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Quarta-feira, 24 de julho de 2024

O tombo de US$ 500 bilhões das empresas de mídia

Serviços de streaming com custos mais altos, consumidores apertando os cintos e queda na publicidade afetam grupos de mídia como Netflix, Disney e Paramount

Mais de US$ 500 bilhões do valor de mercado das maiores empresas de mídia do mundo evaporaram neste ano, depois de os investidores terem se frustrado com a revolução do streaming — o que desencadeou uma das piores ondas de queda das ações de empresas de TV e entretenimento na história.

A intensificação da concorrência e o aumento dos custos se somaram ao impacto do aperto de cinto dos consumidores e a uma desaceleração da publicidade, desencadeando um declínio generalizado das ações do setor.

O setor de mídia, que para os investidores inclui uma ampla gama de atividades, desde a produção de filmes até a publicidade e a TV a cabo, é um dos mais atingidos no que deve ser o pior ano para as ações mundiais desde a crise financeira mundial.

“Foi uma tempestade perfeita de más notícias”, disse Michael Nathanson, analista de mídia da SVB MoffettNathanson. “Venho cobrindo este setor há muito tempo e nunca vi uma série de dados tão ruins antes.”

As ações da Walt Disney, com queda de cerca de 45%, rumam a sua maior desvalorização anual desde pelo menos 1974. Os papéis ficaram sob mais pressão nos últimos dias, já que as receitas da tão aguardada sequência de “Avatar”, da Disney, ficaram aquém de algumas estimativas no fim de semana de estreia do filme.

As da Paramount Global caíram 42% no acumulado de 2022 e as da Netflix, 52%, enquanto as da Warner Brothers Discovery recuaram 63% desde sua criação neste ano com a fusão da Discovery e da WarnerMedia, da AT&T.

Os executivos do conglomerado vêm tentando integrar duas das maiores operações de mídia em um momento de turbulência do setor. Na semana passada, advertiram que teriam até US$ 5,3 bilhões em custos de reestruturação e outros encargos relacionados à fusão.

No início da pandemia, as empresas de streaming se saíram bem, pois as restrições dos lockdowns aumentaram seu público, impulsionando as ações de todo o setor no boom do mercado de ações visto a partir de março de 2020.

No entanto, enquanto os executivos gastavam dezenas de bilhões de dólares em conteúdo para streaming, as opções de produtos proliferavam e os custos de vida disparavam – encorajando famílias com dificuldades financeiras a “cancelar” ou a trocar de assinaturas.

O índice Dow Jones Media Titans, que acompanha o desempenho de 30 das maiores empresas de mídia do mundo, caiu 40% no acumulado de 2022, com seu valor total de mercado encolhendo de US$ 1,35 trilhão para US$ 808 bilhões.

O aumento das taxas de juros abalou as cotações, principalmente no caso das “ações de crescimento” do setor. O serviço de streaming de músicas Spotify viu as ações caírem 69% e a especialista em vídeos Roku, 81%.

Ações da Netflix recuaram 52% no acumulado do ano — Foto: Pixabay

Ações da Netflix recuaram 52% no acumulado do ano — Foto: Pixabay

As emissoras tradicionais também foram afetadas. Alguns dos piores declínios nas ações foram os das controladoras de operações a cabo nos Estados Unidos, consideradas durante muito tempo uma fonte segura de lucros. Os papéis da Charter Communications recuaram 53% e os da Comcast, 31%.

A tendência conhecida como “corte de cabos” acelerou-se nos EUA, com o número de assinaturas de TV paga tradicional acompanhadas pelo Macquarie caindo 8,3% no terceiro trimestre em comparação ao mesmo período de 2021.

Os aumentos de preços – especialmente para eventos de esportes – até recentemente abrandavam a queda no número de clientes, “mas entrando em recessão, você receia que o consumidor passe a se recusar a pagar”, disse Tim Nollen, analista de tecnologia de mídia do Macquarie.

A maioria dos serviços de streaming vinha incorrendo em “perdas muito pesadas”, então as empresas de mídia “ainda não estão numa posição em que possam compensar o declínio linear”, acrescentou Nollen.

Os anunciantes, por sua vez, ficaram mais relutantes em promover marcas em meio à desaceleração da economia, prejudicando as empresas de mídia, como a britânica ITV, cujas ações caíram 36%.

A emissora informou recentemente que deverá ter declínio nas receitas anuais de anúncios, apesar do impulso da Copa do Mundo de futebol.

Em resposta aos problemas, várias das maiores empresas do setor vêm recorrendo a aumentos de preços, cortes de empregos e outras medidas, como o lançamento de tipos de assinatura de streaming com anúncios.

Em nota a investidores nesta semana, analistas do Morgan Stanley escreveram que, se tais iniciativas não conseguirem gerar lucros “significativos” no streaming, as empresas seriam forçadas a “desistir” ou se consolidar.

Fonte: Pipeline Valor