique Fishback foram escolhidos.
Pela primeira vez, um ator de origem latina e uma atriz negra são o rosto da franquia com espaço para tal. Fishback diz que sentou com os roteiristas em três ocasiões só para discutir sua personagem, a arqueóloga Elena. Tanto ela quanto Ramos afirmam que se viram motivados com essa abertura.
“Quando o diretor me perguntou o que queria trazer à série, respondi que eu queria levar o coração”, afirma o ator. “Eu queria fazer um filme que fosse mais que robôs explodindo uns aos outros, e que o público se importasse com os humanos.”
A decisão mais arriscada de Caple Jr., porém, foi destacar outros grupos de personagens robóticos na trama. O filme traz duas novas facções, incluindo os mocinhos Maximals que se transformam em animais metálicos, como um gorila e um falcão e os malvados Terrorcons versões mais ameaçadoras dos vilões anteriores, os Decepticons.
Eles são o chamariz principal da história, que preserva os Autobots como protagonistas pela conveniência. Em “O Despertar das Bestas”, o líder Optimus Prime ainda teme a humanidade e busca maneiras de retornar o grupo para o planeta natal. Mas a procura desperta a guerra com os Terrorcons, que querem fazer da Terra uma refeição para o Unicron um robô com forma de um imenso planeta.
Caple Jr. diz que queria expandir o horizonte da franquia e manter o público na ponta dos pés, mas confirma que isso virou um desafio nos efeitos visuais. Com os Maximals, por exemplo, foi um problema encontrar uma escala que permitisse aos personagens se misturar com o ambiente da selva no Peru, onde o clímax acontece. Ele queria ainda que o público observasse as transformações entre robô e animal.
Nessa hora, a comparação com os filmes de Michael Bay é inevitável. Em especial porque o diretor da vez queria algo mais simples.
“Com o Bay, você vê que os Autobots deixaram de lado os carros. Em O Último Cavaleiro, por exemplo, eles lembram mais cavaleiros. Eu queria voltar à semelhança com os carros. Gastei tempo com o design do Optimus para encontrar um estilo elementar, similar aos desenhos.”
Di Bonaventura também lembra desses desafios, mas os entende como parte do processo caótico de qualquer produção. O executivo até compara a experiência de “Transformers” com a de “Onze Homens e Um Segredo”, o qual gerenciou quando trabalhava na Warner Bros., em 2001 ambos os projetos vivem o drama de lidar com muitos personagens.
O produtor duvida de colegas que afirmam ter um plano fechado para seus filmes desde o início. Ele afirma que o caso de “Transformers” foi o oposto e diz que isso tornou o processo mais orgânico.

Fonte: FolhaPress