Economia
Segunda-feira, 20 de maio de 2024

25 ações dominam os fundos de dividendos – mas algumas estão longe de ser boas pagadoras

Vale (VALE3) e Petrobras (PETR4) se destacam entre as maiores posições, enquanto Lojas Renner (LREN3) e BTG (BPAC11) aparecem como apostas para futuro

Um grupo formado por 25 ações domina as carteiras dos fundos de dividendos. Entre elas, estão empresas tradicionais na distribuição de proventos, como as companhias do setor elétrico CPFL Energia (CPFE3), Engie (EGIE3) e Cemig (CMIG4). Há ainda companhias de commodities, recém-promovidas ao posto de destaques em dividendos, como Petrobras (PETR4).

Mas também constam entre as preferências dos gestores empresas que estão longe de ser vistas como boas pagadoras de dividendos. É o caso de Lojas Renner (LREN3), BTG Pactual (BPAC11) e outras.

A lista de ações mais representativas nas carteiras dos fundos de dividendos foi elaborada pela Economatica, a pedido do InfoMoney. Os dados se referem a 61 fundos identificados nessa categoria. As posições são as que os fundos possuíam em maio de 2022, as mais recentes disponíveis (as gestoras têm prazo de até 90 dias para informar à CVM a composição de suas carteiras). O levantamento considerou tanto fundos disponíveis para os investidores em geral quanto fundos exclusivos – em geral, voltados para fundações de previdência complementar.

Confira a lista completa abaixo:

AçãoTickerDividend yield em 5 anos (mediana em % ao ano)Posição dos fundos de dividendos na ação (R$ mil)*Nº de fundos de dividendos com o papel na carteira
Vale ONVALE38,18695.30627
Petrobras PNPETR44,36595.07623
Itaú Unibanco PNITUB43,49488.23018
B3 ONB3SA34,12253.79822
Bradespar PNBRAP48,88240.27815
Telefônica Brasil ONVIVT37,63225.50524
Banco do Brasil ONBBAS35,99222.02225
Lojas Renner ONLREN31,17214.65517
Itausa PNITSA45,44209.72518
Bradesco PNBBDC43,55204.59721
Equatorial ONEQTL31,99183.07717
Klabin UnitKLBN113,26180.8149
Vibra Energia ONVBBR37,27169.97522
Energisa UnitENGI113,31163.83514
Eletrobras PNBELET64,56148.26210
Bradesco ONBBDC33,62148.03411
BTG Pactual UnitBPAC112,32143.01934
Gerdau PNGGBR42,47125.92419
BB Seguridade ONBBSE37,81124.67321
Weg ONWEGE31,67122.36112
Cemig PNCMIG46,03118.99715
CPFL Energia ONCPFE35,67113.69416
Engie Brasil ONEGIE35,91106.34918
Ferbasa PNFESA47,17105.0936
Tupy ONTUPY31,4099.5234

Fonte: Economatica. Considera a posição dos fundos de dividendos em maio de 2022. Dividend yield calculado até 24/10/2022.

O destaque absoluto fica com as ações da Vale, que somavam uma posição total de R$ 695 milhões mantida pelos fundos de dividendos. Os papéis da mineradora são seguidos pelos da Petrobras, que respondiam por uma posição de R$ 595 milhões. Além de somarem um valor financeiro elevado, elas também estão disseminadas entre os fundos: 27 carteiras possuem VALE3 e 23 têm PETR4.

Não por acaso, ambas são as ações com maior peso na composição do Idiv, índice da B3 que reúne os papéis das empresas com maior pagamento de dividendos nos últimos anos. Juntos, eles representam 12,5% do indicador. Se somadas as ações ordinárias da Petrobras, o número passa de 17%.

As tradicionais empresas do setor elétrico também aparecem na lista, mas com bem menos destaque, assim como algumas small caps tidas como boas pagadoras, caso de Ferbasa (FESA4), que explora ferro-ligas, e Tupy (TUPY3), metalúrgica que fabrica componentes para a indústria automotiva.

Commodities na carteira

Embora estejam distribuindo dividendos polpudos atualmente – VALE3 tem um dos mais altos dividend yields (taxa de retorno com dividendos) dentre as 25 ações identificadas e Petrobras se tornou a maior pagadora de proventos do mundo no segundo trimestre deste ano – alguns analistas questionam se produtoras de commodities são boas alternativas para estratégias focadas em dividendos no longo prazo. Isso porque se trata de um setor cíclico, que ora se beneficia dos preços em alta das matérias-primas nos mercados – e ora sofrem com a queda das cotações.

Rogério Poppe, CEO da ARX, gestora que tem o fundo de dividendos ARX Income, explica que a análise envolve tanto os aspectos macroeconômicos quanto também os micro, relacionados à situação específica de cada ação considerada para entrar no portfólio.

“Tínhamos uma posição na Vale no passado, que reduzimos em 2016, porque a demanda por minério de ferro havia piorado e havia muita produção no mundo por conta do boom de demanda verificado em 2007 e 2008, que levou muitas empresas a investir na exploração”, explica. Entre o fim de 2019 e o início de 2020, no entanto, o fundo voltou a ampliar a exposição à mineradora, dado que a demanda pela matéria-prima dava sinais de recuperação.

Os reflexos do movimento apareceram nas curvas de preços internacionais. O minério de ferro avançou paulatinamente ao longo de 2021, dados os estímulos econômicos lançados por vários países para superar os efeitos da pandemia de coronavírus, até atingir um recorde acima de US$ 200 por tonelada em junho do ano passado. Empresas como a Vale se beneficiaram.

