Negócios
Sexta-feira, 17 de maio de 2024

Favo encerra operação no Brasil e demite 170 funcionários

Favo acaba de anunciar a interrupção de suas operações no Brasil. Em mais um reflexo da virada global do cenário para as startups, a plataforma de supermercado online com foco na classe C vai atender aos pedidos feitos até o dia 30 deste mês – para representantes com menos de cinco clientes, o atendimento já foi encerrado. Ontem, 170 funcionários foram demitidos.

“Estamos muito tristes. Não é uma decisão fácil. Pela parte prática, dos negócios, claro, mas também por todas as pessoas envolvidas. Mas estamos transformando esse sentimento em atitude”, disse a cofundadora Marina Proença ao Pipeline. “Faremos de tudo para que não seja um ‘adeus’, mas sim um ‘até breve’. Não vejo a hora de te ligar para contar que estamos de volta”. O plano da Favo é retomar as operações no início de 2023.

Uma série de startups tem feito ajustes nas últimas semanas, visando preservar caixa e margem. Ontem, foi a 2TM, grupo controlador da Mercado Bitcoin, que demitiu 90 funcionários, numa lista que já tem nomes como Vtex, Quinto Andar e Facily. As companhias também têm feito ajustes de estratégias.

Cerca de 20% da força de trabalho da Favo já havia sido realocada para a operação no Peru, onde as atividades da empresa continuam normalmente. Dos 500 colaboradores na folha de pagamento da Favo, 320 permanecem. Os times de tecnologia, produto e dados, não só foram preservados, como devem crescer nos próximos meses, visando fortalecer o negócio peruano. Os funcionários trabalham remotamente.

A companhia diz também vai ajudar a negociar a contratação dos mais de 7 mil representantes comerciais, por outras plataformas de ecommerce e concorrentes do segmento — já estão acontecendo reuniões com a Muni, talvez a mais semelhante em modelo de negócio.

São os parceiros que distribuíam localmente os produtos que saem dos centros de distribuição em São Paulo, Salvador e BH, por uma comissão variável entre 7,5% a 15%. Esse grupo, no entanto, não tinha exclusividade com a Favo e um pequeno percentual depende inteiramente da renda ligada à empresa – muitos atuam também com Facily, a própria Muni e Natura. A companhia tenta a recolocação também dos cerca de 45 entregadores.

Em outubro passado, a startup levantou R$ 141 milhões numa rodada liderada pela Tiger. Também atraiu o fundador do Nubank, David Vélez, e de Kevin Efrusy, um dos primeiros investidores do Facebook.

Mas, desde janeiro deste ano, a pressão nas contas aumentou. A Favo vinha tentando melhorar as margens e ganhar eficiência com investimento em tecnologia e estratégia de vendas e logística, mas o cenário macro não ajudou.

A classe C, principal público da Favo, gasta cerca de 30% de sua renda com alimentação — toda economia conta. Na plataforma, o consumidor podia encontrar preços 15% abaixo do mercado tradicional, mas o desconto não foi suficiente na crise. O tíquete médio caiu e o consumidor passou a fazer trocas constantes de marca, em busca de menor preço, trazendo desafio para o mix dos estoques.

O plano da Favo, alinhado com investidores, é fortalecer a operação no Peru, onde a startup acaba de abrir um segundo centro de distribuição. Enquanto isso, a plataforma planeja testar novos modelos para o Brasil, com a comercialização de outros produtos e serviços, como cursos e viagens, mantendo o modelo de representantes.

“O custo logístico no Peru é muito menor, a gente vende mais, é um ecossistema mais equilibrado e não tem a concorrência que tem aqui. A ideia é amadurecer bem e conquistar a América Latina, independentemente de provar os modelos aqui”, diz Proença, que já foi COO do ClickBus.

Fundada em 2019 pela empreendedora e Alejandro Ponce, a companhia foi inspirada nas plataformas de social commerce chinesas, como Meituan e Pinduoduo.

Fonte: Pipeline Valor