Negócios
Quarta-feira, 24 de julho de 2024

Na Nestlé, o mea-culpa veio em dose dupla

Gigante de alimentos reconhece erro estratégico nas aquisições da Palforzia e da Freshly, que faz kits de refeições

A Nestlé admitiu ter dado passo em falso em duas aquisições e deu início a uma reavaliação de um remédio para alérgicos a amendoim comprado há dois anos por US$ 2,6 bilhões e ao processo de desmembramento de uma empresa de kits de refeições, em um raro reconhecimento de erros de julgamento pelo executivo-chefe Mark Schneider.

A maior processadora de alimentos do mundo comunicou que vai “explorar opções estratégicas” para o Palforzia, um tratamento antialérgico adquirido pela Nestlé na negociação da Aimmune Therapeutics, em 2020.

A reavaliação chega depois de uma “adoção do tratamento mais lenta do que a esperada por pacientes e profissionais de saúde”, que é produzido com pequenas quantidades de pó de amendoim, segundo a Nestlé. A aquisição da Aimmune ampliou a presença da Nestlé na área de origem de Schneider, a de saúde. O executivo chegou à Nestlé vindo da Fresenius, uma empresa alemã de produtos e serviços médicos.

A Nestlé também acertou sua separação da Freshly, uma empresa de kits de refeição comprada em 2020, em transação que avaliou a startup em US$ 950 milhões. A firma foi comprada na era das restrições da covid-19, que impulsionaram um forte aumento nas vendas do segmento, mas que agora perderam força.

A Freshly será combinada com a Kettle Cuisine, fabricante de alimentos de alto padrão pertencente à firma de private equity L Catterton, em transação que deixará a Nestlé com uma participação minoritária.

A Nestlé não divulgou os termos financeiros do negócio, mas informou que a Freshly “não alcançou a escala nem o desempenho que esperávamos” após “mudanças drásticas no cenário de negócios externo”.

A Nestlé anunciou a reavaliação sobre o Palforzia e a fusão da Freshly enquanto realizava um seminário para investidores em Barcelona, mas ressaltou que desde 2018 seu retorno líquido anual com aquisições foi de 11% a 13%, sendo que “uma grande maioria das transações ficou dentro de seus planos de negócios ou os superou”.

Schneider ganhou prestígio na indústria de bens de consumo desde que assumiu o cargo de executivo-chefe da Nestlé em 2017 e iniciou uma mudança que envolveu reorientar 20% da carteira de produtos da empresa para segmentos de alto crescimento.

As ações do grupo desvalorizaram-se 0,8% no início da sessão desta terça-feira, mas recuperaram-se um pouco e eram negociadas quase inalteradas no início da tarde.

A empresa, que produz marcas como Kit Kat, Nescafé e Milo, atualizou a previsão de vendas para o ano nesta terça-feira. Agora, projeta crescimento de 8% a 8,5%, nas vendas líquidas, acima dos 8% estimados em outubro.

O “corte de empresas recém-adquiridas da Nestlé era algo que considerávamos um risco: quando uma empresa avança com velocidade e tenta inovar rapidamente, haverá tentativas que fracassarão”, disse Bruno Monteyne, analista da Bernstein.

A empresa tinha grandes esperanças para o Palforzia, mas agora parece ter se tornado um medicamento de nicho, disse Schneider a investidores. A divisão de ciências da saúde da Nestlé agora se concentrará em bens de consumo e de nutrição médica.

A empresa também estabeleceu novas metas de longo prazo nesta terça-feira. Agora, a Nestlé calcula que voltará a ter uma margem de lucro operacional básico de 17,5% a 18,5% em 2025, depois do impacto provocado em suas operações pela inflação. Também previu que terá um crescimento no lucro básico por ação de 6% a 10% ao ano até 2025.

Fonte: Pipeline Valor