Política
Terça-feira, 5 de novembro de 2024

Nunes defende internação compulsória para quem consome crack há mais de cinco anos

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), defendeu a internação de usuários que consomem crack há mais de cinco anos. Ele também disse que 51% das pessoas na região da cracolândia estão com os pulmões comprometidos.
“É uma avaliação médica, o que não podemos desconsiderar é a realidade dos fatos. Quem está no consumo há mais de cinco anos, são estudos que demonstram, o poder público precisa dar um atendimento, seja internação involuntária, compulsória ou em comunidade terapêutica, seja qual for”, afirmou.
A declaração foi feita pelo prefeito durante uma visita na manhã desta sexta (13) às obras de uma unidade do programa Vila Reencontro, que oferece moradia em unidades modulares à população em situação de rua, no Anhangabaú.
“51% das pessoas na cracolândia estão com comprometimento da atividade pulmonar, e a grande maioria, com 50% do pulmão. Estão se encaminhando para a morte e não vamos fazer nada?”, disse Nunes. Segundo ele, testes de espirometria têm sido realizados por agentes da secretaria da Saúde.
Ainda sobre a possibilidade de internações compulsórias, Nunes disse que vai trabalhar junto com o governador, Tarcisio de Freitas (Republicanos). No próximo dia 23, deve ser lançado um projeto com o detalhamento das ações previstas pelas duas gestões.
“A Prefeitura de São Paulo e o governo do estado darão o atendimento que ele precisa, o que a gente não pode é ter pessoas jogadas na rua se consumindo com o crack. Vai se debilitando até chegar à morte”, afirmou Nunes.
Tarcísio de Freitas (Republicanos) tem priorizado o tema em reuniões com membros da prefeitura e designou o vice-governador, Felicio Ramuth (PSD), para fazer a interlocução com a prefeitura. O governador também se comprometeu a aumentar vagas em comunidades terapêuticas para tratar dependentes químicos.
Um convênio entre governo e prefeitura disponibiliza desde o início de 2022 cerca de 1.400 vagas para dependentes químicos em comunidades terapêuticas. Em um ano, quatro pessoas foram encaminhadas para as instituições conveniadas, e o tempo médio de permanência foi de 66 dias, segundo a administração municipal.
A declaração de Nunes ocorre no contexto de mudanças nas ações de controle da cracolândia.
Há cerca de duas semanas a Polícia Civil deixou de fichar os dependentes químicos flagrados usando drogas nas calçadas do centro antes de encaminhá-los para unidades de saúde, conforme vinha ocorrendo desde o fim de setembro.
Os registros de termo circunstanciado eram feitos no 77º DP (distrito policial), no mesmo terreno onde funciona um equipamento de atendimento médicos aos usuários.
Na quarta (11), Nunes afirmou que a polícia vinha “fazendo um trabalho que estava funcionando muito bem” e não soube dizer o motivo da mudança. A Secretaria da Segurança Pública não respondeu à reportagem obre a questão.
No último sábado (7), o governo Tarcísio trocou o delegado responsável pelas operações na cracolândia, que vinham sendo realizadas pela Polícia Civil e a GCM (Guarda Civil Metropolitana).
Roberto Monteiro, idealizador da Operação Caronte, realizada desde junho de 2021, foi substituído por Jair Barbosa Ortiz, que era diretor do Departamento de Polícia Judiciária de São José dos Campos, no Vale do Paraíba, interior de São Paulo.
Na primeira operação na área sob a nova gestão, a Polícia Militar voltou a atuar e dispersou usuários de drogas que estavam na rua Vitória, em Campos Elíseos, com bombas de gás lacrimogêneo. No local, dependentes e moradores de rua haviam pintado uma faixa para demarcar o espaço ocupado por eles na via.

Fonte: FolhaPress