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Terça-feira, 23 de julho de 2024

Ri Happy mira os “kidults” e deve faturar R$ 500 milhões com isso

Em junho deste ano, o executivo Ronaldo Pereira Junior, CEO da Ri Happy, estava em Nova York, quando observou uma fila gigantesca na loja da Lego, no Rockefeller Center. O que lhe chamou atenção também foi a grande quantidade de adultos sem criança no local.

Curioso, ele resolveu fazer uma pesquisa informal com os presentes. E, para a sua surpresa, a imensa maioria dos adultos que estava naquela fila iria comprar um brinquedo para si próprio e não para seus filhos ou para dar de presente para alguma criança.

“Aquilo apenas me confirmou uma percepção que eu já tinha: a de que há um mercado grande para adultos que compram brinquedos para eles próprios brincarem”, diz Pereira Junior, ao NeoFeed.

Agora, a Ri Happy está entrando de cabeça neste mercado que é conhecido como “kidults” nos Estados Unidos. A varejista controlada pela gestora SPX/Carlyle está lançando uma linha exclusiva com a Estrela de 10 brinquedos icônicos da década de 1970, 1980 e 1990 para fisgar justamente o público adulto.

Os brinquedos que estão sendo “ressuscitados” são a boneca Rockita, o boneco Falcon Turbocóptero, o cachorrinho Snif, o Aquaplay, Brincando de Motorista, Kit Frit, a boneca Lala e seu cachorrinho Lulu, o jogo Segure se Puder, o avião Vertiplano e o Vira Vira Helicóptero.

Não se trata apenas de um lançamento nostálgico em conjunto com a Estrela. Na verdade, a Ri Happy vai estruturar uma área voltada para os “kidults” em todas as suas 308 lojas a partir de 2023, a exemplo do que faz com o espaço dedicado a produtos para bebês.

É o conceito conhecido como “store in store”. “Será uma unidade de negócios”, diz Pereira Junior. Neste ano, no entanto, a companhia está organizando “corners” dentro dos estabelecimentos para vender os brinquedos retrôs.

A boneca Rockita

Os “kidults” são também um negócio que já nasce gigante dentro da Ri Happy. De acordo com Pereira Junior, as vendas de brinquedos para adultos representaram 12% do faturamento da companhia em 2021. Os itens prediletos desse público são o Banco Imobiliário, os carrinhos Hot Wheels e, como já havia descoberto Pereira Junior em Nova York, os famosos blocos de montar da Lego.

A previsão do CEO da Ri Happy, com a chegada da linha da Estrela, é que a receita de brinquedos para adultos salte para 25% da receita até o fim de 2023. Neste ano, a varejista estima movimentar R$ 2,1 bilhões em todos os seus canais de vendas (lojas próprias, franquias, online e marketplace). Os “kidults”, portanto, nascem com uma receita grande: mais de R$ 500 milhões neste ano.

“Se você olhar para a área de games e de tecnologia, esse é um mercado que faz sentido”, diz Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC). “Tem aquela frase que quando a gente cresce o que muda é o tamanho e o preço dos brinquedos.”

Apesar de ter tido a convicção de que os brinquedos para adultos era um negócio de gente grande em Nova York, Pereira Junior começou a trabalhar na ideia de relançar brinquedos clássicos do passado em 2021. Ele, que é um outsider da indústria de brinquedos (foi CEO da Óticas Carol), ficou emocionado ao ver um filme antigo da Estrela, em uma reunião com fornecedores do setor.

Conversando com os executivos da Estrela, ficou sabendo que eles ainda tinham os moldes dos brinquedos e começou a negociar a volta desses brinquedos vintages que marcaram algumas gerações de crianças. O martelo para o relançamento foi batido no fim do ano passado. E o Dia das Crianças, que acontece dia 12 de outubro, foi a data escolhida para o relançamento.

O plano de Pereira Junior é lançar mais brinquedos exclusivos em 2023. Além disso, a Ri Happy conversa com outros fornecedores, como Mattel e Hasbro, para também relançar brinquedos que marcaram época dessas marcas. O fato de iniciar a área de “kidults com a Estrela, tem um motivo. Nos anos 1970, 1980 e 1990, a companhia brasileira era quase monopolista no País, com uma fatia de mercado na casa dos 80%.

Esse é mais um lance da estratégia de Pereira Junior, que assumiu a Ri Happy em julho de 2020, para tentar reduzir a dependência da varejista de brinquedos para crianças. A companhia desenhou um plano estratégico em que pretende investir em três áreas através de M&As: entretenimento, saúde e educação.

Na primeira área, a Ri Happy tomou a decisão de criar um buffet infantil de festas chamado Divertudo. A companhia também avalia criar áreas “pay to play” em shopping centers, espaços em que crianças ficam brincando enquanto os pais fazem as compras.

Em saúde, a ideia é montar clínicas de vacinas e fazer projetos na área infantil com hospitais. E, por fim, em educação, o plano é oferecer cursos complementares que não sejam ligados à educação fundamental. “Temos vários contratos de NDAs (non-disclosure agreements) assinados”, diz Pereira Junior, referindo-se a essas novas áreas em que pretende atuar.

O executivo, no entanto, ressalta que os esforços, agora, estão agora concentrados nas vendas para o Dia das Crianças, do Black Friday e do Natal, consideradas as datas mais importantes do varejo. “Devemos fazer alguma movimentação no primeiro semestre de 2023”, afirma o CEO da Ri Happy. O plano mais avançado é o de buffet infantil de festas.

Para Terra, a Ri Happy cresceu para as principais capitais de forma acelerada explorando o modelo de lojas. “O core já está ocupado”, diz o presidente da SBVC. “Agora, ela precisa achar novas avenidas de crescimento rentáveis.”

Apesar disso, a Ri Happy não vai abandonar a expansão de suas lojas físicas. Hoje, a empresa conta com 230 lojas próprias e 78 franquias (são 248 Ri Happy e 60 PBKids). Até o fim do ano, mais oito vão ser abertas. Em 2023, o plano é abrir mais 50 lojas, sendo 40 franquias e 10 próprias.

Fonte: Neofeed