Política
Terça-feira, 5 de novembro de 2024

PT cogita reviver regras do PAC como política fiscal

Boa parte do partido apoia essa ideia, muito embora ela não tenha sido bem recebida no mercado, dizem interlocutores

Economistas ligados à campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) avançaram no debate sobre as alternativas que um o petista pretende apresentar para o arcabouço fiscal brasileiro caso ele vença as eleições.

São pelo menos três as ideias debatidas até agora, sendo a mais forte internamente uma semelhante a implementada no segundo mandato do governo Lula para viabilizar investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Ela consiste em dividir o Orçamento entre “orçamento de capital” e “orçamento convencional”. Pelo formato, o “orçamento de capital” englobaria os investimentos prioritários e do governo e, portanto, ficaria de fora das regras fiscais. O modelo é semelhante ao utilizado no PAC com investimentos de infraestrutura, só que agora também seriam agregados a esta rubrica os investimentos sociais.

Boa parte do partido apoia essa ideia, muito embora ela não tenha sido bem recebida no mercado. Dentre os receios, há o de que o debate recaia em uma discussão sobre o que de fato é um investimento social. Por exemplo, se o gasto com custeio do funcionalismo em educação entraria tanto quanto a construção de um hospital.

Também há receio sobre a imprevisibilidade que o formato poderia ganhar, tendo em vista que a relação dívida/PIB ao longo do tempo poderia ser facilmente cambiável, pois novas áreas poderiam ser inseridas ou retiradas a qualquer momento do orçamento de capital.

Uma segunda alternativa em debate, que tem apoio de parte dos economistas ligados à campanha é criar uma regra que controla o gasto, mas cria um espaço para que o valor evolua além da inflação (IPCA), limitado ao crescimento do PIB para não aumentar o tamanho do estado na economia. Essa alternativa já foi levada a agentes do mercado e foi bem recebida. Mas não é a preferida da campanha por avaliar que o espaço fiscal para investimentos pode ser reduzido a depender do crescimento do PIB.

A terceira alternativa na mesa é o retorno ao regime de metas fiscais anterior à PEC do teto de gastos. Sua defesa é minoritária dentre os economistas da campanha por ela ser considerada pró-cíclica, ou seja, se cai a arrecadação é preciso cortar investimentos justamente em um momento em que a atividade econômica está caindo.

Paralelo a esse debate sobre o novo arcabouço fiscal, a campanha também debate a apresentação de uma proposta de emenda constitucional que acabe com a regra do teto de gastos e permita abrir um espaço fiscal no Orçamento de 2023 para que o eventual novo governo possa, de cara, ter recursos para programas sociais e investimentos em infraestrutura. A solução por uma PEC tem por objetivo evitar que o novo governo incorra em crime fiscal.

A partir daí, surgiram nos debates internos diversas dúvidas sobre essa PEC. Primeiro, seu alcance: ela deve abrir espaço para gastar algo em torno de R$ 70 bilhões ou R$ 100 bilhões, suficiente para custear por exemplo o novo Auxílio Brasil –ou se deve ser mais ousada e permitir que o novo governo gaste mais que o dobro disso, algo em torno de R$ 250 bilhões, podendo abranger além dos gastos sociais também gastos com infraestrutura.

Também há dúvida se seria melhor já iniciar a negociação dessa PEC durante a transição entre outubro e a posse no dia 1 de janeiro –o que implicaria negociar com o atual presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) –ou se se aguardaria a nova composição das Mesas Diretoras da Câmara e do Senado, a ser eleita apenas em 1 de fevereiro de 2023.

Um terceiro debate interno permeia essa PEC: ela deve ser apresentada já com o que viria a ser um novo arcabouço fiscal –por exemplo, com uma das três propostas acima citadas– ou seria melhor debater as nas regras fiscais ao longo de 2023 para serem implementadas a partir de 2024? Nas consultas que vem sendo feitas com agentes do mercado, o ideal seria que a PEC abrisse um espaço fiscal em 2023 reduzido (cerca de R$ 100 bilhões) e que junto a ela fosse já apresentadas as novas regras fiscais.

De qualquer modo, a leitura interna é de que qualquer decisão, tanto sobre o modelo fiscal quanto sobre o tamanho do impacto da PEC no Orçamento, deverá vir acompanhada de uma análise de conjuntura política e o respeito ao jogo de forças que sairá das urnas, em especial o novo Congresso. E claro, depende da vitória de Lula.

Fonte: CNN