Tecnologia
Terça-feira, 23 de julho de 2024

Fabricantes de chips veem queda “impressionante” da demanda

Surgem cada vez mais sinais de que a desaceleração do setor de tecnologia pode ser mais profunda e duradoura do que se temia

Após anos de investimentos recordes, fabricantes de chips têm alertado semanalmente que a demanda está frágil. No mais recente sinal de problemas, a Samsung Electronics e a Advanced Micro Devices divulgaram resultados decepcionantes, com poucas horas de diferença, que ficaram muito abaixo das projeções.

A Samsung – maior produtora de chips de memória do mundo – registrou queda de 32% no lucro operacional, enquanto a AMD, fabricante de processadores para PCs, disse que seu resultado deve ficar US$ 1 bilhão abaixo da previsão divulgada anteriormente. A reação dos analistas foi de surpresa.

Os números vieram na esteira de comentários pessimistas de fabricantes de memória Micron Technologies e Kioxia Holdings, que têm cortado gastos e produção em uma tentativa de estabilizar os preços em queda. Ações de empresas do setor sentiram o impacto, entre elas da AMD, Nvidia e Intel. Papéis de fornecedores de equipamentos de chips, como ASML, e de fabricantes de PCs, como Lenovo, também caíram. A ação da japonesa Disco Corp., cujo equipamento tritura, lustra e corta chips, teve a maior baixa mais de dois anos nesta sexta-feira.

“Parece que a demanda final provavelmente se deteriorou muito nas últimas semanas, e clientes finais podem estar queimando o estoque em ritmo acelerado”, disse Stacy Rasgon, do Bernstein. O corte na receita de clientes da AMD “de fato tira um pouco o fôlego”.

A exceção foi a Taiwan Semiconductor Manufacturing Co., que registrou aumento de aproximadamente 48% na receita trimestral, para cerca de 613 bilhões de dólares de Taiwan (US$ 19,4 bilhões) – no topo do intervalo de sua previsão em dólares – ajudada por seu crescente peso como maior fabricante mundial de chips mais avançados. A tendência de queda da demanda pode não ter sido totalmente refletida nos números, especialmente devido à forte desvalorização do dólar de Taiwan, disse Jeff Pu, analista da Haitong International Securities.

Empresas de eletrônicos de consumo, que enfrentavam escassez durante a pandemia, agora lidam com a queda repentina da demanda, mesmo enquanto custos de envio e matérias-primas permanecem altos. Temores da recessão transformam o corte de custos na nova norma em todo o setor de tecnologia, e empresas que acumularam chips por dois anos agora optam por cancelar ou adiar pedidos e acessar os estoques, justo quando nova capacidade é acionada.

A indústria de semicondutores também é desafiada por restrições de exportação do governo dos EUA, que reforça a pressão sobre aliados para impedir o envio de chips de ponta para uma lista crescente de companhias chinesas, enquanto busca frear o país asiático. Isso tem prejudicado os negócios de fabricantes de chips como AMD e Nvidia no maior mercado de semicondutores do mundo.

A oferta e a demanda não são tudo o que está por trás do atual ciclo de baixa, disse Heo Pil-Seok, CEO da Midas International Asset Management, em Seul. “Os controles de exportação do governo dos EUA limitariam ainda mais as vendas das empresas de TI na China, e uma grande parte da demanda por chips perderá força. Se a AMD e a Nvidia não puderem vender seus chips na China, os lucros dos fabricantes de memória se deteriorarão ainda mais.”

O segmento de PCs, que há anos tem perdido terreno para os smartphones, parece particularmente vulnerável. Mas uma recessão grave afetaria a demanda mesmo em áreas que permaneceram sólidas, como computação em nuvem, automotivo e automação de fábrica.

“Continuaríamos a evitar nomes centrados em PC, que em nossa lista de cobertura incluem AMD, Intel e Nvidia, devido a uma provável queda prolongada para PCs no próximo ano e fraqueza contínua em jogos para consumidores”, escreveram analistas da Baird, Tristan Gerra e Tyler Bomba, em nota os clientes.

Fonte: Exame