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Segunda-feira, 22 de julho de 2024

Quem é o bilionário por trás da Oppo, gigante de smartphones que chega ao Brasil

A Oppo, quarta maior fabricante do mundo em vendas de smartphones, anunciou hoje o início de sua operação no Brasil para concorrer com empresas como Samsung, Motorola, Apple e Xiaomi, revela o Valor Econômico. A empresa estreou no mercado latino-americano com início de operação no México, e também já anunciou a entrada em Chile e Colômbia.

Mas pouco ainda se conhece por aqui da companhia – e de seus donos. Fundada em 2004, a Oppo lançou primeiro um MP3 e seu primeiro celular veio só em 2008 – já smartphone, em 2011. A expansão internacional da marca começou no ano seguinte, pela Tailândia, e hoje está em 60 países, com os aparelhos de telefone e aparelhos de áudio e vídeo.

A Oppo é uma controlada do grupo BBK Electronics, do discreto e bilionário empresário Duan Yongping, de 61 anos. Ele faz poucas aparições públicas, já que considera eventos sociais cansativos e uma perda de tempo – diz que há poucas amizades que valem ser feitas e que prefere usar as horas livres para jogar golfe.

Até o início da década de 90, o engenheiro eletrônico era funcionário de uma fábrica estatal de válvulas, e também cursou economia em paralelo. Com as primeiras movimentações mais liberais da China capitalista, Yongping assumiu uma planta de eletrônicos praticamente quebrada e reestruturou o negócio com o lançamento de um console de jogo, com campanhas estreladas por Jackie Chan.

Yongping tinha ouvido falar no sucesso do Famicom da Nintendo nos Estados Unidos e no Japão, mas o modelo da marca ainda era pouco acessível na China – o Subor praticamente o copiava, mas era bem mais barato. Apesar do sucesso do aparelho, a companhia não deu muito espaço para outras ideias de Yongping e ele resolveu abrir o próprio negócio, originando a BBK.

A venda de aparelhos de CD e DVD rendeu uma fortuna ao empresário, que no início dos anos 2000 se mudou com a família para Califórnia para se dedicar a investimentos e filantropia. Era uma promessa sua à esposa se mudarem para “a América” e seu forte interesse em ações também motivava (leitor ávido das cartas de Warren Buffett, ele pagou US$ 620 mil para ganhar o leilão de um almoço com o megainvestidor em 2006).

Mas o “sossego” não durou muito. A indústria foi disruptada por novos aparelhos e tecnologias, como os smartphones. As rivais Huawei e Coolpad tiravam milhões e milhões de vendas de áudio e vídeo da BBK.

Yongping e seu braço direito, o executivo Tony Chen, resolveram tentar a briga antes de jogar a toalha de vez, e lançaram a marca Oppo – o que explica porque Chen, CEO da Oppo, é apontado frequentemente como o fundador. Já a marca Vivo, uma outra potência na categoria, foi lançada pela BBK anos depois, sob comando de outro executivo de confiança do empresário, Shen Wein.

A estrutura societária da BBK e da Oppo não é muito clara. Não se sabe se Tony Chen é sócio na Oppo ou diretamente na BBK.

Apesar de serem marcas irmãs, Oppo e Vivo se comportam como rivais, disputando market share e se opondo em campanhas publicitárias. A BBK também detém outras marcas de smartphones, como Oneplus, Realme e IQOO.

Segundo o site especializado Asia Markets, o empresário costuma delegar: se encontrou um executivo ou mesmo sócio competente para tocar um negócio, destina seu tempo a outras coisas, mantendo-se como chairman da BBK – um perfil distinto não só da média dos bilionários de tecnologia, mas também dos empresários asiáticos de forma geral.

Apesar de fugir dos holofotes, ele é acessível para empreendedores que buscam seus conselhos, como Huang Zheng, o fundador da Pinduoduo (o empresário levou Zheng para acompanhá-lo no almoço com Buffett).

Numa conversa com estudantes de Stanford, em 2018, Youngping disse que uma de suas bússolas é criar uma lista do que não fazer, referindo-se à cultura da Apple sobre uma “Stop Doing List”, com os aprendizados profissionais e pessoais. “Resistir a fazer a coisa errada é mais importante do que fazer a coisa certa”, disse ele.

O empresário se orgulha de ter dificultado a vida da Apple no mercado chinês, com produtos mais competitivos, mas admite ser um admirador da marca e ter se espelhado nela. Em uma rara entrevista à Bloomberg anos atrás, o empresário disse ter encontrado várias vezes Tim Cook em eventos e reuniões, mas não tinha certeza se o CEO Apple sabia quem ele era. Yongping também investe em ações da concorrente americana – para alguns uma espécie de hedge, para ele, um investimento em uma companhia extraordinária, seja de que setor for.

Buffett e Duan Yongping, em 2006: dono das marcas Oppo e Vivo comprou almoço com investidor — Foto: Reprodução

O Brasil é o quinto maior mercado de celulares do mundo e a última grande novidade por aqui na disputa de marcas foi em 2015, com a chegada da também chinesa Xiaomi. Segundo o Valor, a Oppo chega ao mercado brasileiro com o lançamento de um smartphone intermediário compatível somente com redes 3G e 4G, embora as redes 5G tenham estreado no país no início do mês e a linha Reno7 da Oppo já possua uma versão 5G vendida em outros países.

A princípio, os aparelhos da Oppo vendidos no Brasil serão importados da China e a empresa não informou sobre a intenção de fabricação local. Pode ser que a Oppo só queira sondar o terreno primeiro, já que em conferências Tony Chen destaca a relevância da tecnologia 5G na estratégia da marca, como mais de 2 mil patentes e aplicações registradas pela empresa para esses padrões.

Fonte: Pipeline Valor