O cenário, neste ano, é diferente, ressalta Poppe. Com a esperada desaceleração da economia da China, que luta para atingir a meta de crescimento de 5,5% estabelecida pelo governo para 2022, o maior consumidor de minério do mundo deve demandar menos o produto. Os preços já baixaram para a casa dos US$ 95 atualmente.

“Hoje temos a ação porque, embora o macro esteja pior, o micro da Vale é bom. No Brasil, o custo de produção é baixo, então qualquer dinâmica favorável para o setor se torna muito positiva para as empresas”, avalia. Nos últimos cinco anos, o dividend yield mediano da mineradora superou 8% ao ano, segundo os dados da Economatica.

Estranhos no ninho

Poppe ressalta que muitos fundos de dividendos adotam como o dividend yield métrica preferencial, senão única, para realizar a seleção das ações que entram na carteira – o que, em sua visão, é um problema. “O fundo pode acabar exposto excessivamente a um setor só”, diz. É o caso das companhias do setor elétrico. Alguns dos dividend yields elevados dentre os papéis mais presentes nos fundos são de empresas deste setor. Pudera: trata-se de companhias robustas e que demandam pouco investimento. O caixa sobra para ser distribuído aos acionistas.

A concentração, no entanto, é um problema quando o inesperado acontece. As sucessivas crises hídricas da última década abalaram as ações do setor todas de uma vez, assim como mudanças regulatórias – a exemplo da renovação antecipada das concessões estabelecida pela ex-presidente Dilma Rousseff em 2012.

Por isso, gestores como Poppe olham não apenas para o histórico ou o pagamento atual de dividendos pelas empresas, mas também para a perspectiva de geração de caixa das companhias no futuro. “Se a empresa está crescendo e consumindo caixa agora, mas tem potencial de parar de crescer e continuar gerando caixa no futuro, pode nos interessar”, explica.

Essa é a lógica para o fundo da ARX – e outras 33 carteiras consideradas no levantamento da Economatica – estar investindo nas ações do banco BTG Pactual, por exemplo. Nos últimos cinco anos, o dividend yield da instituição foi de apenas 2,3% ao ano, considerado baixo perto de outras empresas. Mas há uma explicação. “O BTG está num ciclo de investimento forte, aumentando exposição ao varejo, criando iniciativas digitais”, diz Poppe. Desde o ano passado, a cotação do papel caiu para patamares atrativos, na visão do gestor. “Para frente, vemos que o banco tem uma capacidade grande de geração de caixa, está desalavancado na comparação com os bancos tradicionais e tem oportunidade para crescer na carteira de crédito sem necessidade de capital novo”, diz.

Os papéis também estão na carteira do fundo de dividendos da BB Asset, assim como os de Lojas Renner – que não é um player de dividendos clássico, admite Marcelo Collaço, gestor de fundos de ações. “Estamos no fim do ciclo de alta dos juros, a inflação está mais controlada no Brasil, enquanto há perspectiva de recessão na Europa”, diz. “A expectativa global é mais negativa, enquanto para o Brasil, está mais positiva. Queremos pinçar alguns papéis voltados para o ciclo doméstico brasileiro, e é aí que entra o consumo e o varejo, mas ativos de qualidade”.

Na visão de Collaço, esse é o caso das ações da Renner. O dividend yield não é alto (de 1,17% na mediana dos últimos cinco anos, o menor da amostra levantada pela Economatica), mas a execução da estratégia da empresa é considerada boa e o potencial de geração de caixa, também – ao contrário das companhias de e-commerce, que poderiam ser alternativas no varejo. “Na composição do fundo, buscamos o tema central, que são os dividendos, mas também procuramos agregar ações que possam trazer upside [ganho de capital]”.

As menos populares – mas não menos interessantes

Para alguns gestores, algumas das opções mais interessantes de ações com boas perspectivas de dividendos não constam entre as ações mais populares entre os fundos dedicados.

É o caso dos papéis da TIM TIMS3) e da Alupar (ALUP11), segundo Fernando Luiz, gestor da Trópico Investimentos, que também possui um fundo de dividendos. “Não temos principais apostas na carteira, normalmente investimos em 15 a 20 papéis, mas gosto muito das duas”, diz o gestor.

A TIM ainda deve colher os frutos da compra, em conjunto com a Claro e a Vivo, dos ativos de telefonia móvel vendidos pela Oi, acertada há pouco menos de dois anos. “A operação reorganizou o mercado e vai fazer as três operadoras ganharem muito mais do que antes”, avalia. Luiz projeta que a margem Ebitda (que reflete a geração de caixa operacional da empresa) passe dos atuais 22% para 29% como resultado da aquisição.

“A empresa tem por regra pagar aproximadamente R$ 2 bilhões em dividendos por ano, e já tem R$ 6 bilhões separados para isso”, afirma o gestor. Não se sabe quando a distribuição acontecerá, mas dado que o controlador da empresa (a Telecom Italia) provavelmente demandará recursos dada a recessão prevista na Europa, é de se esperar que haja um estímulo ao pagamento de proventos.

A Alupar, por sua vez, atua no segmento de transmissão de energia, que é regulado e tem receita previsível. “A empresa já tem todas as linhas de transmissão construídas, os leilões [de compra de energia] estão avançados. A partir deste ano, ela já está pagando mais dividendos”, diz Luiz, prevendo um dividend yield na faixa de 12% para as ações nos próximos anos.

Fonte: InfoMoney