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Terça-feira, 23 de julho de 2024

Shein quer provar que fast fashion pode ser sustentável e planeja reduzir 25% das emissões até 2030

Companhia divulga metas ESG para o mercado nesta quarta-feira; maior parte dos objetivos diz respeito a critérios de meio ambiente

A varejista de moda Shein cresceu e apareceu nos últimos anos. Avaliada em mais de US$ 100 bilhões e com investidores como General Atlantic, Tiger Global Management e Sequoia Capital China, a empresa conta com uma cadeia de produção rápida, que permite colocar 10 mil novos produtos à venda por mês. Apesar do sucesso com investidores e com o público brasileiro, a companhia ainda enfrenta questões diante da opinião pública quando o assunto é ESG. De olho em melhorar a percepção nesse quesito, a varejista de moda deu alguns passos relevantes em 2022. O primeiro foi o Relatório de Sustentabilidade, divulgado no início do ano, e, agora, a companhia anuncia um conjunto de metas para o futuro. De modo geral, até 2030, a empresa quer reduzir as emissões totais em sua cadeia de valor em 25%.

A projeção veio a partir de um estudo feito com a Intertek, companhia líder no ramo de auditorias e certificações, para medir o impacto de pegada de carbono. A partir desse trabalho, a companhia desmembrou a meta geral em três objetivos, a serem cumpridos até 2030. Todos já foram submetidos para validação pela Science Based Targets (SBTi). 

O primeiro diz respeito às emissões de escopo 1, que são responsáveis por menos de 0,05% de todas as da companhia. Para 2030, o objetivo é reduzi-las em 42%. O segundo tem a ver com as emissões de escopo 2 (de uso de energia), que também são responsáveis por uma parte ínfima dentro do quadro geral (menos de 0,5%). Dentro delas, o foco é transformar todo o uso de energia da companhia a partir de fontes renováveis nos próximos oito anos. Por fim, as emissões de escopo 3, aquelas geradas pela cadeia de suprimentos e que respondem por 99%, devem ser reduzidas em 25% até 2030. 

No caminho para cumprir essas metas, a companhia vai investir até US$ 7,6 milhões em financiamento de projetos do Apparel Impact Institute (Aii), de olho em construir um plano de redução de emissões dentro da cadeia de suprimentos da empresa. A empresa em questão é uma Organização Não Governamental dedicada a promover a descarbonização e a modernização sustentável da indústria da moda.

O dinheiro será destinado a duas iniciativas da ONG: Carbon Leadership, focado em avaliar e definir metas de carbono, e o Clean by Design, que ajuda as instalações de produção têxtil a reduzir o uso de energia, água e químicos. Caberá à Aii definir uma estratégia focada na implementação de projetos de eficiência energética em mais de 500 instalações parceiras da Shein – um trabalho em conjunto deve gerar redução de 10% nas emissões por ano, de acordo com as estimativas da empresa chinesa.

A varejista de moda também começou a trabalhar com a Brookfield Renewable Partners, empresa líder global de energia renovável e descarbonização, de olho em aumentar o consumo de fontes renováveis. Hoje, a empresa é uma das maiores  proprietárias, operadoras e desenvolvedoras de energia renovável do mundo, com ativos hidrelétricos, eólicos e solares na América do Norte, do Sul, Europa e Ásia. 

O que a empresa já está fazendo

As metas vêm poucos meses depois de a companhia divulgar sua abordagem para os critérios ESG. No relatório divulgado no início deste ano, a Shein afirmou que identificou três pilares para atuar de forma sustentável e de impacto social: proteção ao planeta, apoiar comunidades e fortalecer empreendedores

Ainda no primeiro ponto, o “E” da sigla, a companhia trabalha com a ONG Soles4Souls, para a qual doa aproximadamente 10 mil pares de sapatos por ano nos Estados Unidos. A empresa também afirma que está migrando a produção para materiais mais sustentáveis e que vai aumentar o fornecimento de materiais de fornecedores certificados. Também está aumentando o uso de materiais reciclados. Outras ONGs com a qual trabalha são a Ecologi e a IFAW.

O documento enviado à Exame Invest nesta semana não menciona nenhuma meta relacionada ao lado social ou de condições de trabalho. O que dá para saber, com base no relatório anterior, é que hoje, a empresa tem cerca de 10 mil colaboradores no mundo todo, sendo 58% mulheres e 40% delas em cargos de alta gestão. O que não significa que nenhum passo foi dado. As iniciativas mais concretas relacionadas a esses critérios têm a ver com a assinatura do Global Compact, uma iniciativa da ONU que visa tanto o meio ambiente quanto metas relacionadas a direitos humanos. 

Em relação ao impacto social no entorno, há metas mais claras divulgadas no documento anterior. A The-Light-A-Wish Campaign é descrita como uma das principais atividades filantrópicas para o ano de 2021, por meio da qual a Shein conseguiu doar mais de US$ 500 milhões a projetos sociais.

Por fim, olhando para o objetivo de empoderar empreendedores, a companhia lançou em janeiro o Shein X, uma incubadora que proporciona apoio operacional e financeiro a designers. Em 2021, foram 1,5 mil profissionais apoiados por essa iniciativa e, para 2022, a meta é de 3 mil.

No relatório de sustentabilidade, Adam Whinston, head global de ESG, afirma que esses são os primeiros passos para que a companhia possa se comunicar de forma clara com stakeholders ao longo dos próximos anos. E que informações adicionais serão divulgadas, assim que novas iniciativas forem implementadas. O que a companhia deixa claro, ao menos nesse primeiro momento, é que a maior parte de seus esforços estará direcionada ao impacto ambiental da cadeia de produção. Não é sem razão. Uma matéria da Bloomberg divulgada em julho já apontava os critérios de sustentabilidade como um dos principais empecilhos para os planos de IPO da companhia, com base na tese de que as roupas vendidas seriam frágeis e, portanto, descartadas frequentemente.

Do lado das condições de trabalho — um ponto amplamente mencionado quando o nome da empresa vem à tona — ainda não há mais detalhes de metas ou outros esclarecimentos, ao menos por enquanto. Parece, mesmo, que a Shein quer quebrar o tabu de que “fast fashion” está longe de ser sustentável, antes de qualquer coisa. Os investidores certamente aguardam ansiosos.

Fonte: Exame