Turismo
Quarta-feira, 15 de maio de 2024

Cerveja com bacon, lactose e lagosta; O céu é o limite fora da escola clássica da cervejaria

Fora das Oktoberfest, que celebram os estilos mais clássicos, marcas artesanais ousam com misturas pouco ortodoxas

Para quem gosta do universo da cerveja, outubro é o mês ideal para se jogar nas pesquisas. O que, para na cultura cervejeira significa aproveitar a presença de diversos produtores e suas criações nos festivais para aumentar significativamente a litragem degustada (sempre com moderação, claro) e consequentemente o repertório sensorial e de conhecimentos.

Mas, ao contrário do que muitos podem esperar, as Oktoberfest não são o caldeirão mais fervilhante do mercado. Pelo menos não para quem espera encontrar bebidas muito fora da curva.

“A festa tradicional preza pelas cervejas clássicas, que respeitam a Lei da Pureza Alemã [instituída em 1516 prevendo que só seria classificada como tal as bebidas fabricadas apenas com água, malte de cevada e lúpulo]. As grandes inovações vêm mais dos Estados Unidos”, lembra a beer sommelière Carolina Oda.

O que, teoricamente, deixaria de fora dessas festas cervejas que levem trigo, milho, ou qualquer outro tipo de adição que ajude a criar uma cerveja única ou mesmo um novo estilo dentre os mais de 150 já catalogados em todo o mundo. “Ter uma cerveja com ingrediente inusitado é provocativo, atrai o público”, confessa Daniel Bekeierman, da cervejaria Trilha, que acaba de lançar um microlote batizado Frenesi, que tem na composição amora, beterraba e casca de limão.

Conhecida pelas composições gastronômicas, a marca paulistana já lançou cervejas com cupuaçu, bacuri, açaí e lactose (a triple sours Euforia da Amazônia), uvaia (uma witbier criada com exclusividade para o restaurante Lobozó), cajá (outra witbier, esta feita para a Casa de Francisca) e muitas outras com frutas e legumes, como pepino.

Não há uma regra de qual tipo de cerveja combina melhor com qual tipo de ingrediente. Dependerá muito do resultado que você quer chegar. É muito tentativa e erro”, diz Bekeierman.

Série Euforia Trilha / Tales Hidequi/Divulgação

“Cerveja é uma grande receita de panela. Você pode colocar o que a sua imaginação permitir”, completa Oda. E, assim sendo, o céu realmente passa a ser o limite. Que o digam algumas cervejarias pelo mundo que levaram para seus tanques ingredientes nada convencionais como bacon, jambu, biscoito Oreo, balas tipo jujuba, abacate, tomate ou mesmo bifum.

Foi o caso do microlote Super Sorachi, feito pela Japas Cervejaria em colaboração com a carioca Three Monkeys Beer, que levava o macarrão de arroz e gergelim torrado na composição para gerar uma cerveja de alta cremosidade.

Já a americana 21st Amendment Brewery valeu-se da água de ostra para trazer um toque mais salgadinho para a stout Marooned on Hog Island. Enquanto a Dog Fish, também dos Estados Unidos, a cada verão repete em pequenas quantidades a extravagante porter Chocolate Lobster, que leva lagostas de verdade, adicionadas ainda vivas em seu cozimento.

Jurada frequente em concursos no segmento, Julia Reis, sócia da cervejaria Sinnatrah, está acostumada a experimentar cervejas que fogem à regra. Segundo ela, a nova onda de experimentações caminha mais para a mimetização de sobremesas, o que leva a bebidas com sabor de torta de maçã, crème brulée ou pão de mel, por exemplo, e para a maximização do uso da polpa de frutas, o resulta em cervejas espessas, de cor intensa, que mais lembram um smoothie.

“São receitas que ou levam os ingredientes dos doces na formulação para remeter ao sabor final, ou que chegam a ter 15% a 20% de fruta”, diz ela.

Pão de Mel da cervejaria Trilha / Tales Hidequi/Divulgação

Por geralmente serem feitas em lotes pequenos, experimentais e com prazo de validade curto, dificilmente essas cervejas mais divertidas chegam às prateleiras das lojas especializadas. “É mais fácil encontrá-las nas próprias fábricas artesanais, onde a experiência cervejeira é mais completa e o produto, certamente muito mais fresco”, indica Reis.

Mas, mais lúdico do que ir atrás dessas curiosidades é se arriscar a fazê-las em casa.

“Quando se entende a estrutura do processo de fazer cerveja é possível pirar com o que quiser. Em um microprojeto você pode ousar com ingredientes mais caros que ficariam inviáveis comercialmente”, estimula a especialista, que também dá aulas sobre o assunto.

Se nas Oktoberfest a experiência está muito mais dentro das regras clássicas, a diversão de verdade pode nascer dentro de casa.

Fonte: CNN