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Sábado, 15 de março de 2025

No banco digital N26, crescer não significa ter pressa

Fintech, que teve uma estreia dura nos EUA, adotou abordagem mais cautelosa para estruturar operação no Brasil e colher dados para “banco sob medida”

Criado na Alemanha em 2015 e hoje com oito milhões de clientes em 24 países, o banco digital N26 desembarcou no Brasil no início deste ano, com a curiosa autodefinição de fincare – uma companhia de “cuidados financeiros”. O banco já tinha ensaiado uma entrada no mercado brasileiro em 2019, mas entre requerimentos regulatórios, prioridades da matriz e pandemia, só agora o potencial cliente brasileiro pode entrar na fila por uma conta.

Na fase inicial da operação, a companhia ainda está identificando quais funções e serviços podem ser mais úteis para o público local, segundo o fundador e presidente Maximilian Tayenthal. O empreendedor conversou com o Pipeline no Web Summit, evento de inovação que termina hoje em Lisboa. Ele afirma que o percentual de população endividada, os juros altos, a desbancarização, a falta de educação financeira e o que ele entende como uma menor competição no mercado (“uma vez que boa parte dos serviços financeiros está concentrada em cinco principais bancos”) são oportunidades para a empresa no Brasil.

A estratégia do banco é entrar “devagar” no país e usar os retornos e dados dos clientes para entender como funciona o mercado por aqui – uma lição provavelmente aprendida após uma estreia sem sucesso nos Estados Unidos há três anos. A proposta de customizar o produto conforme a clientela e mercado já vem sendo uma aposta do N26 em outros mercados, aproveitando que os bancos digitais, em geral, costumam ter uma frequência maior do uso do aplicativo – o que permite que mais informações sejam coletadas.

“É realmente tudo sobre esses dados. Buscamos analisá-los, tirar conclusões significativas a partir deles e, assim, adaptar o nosso produto de acordo com essas informações”, diz Tayenthal. “Quando você acessa o aplicativo de bancos como o Sparkasse (tradicional banco alemão) ou qualquer outro, eles são iguais para todo mundo. Mas a sua página de usuária do Facebook, por exemplo, é muito diferente da minha, assim como sua página na Amazon ou na Netflix. Se você é um cliente com dinheiro parado na conta, então o banco deve enviar um pop-up no aplicativo para lembrá-lo de investir.”

Os tradicionais também fazem isso em suas agências físicas, aproveitando o relacionamento com o cliente para engajamento, reconhece o empreendedor. A questão, emenda, é que em um aplicativo a oferta de serviços e o número de informações que podem ser coletadas são maiores.

Enquanto o banco mapeia quais produtos podem interessar ao público brasileiro, a fintech expande a carteira de produtos na Europa. Recentemente, o N26 incluiu uma plataforma de negociação de criptomoedas em seu aplicativo e quer incluir mais serviços de investimentos na plataforma. A ampliação de portfólio pode viabilizar a proposta da fintech de ser a conta corrente principal do usuário – quando é comum as contas digitas serem complementares a uma conta do bancão tradicional.

Segundo Tayenthal, é justo dizer que o N26 tem atraído clientes dos bancos incumbentes por se posicionar como uma empresa que busca oferecer os mesmos serviços de forma mais simplificada e com taxas menores. Mas avalia que não há um único vencedor que vá tomar todo o mercado – seja novo entrante ou incumbente.

Fonte: Pipeline Valor