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Segunda-feira, 29 de abril de 2024

Dólar vai a R$ 4,81 com exterior no radar; Ibovespa vai abaixo de 112 mil pontos

Moeda americana é impulsionada globalmente por apostas em maior agressividade do banco central dos EUA em seu aperto monetário, enquanto o noticiário político local elevava a cautela de investidores

dólar subia mais de 4% em relação ao real, batendo nos R$ 4,81, pouco depois das 15h30 desta sexta-feira (22), fazendo com que a moeda brasileira tivesse o pior desempenho global no dia.

Já o Ibovespa tinha queda de cerca de 2%, operando perto dos 111 mil pontos, no mesmo horário.

Investidores reagiam à perspectiva cada vez mais provável de endurecimento da postura de política monetária do Federal Reserve derrubando ativos de risco em todo o mundo.

Somava-se ao cenário externo arisco a cena política doméstica de novos atritos entre o presidente Jair Bolsonaro e o Supremo Tribunal Federal (STF).

A alta da moeda americana deixa no radar uma saída de capital estrangeiro do Brasil devido à aceleração dos juros nos EUA, queda das ações brasileiras no mercado estrangeiro e desvalorização dos juros futuros, diz Bruno Madruga, chefe de renda variável e sócio da Monte Bravo Investimentos, em entrevista à CNN.

Na B3, Vale e Petrobras eram as principais contribuições negativas para o principal índice da bolsa, enquanto, em percentual, um forte recuo da Eletrobras estava entre os destaques da sessão, refletindo a decisão do Tribunal de Contas da União (TCU) após o fechamento do mercado na quarta-feira.

No Brasil, o foco também estava na política monetária, após declaração do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, enquanto cena política voltava ao radar.

Na última quarta-feira (20), o Ibovespa fechou em queda de 0,62%, aos 114.343,78 pontos. Já o dólar registrou desvalorização de 1,03%, cotado a R$ 4,618.

Fed

Com relação ao Ibovespa, “parece ser mais um ajuste ao fato do mercado ter ficado fechado aqui na quinta-feira”, diz Lucas Monteiro, operador de multimercados da Quantitas, citando fala de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed).

O presidente do Fed afirmou na quinta-feira que um aumento de 0,5 ponto percentual nos juros estará “sobre a mesa” quando o Fed se reunir em maio, acrescentando que seria apropriado “agir um pouco mais rapidamente”.

O comentário – que consolida a ampla expectativa de que o banco central norte-americano intensificará a dose de aperto monetário diante da inflação mais alta em quatro décadas – levou o índice do dólar contra uma cesta de rivais fortes a tocar uma máxima em 25 meses nesta sexta-feira, enquanto várias divisas arriscadas pares do real, como rand sul-africano, dólar australiano e peso mexicano, caíam entre 0,7% e 1% no dia.

“A visão de que o Fed deve apertar o passo, que foi sustentada pelas autoridades mais hawkish no início, passou a ser amplamente aceita. Com isso, o mercado já precifica pelo menos três altas de meio ponto (nos juros) nas próximas reuniões”, disse a XP em nota.

Juros mais altos nos EUA elevam a atratividade de se investir na extremamente segura renda fixa norte-americana, o que tende a aumentar o ingresso de recursos na maior economia do mundo e, consequentemente, beneficiar o dólar.

Eletrobras

Fontes do Planalto e do Ministério da Economia disseram à CNN que o governo considerou que foi derrotado com o adiamento pelo Tribunal de Contas da União (TCU) do julgamento do processo de privatização da Eletrobras por 20 dias, mas não desistiu de vender a estatal.

Como o próprio ministro Vital do Rego antecipou à CNN na terça-feira (19), ele pediu vista por 60 dias. Mas durante a sessão houve uma negociação com outros ministros que consideraram o prazo muito extenso e ele acabou aceitando que o período de vista durasse 20 dias.

Com isso, o processo só deve voltar à pauta da corte de contas no dia 11 de maio, o que torna inviável que o cronograma inicial seja estabelecido.

Ao mesmo tempo, em visita à Índia, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, disse nesta sexta-feira (22) que o governo continua planejando capitalizar a Eletrobras neste ano.

“Acredito que a decisão do TCU sobre Eletrobras foi avanço no processo, porque o relator apresentou seu voto e os demais ministros debateram. O cronograma para capitalizar a Eletrobras era até o fim de abril, mas esse atraso de 20 dias levará a um ajuste”, afirmou em entrevista coletiva virtual.

Noticiário político

Na véspera, feriado de Tiradentes que manteve os mercados locais fechados, o presidente Jair Bolsonaro anunciou um decreto concedendo perdão ao deputado Daniel Silveira por meio de uma “graça constitucional”, um dia após o Supremo Tribunal Federal condenar o parlamentar pelos crimes de coação no curso do processo e atentado ao ​Estado Democrático de Direito. A medida, vista por muitos como uma afronta ao STF, tem potencial de abrir nova crise com a cúpula do Judiciário.

Fernando Bergallo, diretor de operações da assessoria de câmbio FB Capital disse acreditar que, embora “indesejável”, a tensão política não está fazendo preço no mercado de câmbio local, que reflete principalmente os temores de juros mais altos nos Estados Unidos, e afirmou que o mercado já esperava alguma recuperação do dólar mesmo antes da escalada das tensões entre Bolsonaro e o STF.

Isso porque, na última sessão, na quarta-feira, a moeda norte-americana à vista fechou em queda de 1,03%, a 4,6186 reais na venda, maior desvalorização percentual desde 4 de abril. É comum, após oscilações expressivas, haver ajustes no preço da divisa.

Wall Street

As ações dos Estados Unidos recuavam nesta sexta-feira devido a balanços corporativos mistos, com papéis de crescimento sob pressão em uma semana marcada pelo salto dos rendimentos dos títulos graças a expectativas de juros mais altos.

Todos os 11 principais setores do índice S&P 500 cediam e as ações de saúde tinham a maior queda depois que uma previsão de lucro pessimista da HCA Healthcare fez seus papeis perderem 16,7%.

Por volta das 13h38, horário de Brasília, o índice S&P 500 perdia 1,72%, a 4.318,05 pontos, enquanto o Dow Jones caía 1,48%, a 34.278,24 pontos. O índice de tecnologia Nasdaq Composite recuava 1,56%, a 12.969,41 pontos.

Ações na Europa

As ações europeias fecharam em mínimas em quase um mês nesta sexta-feira, conforme uma combinação de fatores negativos como o lockdown contra a Covid-19 na China e preocupações com altas rápidas dos juros abalavam o sentimento globalmente.

O índice pan-europeu STOXX 600 fechou em queda de 1,79%, a 453,31 pontos, seu resultado mais fraco desde 25 de março.

O setor de recursos básicos, que abriga mineradoras globais como Glencore e Rio Tinto, despencou 3,6% após os preços dos metais serem atingidos pelas medidas de restrição contra o coronavírus na China.

Em geral, os papéis mundiais atingiram mínimas em cinco semanas, enquanto investidores temem que as rápidas elevações das taxas de juros nos Estados Unidos, Reino Unido e zona do euro, devido à inflação crescente, pesarão sobre o crescimento econômico.

O chair do Federal Reserve, Jerome Powell, afirmou na quinta-feira que um aumento de 50 pontos-base “estará na mesa” quando o banco central dos EUA se reunir em 3 e 4 de maio, enquanto o Banco Central Europeu provavelmente subirá os juros antes do final do ano, disse a chefe da instituição, Christine Lagarde à CNBC nesta sexta-feira.

Fonte: CNN