Internacional
Segunda-feira, 22 de julho de 2024

O que se sabe sobre a situação em Mariupol

Sofrimento dos civis na cidade portuária no sudeste ucraniano é enorme, em meio a mortes e destruição de infraestrutura. Qual é a importância de Mariupol para os invasores russos? DW explica.Após dias de bombardeios ininterruptos pelo exército russo, Mariupol prossegue com a maior operação de evacuação desde que foi sitiada, há cerca de duas semanas. Segundo a prefeitura local, mais de 2 mil veículos deixaram a cidade portuária nesta terça-feira (15/03).

Na véspera, a mesma fonte registrara, no serviço de mensagens instantâneas Telegram, a saída de 160 carros particulares em direção a Berdyansk. Segundo a vice-primeira-ministra da Ucrânia, Iryna Vereshchuk, as autoridades esperam abrir nove corredores humanitários, tanto para evacuar como para prestar assistência aos civis.

Há mais de uma semana, a população vem tentando repetidamente deixar Mariupol. As tentativas de abrir um corredor humanitário falharam diversas vezes, pois as tropas invasoras continuaram a bombardear áreas residenciais densamente povoadas.

Autoridades russas alegam que grupos radicais ucranianos teriam violado o cessar-fogo acordado, e que os cidadãos estavam sendo usados como escudos humanos. No entanto o Conselho de Segurança acusou a Rússia de romper o acordo com fins humanitários. Agora algumas estradas estão abertas para veículos civis.

Sofrimento e mortes de civis

Desde o início da invasão pelas tropas de Vladimir Putin, em 24 de fevereiro, registraram-se mais de 2.500 mortes em Mariupol, informou Oleksiy Arestovych, assessor do gabinete do presidente Volodimir Zelenski. Organizações internacionais não puderam confirmar a cifra, já que a cidade no sudoeste do país permanece inacessível, sem serviços de internet nem de telefonia móvel.

Ainda assim, as poucas fotos e vídeos vazados narram histórias atrozes. Fotos de uma grávida coberta de sangue, sendo retirada dos destroços numa maca, desencadearam uma onda de condenação. Depois de sobreviver ao ataque aéreo a uma maternidade, que deixou três mortos e 17 feridos, ela e o bebê sucumbiram aos ferimentos, poucas horas antes de o corredor humanitário ser finalmente aberto.

No domingo, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha alertou que os residentes de Mariupol estão se defrontando com “o pior cenário possível”: “Cadáveres de civis e combatentes continuam presos sob os destroços ou jazem a céu aberto, lá onde caíram. Ferimentos com sequelas graves e condições crônicas, debilitantes, não podem ser tratadas. O sofrimento humano é simplesmente imenso.”

O número de mortos continua a aumentar, forçando as autoridades municipais a sepultarem as vítimas em valas comuns. Em imagens divulgadas na última quarta-feira pela agência de notícias Associated Press, ucranianos depositam em trincheiras corpos envoltos em pano ou plástico. Quem sobreviveu ao bombardeio ficou vários dias sem gás, eletricidade nem água potável.

Por que Mariupol?

Devido a sua localização estratégica, a poucas dezenas de quilômetros das fronteiras terrestre e marítima da Rússia, Mariupol tem sido um dos alvos principais da guerra iniciada pelo Kremlin contra a Ucrânia.

Com mais de 400 mil habitantes, a cidade portuária fica entre os territórios no Donbass, ocupados por separatistas pró-russos, e a península da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014. Caso tome a cidade, Putin poderá criar um corredor entre seu país, o Donbass e a Crimeia, assumindo controle total do Mar de Azov.

Mariupol é também economicamente importante: suas duas usinas siderúrgicas, a Illich e a Azovstal, são responsáveis por uma parcela importante da produção de aço ucraniana. Em maio de 2014, quando irrompeu a guerra na área de Donbass, tropas pró-russas expulsaram as forças locais, porém a Ucrânia retomou a cidade um mês mais tarde.

Um dos protagonistas na recaptura, na época, foi a milícia de extrema direita Batalhão Azov, que desde então estabeleceu em Mariupol sua base principal. As forças russas e pró-russas têm tentado enfatizar a presença de grupos ultradireitistas na Ucrânia, a fim de rotular o país como “neonazista”.

Tendo fracassado na recaptura de Mariupol, as tropas de Moscou intensificaram o bombardeio e o sítio, provocando uma catástrofe humanitária. Caso Putin adote táticas similares para tomar cidades maiores, como Kiev e Dnipro, o resultado deverá ser ainda mais dramático.

Fonte: Deutsche Welle