No Mundo
Quinta-feira, 25 de julho de 2024

Biden defende justiça social e o “made in USA” em discurso no Congresso

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, defendeu na terça-feira (7) à noite uma sociedade mais justa na qual os trabalhadores e a classe média recebam salários melhores e os bilionários paguem mais impostos, durante um discurso no Congresso, no qual também defendeu o “made in USA” e alertou a China que não hesitará em agir em caso de ameaça à soberania do país.

O discurso sobre o Estado da União seguiu a imagem de Biden: otimista.

A pandemia interrompeu as cadeias de abastecimento e a guerra “injusta e brutal” da Rússia na Ucrânia afetou o fornecimento de energia e de alimentos, mas ainda assim “estamos melhor posicionados do que qualquer outro país na Terra neste momento”, disse o presidente democrata.

Em um discurso repleto de números, Biden celebrou a menor taxa de desemprego em 50 anos, a queda da inflação e os benefícios das colossais reformas e programas de investimento adotados desde que chegou à Casa Branca, em janeiro de 2021. .

“Vamos terminar o trabalho”, disse o presidente de 80 anos, que cogita disputar a reeleição em 2024.

O discurso foi mais centrado na política interna, com uma defesa total do coração industrial dos Estados Unidos, do “made in America” que ajudou seu antecessor republicano Donald Trump a conquistar as cidades operárias há alguns anos.

“Meu plano econômico é investir em lugares e pessoas que foram esquecidas, que foram deixadas para trás ou tratadas como se fossem invisíveis durante as últimas quatro décadas”, disse.

Os planos se concentram em buscar a justiça social. “Nenhum bilionário deveria pagar uma taxa de imposto menor do que um professor ou um bombeiro”, afirmou o presidente, “escandalizado” com os lucros das empresas de petróleo, que no ano passado embolsaram “200 bilhões de dólares em meio a uma crise energética global”.

Biden pediu um forte aumento de impostos sobre a recompra de ações das petrolíferas e também criticou as grandes empresas farmacêuticas que cobram “injustamente” preços altos.

Para demonstrar sua moderação, Biden estendeu a mão aos republicanos para “trabalhar juntos” pelo país, mas acusou alguns deles de tentar fazer a economia de “refém”, com a exigência de cortes nos gastos públicos para aceitar o aumento do limite da dívida e evitar um ‘default’.

Em mais de uma hora de discurso, Biden foi além da economia e abordou temas que dividem os americanos, como as armas e a violência policial.

“Vamos nos unir e concluir o trabalho de reforma policial para responsabilizar os agentes que têm comportamentos violentos. Vamos proibir as armas de ataque perigosas de uma vez por todas”, disse, em um trecho do discurso que fez referência a Tyre Nichols, assassinado recentemente em Memphis depois de ser espancado pela polícia.

Ele fez o discurso diante dos pais de Nichols e de Brandon Tsay, que desarmou o autor de um ataque a tiros contra a comunidade asiática na Califórnia.

Também pediu aos republicanos, que desde novembro têm maioria na Câmara de Representantes, uma reforma migratória.

Consciente de que corre o risco de ser ignorado, ele acrescentou: “Se não aprovam minha profunda reforma migratória, ao menos aprovem meu plano para fornecer os meios e agentes necessários para proteger a fronteira com o México e um caminho à cidadania para os ‘dreamers’ (pessoas que entram no país ainda crianças), aqueles com status temporário, trabalhadores agrícolas e essenciais”.

Biden elogiou sua nova política que permite a entrada, sob condições, de cubanos, nicaraguenses, venezuelanos e haitianos. A medida reduziu a migração a partir destes países em mais de 90%.

Também disse que vetará qualquer legislação que proíba o aborto a nível federal e, ao falar sobre as crianças, pediu aos congressistas que restrinjam a maneira como as redes sociais as atraem e coletam seus dados.

– “Protegeremos nosso país” –

Na parte reservada ao cenário internacional, o presidente destacou China e Ucrânia.

“Estou comprometido em trabalhar com a China onde for possível promover os interesses americanos e beneficiar o mundo”, afirmou Biden. “Mas não se enganem: como deixamos claro na semana passada, se a China ameaçar nossa soberania, vamos agir para proteger nosso país. E foi o que fizemos”, declarou entre aplausos, em referência ao balão chinês derrubado por Washington e que segundo o Pentágono era um dispositivo de espionagem.

Pequim respondeu poucas horas depois. “Vamos defender de maneira firme os interesses de soberania, segurança e desenvolvimento da China”, disse a porta-voz do ministério das Relações Exteriores, Mao Ning, antes de pedir ao governo dos Estados Unidos para “trabalhar com a China para devolver as relações sino-americanas ao caminho do desenvolvimento”.

Entre as pessoas convidadas ao discurso estava a embaixadora da Ucrânia nos Estados Unidos, Oksana Markarova, assim como ocorreu no ano passado.

“Estaremos com vocês, o tempo que for necessário”, disse Biden.

Entre os convidados estava o cantor Bono, como um ativista da luta contra a aids, uma mulher que quase morreu vítima de um aborto espontâneo porque os médicos se recusaram a atendê-la por medo de violar uma lei que restringe a interrupção da gravidez, o pai de uma vítima de overdose de fentanil, um casal de lésbicas e sobreviventes de câncer, um tema doloroso para o presidente que perdeu um filho para esta doença.

Atrás de Biden estava sentado o novo presidente da Câmara de Representantes, o republicano, Kevin McCarthy, que aplaudiu o discurso em vários momentos.

“Lutar por lutar, o poder pelo poder, o conflito pelo conflito, não nos leva a lugar algum”, afirmou Biden, antes de insistir que a democracia americana, embora embora “ferida”, permanece “inabalável”.

Biden se esforçou para apresentar um cenário de esperança, consciente que as pesquisas são desfavoráveis. Mas não desanime.

Mas o democrata não parece abalado e está acostumado. Muitos previram uma grande derrota nas eleições de meio de mandato em novembro do ano passado, o que não aconteceu.

Na terça-feira, o presidente recebeu um elogio do próprio Trump que certamente não contava. “Não concordo com ele na maioria de suas políticas, mas ele expressou em palavras o que sentia e terminou a noite muito mais forte do que começou. Ele merece crédito por isso”, escreveu em sua plataforma Truth Social.

Mas a governadora do Arkansas, a republicana Sarah Huckabee Sanders, criticou a “esquerda radical” e o que considera um ataque à “liberdade e à paz”.

Fonte: Reuters