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Sábado, 27 de abril de 2024

PicPay “vira a chave” e começa a dar lucro

Quando o PicPay tentou abrir capital na Nasdaq, em abril de 2021, um número chamou a atenção do mercado: a queima de caixa da companhia em busca de crescimento. Na época, o prejuízo estava em R$ 803,6 milhões. Em 2021, chegou a R$ 1,9 bilhão e, no ano passado, atingiu R$ 693 milhões. Mas, segundo Eduardo Chedid, CEO da companhia, isso ficou para trás.

“Nosso compromisso é não voltar a queimar caixa”, diz Chedid com exclusividade ao NeoFeed. Mais do que retórica, ele afirma isso baseado em um número que representa uma virada de chave para a companhia. Pela primeira vez em sua história, o PicPay deu lucro em um trimestre.

No último trimestre do ano passado, a companhia anotou um saldo positivo de R$ 20 milhões. Indagado se é um resultado esporádico ou se é algo consistente, Chedid afirma que, daqui para frente, essa será a toada da companhia. “Esperamos manter crescimento com rentabilidade e a rampa será maior no segundo semestre deste ano”, afirma.

Para a companhia, não deixa de ser um marco. Afinal, a expectativa era atingir o equilíbrio apenas na metade de 2024. Essa antecipação de entrega é, entretanto, fruto de uma grande mudança de visão dos executivos e dos acionistas sobre o negócio. No começo de 2021, a métrica interna de sucesso era basicamente clientes ativos e novos clientes.

“Durante 2021, revisamos isso. Precisávamos do crescimento da base e do aumento de receita”, diz Chedid. E prossegue. “Em novembro de 2021, o desafio foi também olhar para ebitda e lucro líquido. Não adianta só aumentar a receita e queimar caixa. O PicPay tinha que ficar sustentável”, diz.

O lucro de R$ 20 milhões no último trimestre de 2022 reverte o prejuízo de R$ 516 milhões no mesmo período de 2021. Em 2022, o PicPay atingiu R$ 199 bilhões em TPV, 115% a mais do que em 2021; a receita alcançou R$ 2,9 bilhões, 156% a mais do que no ano passado; o lucro bruto chegou a R$ 1,2 bilhão com 40% de margem.

“NÃO ADIANTA SÓ AUMENTAR A RECEITA E QUEIMAR CAIXA. O PICPAY TINHA QUE FICAR SUSTENTÁVEL”, DIZ EDUARDO CHEDID, CEO DO PICPAY

O ebitda foi negativo em R$ 603 milhões, numa queda de 67% no ano; e o prejuízo anual foi de R$ 693 milhões, uma redução de 64%. “Ainda tem muita coisa por vir, mas o PicPay já é uma empresa parruda”, diz André Cazotto, diretor de RI, estratégia e M&A do PicPay. “Desde 2018, temos triplicado as receitas ano a ano.”

Mas não adianta só triplicar receita, é necessário extrair lucro da operação – algo que os executivos da companhia dizem estar centrados. “O nosso foco vai continuar na inovação, no investimento em novas frentes e novos negócios, mas será um crescimento combinado com rentabilidade”, afirma Cazotto.

No quarto trimestre de 2022, a companhia apresentou uma receita de R$ 761 milhões, um crescimento de 75%, uma margem bruta de R$ 404 milhões e um ebitda de R$ 33 milhões. Mas o que explica a rentabilidade no último trimestre de 2022?

Segundo os executivos, o custo de funding caiu bastante. No quarto trimestre de 2021, o custo de captação era de cerca de 140% do CDI. Depois que obteve a licença bancária, em junho de 2022, o PicPay destravou os depósitos de saldo em conta – hoje em R$ 10 bilhões – para financiar o próprio crescimento.

O custo no último trimestre de 2022 ficou em 105% do CDI e está chegando a 85% do CDI no primeiro semestre deste ano. As despesas de vendas, incluindo o marketing, por exemplo, representavam 74% da receita líquida no quarto trimestre de 2021 e caíram para 16% da receita no mesmo período de 2022.

Uma das críticas do mercado era a de que o PicPay só crescia porque dava cashback. Sobre isso, Chedid explica que a companhia não dá cashback por dar. “É sempre atrelado a adoção de um novo produto da companhia”, diz ele. O cashback sugava 20% da receita e hoje representa 1,5% da receita.

NO ANO PASSADO, O PICPAY ATINGIU R$ 199 BILHÕES EM TPV, 115% A MAIS DO QUE EM 2021

Atualmente, o PicPay conta com 30 milhões de usuários ativos mensais (aqueles que abriram o aplicativo, têm saldo em conta ou fizeram uma transação no período). Deste total, 22 milhões de usuários têm saldo em conta.

É aí que mora outra estratégia da fintech: fazer com que o usuário concentre toda a economia dele na plataforma. Não é fácil diante da concorrência cada vez mais acirrada com players digitais como Nubank e Inter buscando o mesmo. “É um jogo difícil de rouba-monte”, diz Chedid. Para conquistar a tal “principalidade”, o PicPay apostou na conta-corrente, em cartões e no pagamento de contas.

Hoje, segundo os executivos, 25% dos clientes do PicPay usam a plataforma como a conta principal. As métricas usadas por eles é a de que o usuário concentra 50% da renda, cerca de 50% dos gastos de cartão e, pelo menos, tem três vezes a renda investida na plataforma. “Isso significa que, se ele tem uma renda de R$ 5 mil, R$ 15 mil estão investidos aqui”, diz Chedid.

“A carteira digital representa 85% da receita do PicPay, mas a gente vem trabalhando na diversificação nos últimos anos”, diz Cazotto. Além de lançar novos produtos, a companhia tem feito M&As para entrar em diversas áreas. No open finance, por exemplo, comprou o GuiaBolso. No crédito consignado, adquiriu recentemente a BX Blue.

“Se você pegar o app há dois anos e o app hoje, é outra empresa”, diz Chedid. Segundo ele, a companhia lança novos produtos com uma velocidade média de três meses. O banco, o pix parcelado, a exchange de cripto e outros produtos estão nesse bolo.

“A gente coloca o produto rápido e escala rápido”, diz Chedid. A exchange de cripto atingiu 1 milhão de usuários em cinco meses, o cofrinho chegou nesse número em dois meses. Isso tem feito o gasto médio mensal dos usuários saltar. No quarto trimestre de 2021, cada cliente gastava, em média, R$ 1,3 mil. Já no último trimestre de 2022, o gasto médio estava em R$ 1,89 mil – um salto de 46%.

A receita média por cliente anualizada dobrou. Se era de R$ 89,50 no quarto trimestre de 2021, ela passou para R$ 182,70 no último trimestre de 2022. Agora, diz Chedid, o PicPay está pronto para abrir seu capital na Nasdaq, algo que foi abortado em 2021. “Parte do que fizemos é pensando na abertura de capital. Estamos prontos para isso, agora vai depender da janela de mercado”, diz Chedid.

Fonte: Neofeed