Cultura
Domingo, 28 de abril de 2024

‘Um Filho’ é drama previsível com atuação fraca de Hugh Jackman

O interessante nos humanos é que eles reagem frequentemente de forma inesperada. E esse talvez seja o ponto fraco de “Um Filho”. Todos os personagens agem exatamente como se espera: Nicholas, vivido por Zen McGrath, o adolescente, tem problemas como qualquer adolescente, talvez um pouco mais: sofre e rebela-se porque o pai não dá atenção nem a ele e nem à mãe.
O pai, Peter, papel de Hugh Jackman, é um homem bem-sucedido, que abandonou a mulher ao se apaixonar por uma outra. Beth, encarnada por Vanessa Kirby, é essa outra, que agora tem um filho recém-nascido, cujo pai é Peter, claro. Para completar o quadro, existe ainda a infeliz Kate, vivida por Laura Dern. Além de abandonada, ela ficou anos vivendo sozinha com Nicholas. Agora que Nicholas pirou ela pede ajuda ao ex-marido.
Ao problema, então: todos fazem exatamente o que se espera deles. O jovem culpa o pai por tê-lo esquecido; Kate insinua que precisa do ex-marido de volta; Beth é legal e segura as pontas com o bebê no colo o tempo todo e a maior diplomacia possível.
Peter traz o filho para morar com a nova família, já que o adolescente queixava-se de ter sido abandonado por ele. Manda-o para um terapeuta. Segue o receituário. Todos os outros fazem mais ou menos o mesmo: aquilo que esperamos de boas pessoas “normais” em uma circunstância difícil.
O interesse maior vem, então, dos objetos. O primeiro é a máquina de lavar que fica em um cômodo onde Nicholas entra à noite. Sabemos que atrás da máquina está uma arma do pai. O menino sai de quadro, mas a máquina permanece lá. A câmera para e a observamos a partir da sala, com a porta aberta. E podemos pensar no que o jovem poderia fazer: dar um tiro em si mesmo, ou no pai.
Eis aí uma situação resolvida cinematograficamente pelo dramaturgo Florian Zeller. Não são muitas. Outra, em menor escala: o adolescente prepara um chá (ou café, ou o que seja) para os pais num momento em que aparenta estar feliz. Mas o que será que ele vai aprontar? Vai botar veneno nas xícaras? Ou um sonífero? Ou uma pastilha de LSD? Que importa? Ao menos se cria alguma expectativa.
De todas as sequências, a que parece mais ambígua, portanto mais cheia de significado, envolve a hipótese de internação psiquiátrica de Nicholas. De um lado existe a autoridade psiquiátrica, aconselhando a deixar o garoto a seus cuidados; de outro, o próprio Nicholas implorando para não ficar no lugar que diz ser horrível, sujo e tudo mais.
Ou seja, existe, por um momento, o enfrentamento entre o sistema repressivo (o jeito simpático do psiquiatra é um truque profissional) e os riscos da esquizofrenia. No mais, Nicholas joga bastante a culpa de seus males no pai -um clássico.
Sem contar com um Anthony Hopkins no papel central -ele faz apenas uma aparição como o insuportável pai de Peter-, Florian Zeller parece ter sido mais feliz na escalação de suas atrizes, Laura Dern e Vanessa Kirby.
Hugh Jackman interpreta um pai frágil de maneira, digamos, frágil. O filho também é pouco convincente, num papel difícil.
UM FILHO
Quando Nos cinemas a partir de quinta-feira (23)
Avaliação Regular
Classificação 14 anos
Elenco Hugh Jackman, Laura Dern, Vanessa Kirby
Produção França, 2022
Direção Florian Zeller

Fonte: FolhaPress