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Quinta-feira, 25 de julho de 2024

Bola Tinubu, o padrinho político da Nigéria

Bola Tinubu, um “padrinho” político conhecido por sua habilidade estratégica e sua influência, nunca escondeu a ambição de ser presidente da Nigéria.

O político de 70 anos concretizou o sonho ao vencer a eleição presidencial do país de maior população da África com 8,8 milhões de votos, segundo os resultados oficiais.

Apesar das dúvidas sobre sua saúde e das denúncias de corrupção apresentas contra ele, o ex-governador de Lagos sucederá o presidente Muhammadu Buhari, um ex-general do exército.

Seu partido, o governista Congresso de Todos os Progressistas (APC), enfrenta denúncias de fraude nas eleições de sábado por parte dos dois principais rivais, acusações rejeitadas pelas autoridades eleitorais e do APC.

Tinubu construiu sua base de poder durante anos em Lagos, até transformá-la em uma rede nacional de contatos, que inclui cooperativas comerciais, sindicatos de transporte e líderes políticos.

O candidato do Partido Trabalhista, Peter Obi, foi o mais votado no estado de Lagos, tradicional reduto de Tinubu.

“Você ganha algumas, perde outras”, afirmou Tinubu sobre o resultado.

– Estrategista –

Tinubu nasceu em uma família muçulmana no sudoeste da Nigéria e se formou em Ciências Contábeis nos Estados Unidos, onde trabalhou para várias empresas, inclusive como diretor do grupo de petróleo ExxonMobil.

Foi ativista político antes de ser eleito senador e depois governador do estado de Lagos, de 1999 a 2007.

Durante o período como ativista, ele foi enviado ao exílio pelo ditador militar Sani Abacha ao lado de outras pessoas que defendiam o retorno de um governo democrático.

Considerado por seus aliados um estrategista político astuto, ele foi um dos fundadores e financiou a Aliança pela Democracia antes de ajudar a criar o APC.

Tinubu foi crucial no momento de unir as alas do APC para garantir a vitória de Buhari em 2015 e acabar com 16 anos de mandatos consecutivos do Partido Democrático Popular (PDP).

A eleição de Buhari e sua reeleição em 2019 foram atribuídas, em parte, à influência política de Tinubu.

Ele manteve o controle ferrenho do governo do estado de Lagos de 1999 a 2007 e influenciou a escolha de seus sucessores desde que deixou o cargo.

Seu poder no sudoeste do país irritou alguns potenciais candidatos que não chegaram a cargos de alto escalão e ele foi criticado por seu estilo ditatorial e pouco democrático.

“Tinubu tem uma máquina política muito agressiva, muito sólida”, disse Dapo Thomas, professor de Ciências Políticas da Universidade de Lagos.

– Corrupção –

As operações financeiras de Tinubu também provocam polêmica.

Ele é considerado um dos políticos mais ricos da Nigéria e, depois de deixar o governo de Lagos, foi acusado de corrupção, lavagem de dinheiro e de operar mais de uma dezena de contas bancárias no exterior, mas nunca foi indiciado.

Durante a campanha, os rivais do Partido Democrático Popular (PDP) o chamaram de “inseguro, fraco e devastado por narcóticos”, em referência às preocupações com a sua saúde e a um processo aberto contra ele nos Estados Unidos em 1993, que citava uma “apreensão de bens relacionados com as drogas”.

A origem de sua fortuna não é conhecida, mas ele está presente em vários setores, da imprensa à aviação, passando por assessoria tributária, hotelaria e imóveis.

Um de seus críticos o chamou de “político avarento”, depois de assumir o controle de grandes fontes de receita em Lagos.

Mas o ministro da Informação, Lai Mohammed, que foi chefe de gabinete de Tinubu, o considera um dos políticos mais astutos do país.

Depois da posse presidencial, prevista para maio, Tinubu terá que tomar decisões difíceis sobre o fim dos subsídios aos combustíveis e a crescente pobreza e violência no país.

Fonte: AFP