No Mundo
Terça-feira, 14 de maio de 2024

Governo português em plena crise um ano após vitória eleitoral

Depois de vários escândalos e em um momento de inflação elevada, o primeiro-ministro português, António Costa, viu sua popularidade despencar um ano após uma vitória eleitoral que deveria garantir a estabilidade de seu governo socialista.

“Se a estabilidade era necessária há um ano, hoje é ainda mais”, declarou Costa esta semana, referindo-se às consequências da “terrível onda de inflação” decorrente da guerra na Ucrânia.

O político de 61 anos pensou ter alcançado a estabilidade ao conquistar a maioria absoluta nas eleições de 30 de janeiro de 2022, o que evitou a necessidade de aliança com os partidos de extrema-esquerda dos quais dependia após chegar ao poder em novembro de 2015.

Um ano depois, o Executivo socialista está enfraquecido por “uma crise de confiança da sociedade portuguesa”, disse à AFP o cientista político António Costa Pinto, do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa.

A crise começou no final do ano com o chamado escândalo “TAPgate”, que deve o nome à companhia aérea pública.

A empresa pagou uma indenização de saída de 500 mil euros (545 mil dólares) a uma diretora, Alexandra Reis, que meses depois assumiu o comando da empresa estatal de controle aéreo e mais tarde o cargo de secretária de Estado do Tesouro, vinculado ao ministério das Finanças.

O caso levou a uma série de demissões, incluindo a do ministro de Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, líder da ala mais à esquerda do Partido Socialista e um dos pretendentes à sucessão de Costa.

– “Negligência surpreendente” –

O grande adversário de Santos, o ministro das Finanças, Fernando Medina, foi abalado por essa polêmica, e a oposição de direita pediu que ele também deixasse o governo.

“A negligência da elite governamental em casos como este é realmente surpreendente”, comentou Costa Pinto, que considera o governo “o único responsável” por sua “queda acelerada” aos olhos da opinião pública.

Segundo uma pesquisa divulgada no último sábado pela imprensa local, António Costa tem 24% de opiniões favoráveis e 54% de opiniões desfavoráveis, o que significa que a correlação entre as duas se inverteu em nove meses.

Outra pesquisa publicada na quinta-feira aponta que o principal partido da oposição, o PSD de centro-direita, lidera as intenções de voto pela primeira vez em cinco anos.

Depois de uma dezena de demissões em poucos meses, Costa publicou um longo questionário que pretende submeter às suas futuras nomeações, para garantir que não tenham um passado problemático.

Neste contexto, o presidente do país, o conservador Marcelo Rebelo de Sousa, atuou como moderador e declarou que “neste momento não é razoável pensar em dissolver o Parlamento”.

Fonte: AFP