No Mundo
Quarta-feira, 24 de julho de 2024

Rússia faz acordo com EUA e liberta Brittney Griner em troca de traficante ‘senhor das armas’

A jogadora de basquete americana Brittney Griner foi libertada pela Rússia nesta quinta-feira (8) após Moscou e EUA concordarem em realizar uma troca de prisioneiros. Griner estava detida na Rússia desde fevereiro devido a acusações de posse de haxixe.
A contrapartida americana foi a libertação do russo Viktor Bout, condenado nos EUA por tráfico de armas. Conhecido como “Mercador da Morte”, Bout foi detido em Bancoc, na Tailândia, em uma operação da Agência de Repressão às Drogas dos EUA em 2008, e extraditado para Nova York em 2010. Famoso por inspirar o filme “O Senhor das Armas”, estrelado por Nicolas Cage, ele cumpria pena de 25 anos de prisão.
A troca de prisioneiros aconteceu no aeroporto de Abu Dhabi, e envolveu os governos dos Emirados Árabes Unidos e da Arábia Saudita.
Griner foi detida em 17 de fevereiro no Aeroporto Internacional Sheremetievo, próximo a Moscou, acusada de carregar cartuchos de óleo de haxixe -substância derivada da cânabis que é ilegal na Rússia-, para serem usados em um cigarro eletrônico. Ela tem prescrição médica para usar maconha de forma medicinal nos EUA, para tratar de dores crônicas.
O caso, que já era difícil, ganhou outra dimensão uma semana depois, quando Vladimir Putin decidiu invadir a Ucrânia. Nas semanas que se seguiram, Biden chamou o russo de criminoso de guerra, Moscou afirmou que os EUA promovem banditismo e as relações entre os dois países colapsaram.
Griner estava na Rússia para jogar na liga de basquete feminino do país no período de intertemporada do esporte nos EUA -algo que jogadoras costumam fazer para complementar a renda, dados os salários mais baixos em comparação à modalidade masculina. Ela atuava pelo UMMC de Iekaterimburgo, na região dos montes Urais, mais perto do Cazaquistão do que do leste da Europa.
Nos EUA, a jogadora é contratada do Phoenix Mercury. Com 32 anos e 2,06 metros de altura, ela é considerada uma das estrelas do basquete no país desde a liga universitária, quando defendeu a Universidade de Baylor. A bicampeã olímpica (Rio-2016 e Tóquio-2020), nos protestos contra a morte de George Floyd em 2020, se juntou ao grupo de atletas que se manifestaram contra o fato de o hino americano tocar antes dos jogos.
Logo após ser presa, ela assumiu diante de um tribunal russo a culpa por levar o óleo de haxixe para o país, mas sempre sustentou que não o fez por querer. Disse que não sabia como a substância foi parar em sua bagagem e que isso podia ter acontecido por ter arrumado as malas de forma apressada -já que ela pode usar a substância nos EUA. Em agosto, foi condenada a nove anos de prisão.
A prisão gerou comoção nacional e pressão sobre a Casa Branca, dada a visibilidade que a atleta tem, o que colocou a família de Griner em contato direto com o presidente americano, Joe Biden.
No começo da manhã desta quinta, ao anunciar a liberação da americana, Biden afirmou que conversou por telefone com a jogadora de basquete, que já estaria em um avião a caminho de casa. “Brittney é uma atleta incomparável, duas vezes medalhista de ouro nas Olimpíadas. Ela aguentou maus-tratos e encarou o julgamento na Rússia com coragem e dignidade incríveis. Ela representa o melhor da América”, afirmou.
Em nota, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia afirmou que “Washington se recusava categoricamente a dialogar sobre a inclusão do cidadão russo nas negociações de troca”, segundo a agência russa de notícias Tass. “No entanto, a Federação Russa continuou a trabalhar ativamente para a libertação de nosso compatriota.”
A oferta de trocar Griner pelo criminoso russo, porém, provocou debate interno. Acusado de contrabandear armas para guerras civis sangrentas em diferentes partes do mundo, como Serra Leoa, Libéria, Angola, República Democrática do Congo e Bósnia, ele foi descrito como “um dos homens mais perigosos na face da Terra” por um chefe da DEA (agência de drogas dos EUA). Em meados deste ano, o ex-presidente republicano Donald Trump, acusado por opositores de fazer o jogo político de Putin nos EUA, condenou os esforços para libertar a jogadora, a quem chamou de mimada.
Havia a expectativa de que a negociação que liberou Griner envolvesse também o caso de outro americano preso na Rússia, Paul Whelan, ex-militar detido em 2018 sob acusação de espionagem e condenado em 2020 a 16 anos de prisão, o que acabou não acontecendo.
Whelan foi citado pela mulher de Griner, Cherelle, diante de Biden nesta quinta. “Hoje minha família está em casa, mas, como vocês sabem, muitas famílias não estão”, disse. “Em nome de Britney, continuaremos comprometidos a trabalhar para que cada americano volte para casa, inclusive Paul, que está nos nossos corações hoje”, afirmou.
Biden afirmou que Moscou “está tratando o caso de Paul de uma forma diferente do de Britney”, e que “não vai desistir” de trazê-lo para casa.
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse que “sinceramente gostaria de ter trazido Paul para casa hoje no mesmo avião que Brittney” e que o país não conterá esforços para “trazer Paul e todos os outros cidadãos dos EUA mantidos como reféns ou detidos injustamente no exterior para seus entes queridos”.
Em comunicado, a família de Whelan afirmou que foi informada pelo governo da liberação de Griner antes do anúncio oficial, o que permitiu aos familiares “estarem mentalmente preparados para o que para nós é um desapontamento público e para Paul é uma catástrofe.”

Fonte: FolhaPress