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Sexta-feira, 26 de julho de 2024

Guerra aberta entre generais provoca mais de 100 mortes no Sudão

Mais de cem civis morreram no Sudão devido aos intensos combates que começaram há três dias entre o exército e um poderoso grupo paramilitar e que nesta segunda-feira (17) provocaram novas explosões na capital Cartum.

Pelo menos dois hospitais da capital foram evacuados “enquanto foguetes e balas crivavam suas paredes”, disseram os médicos, que alegam ter ficado sem bolsas de sangue e material para cuidar dos feridos.

Desde sábado, a cidade, de onde sobem colunas de fumaça, está imersa ao cheiro de pólvora. Seus habitantes estão entrincheirados em suas casas, a maioria sem água encanada ou eletricidade, tremendo a cada novo ataque aéreo ou fogo de artilharia.

Ao menos 97 civis foram mortos, cerca de metade deles em Cartum, e “dezenas” de combatentes morreram, segundo o sindicato oficial dos médicos, que contabilizou 942 feridos.

As duas partes em conflito não divulgaram suas perdas.

Em Cartum, onde circulam apenas homens fardados e veículos militares, as poucas mercearias abertas avisaram que, se os caminhões não chegarem, logo ficarão sem estoque.

Os Estados Unidos e o Reino Unido pediram nesta segunda-feira o “fim imediato” da violência, como já fizeram a Liga Árabe e a União Africana.

O conflito envolve o comandante do exército, general Abdel Fatah al Bur, líder de fato do país, e seu número dois, o general Mohamed Hamdan Daglo, conhecido como “Hemedti”, comandante das Forças de Apoio Rápido (FAR).

Em outubro de 2021, eles executaram um golpe juntos que expulsou civis do poder.

Desde sábado (14), os intensos tiroteios não param e a aviação tem como alvo, no coração de Cartum, o quartel-general das FAR, um grupo de ex-milicianos que participaram da guerra na região de Darfur e posteriormente se tornaram reforços oficiais do exército.

“Burhan está bombardeando civis, vamos caçá-lo e levá-lo à Justiça”, disse o general Daglo no Twitter.

O exército afirmou no Facebook que “o momento da vitória final está muito próximo”.

– Sem água e comida –

Nesta segunda-feira ainda era impossível dizer quem controla o quê.

As FAR alegam terem tomado o aeroporto e entrado no palácio presidencial, o que o exército nega.

Por sua vez, o exército afirma ter em mãos o quartel-general de seu Estado-Maior, um dos principais complexos de poder em Cartum.

A televisão estatal, depois de dois dias de combates nas suas imediações, transmite agora imagens e declarações do exército, que afirma ter recuperado terreno em muitos lugares.

Médicos e organizações humanitárias alertaram que em algumas áreas de Cartum a eletricidade e a água estão cortadas e que há cortes de energia nas salas de cirurgia.

Os pacientes, alguns deles crianças, e suas famílias “não têm comida nem água”, declarou uma rede pró-democrática de médicos.

Dois gregos ficaram feridos em Cartum e cerca de 15 pessoas estão escondidas na igreja ortodoxa da cidade, impossibilitadas de sair por causa dos combates, disse o arcebispo metropolitano de Núbia e de todo o Sudão, monsenhor Savvas, que está dentro da igreja.

A ONU, que propôs uma trégua humanitária de algumas horas no domingo, declarou-se “extremamente decepcionada” com o desrespeito dos beligerantes e denunciou nesta segunda-feira a “intensificação dos combates”.

– Combates em toda a cidade –

O Programa Mundial de Alimentos (PMA) suspendeu a ajuda no domingo após a morte de três membros de sua equipe nos combates da província de Darfur (oeste), apesar de mais de um terço dos 45 milhões de sudaneses precisar de ajuda humanitária.

“Esta é a primeira vez na história do Sudão desde sua independência (em 1956) que se observa tal nível de violência no centro de Cartum”, declarou à AFP Kholood Khair, fundadora do centro de pesquisas Confluence Advisory, em Cartum.

A capital “sempre foi o lugar mais seguro do Sudão”, mas agora “há combates por todos os lados, inclusive em áreas densamente povoadas, porque os beligerantes acreditam que um alto número de civis mortos deterá o outro lado”, acrescentou.

Fonte: AFP