Internacional
Sábado, 4 de maio de 2024

Com Gabriel Boric, ex-líderes estudantis assumem mudança no Chile

O esquerdista Gabriel Boric assumirá a presidência do Chile nesta sexta-feira(11), na mudança de comando mais desafiadora desde que o país reconquistou a democracia em 1990. E fará isso junto com seus colegas do movimento estudantil, que expôs, em 2011, as deficiências sociais de um modelo econômico bem-sucedido.

Com Camila Vallejo, de 33, e Giorgio Jackson, de 35, porta-voz do novo Executivo e ministro encarregado das relações com o Parlamento, respectivamente, eles foram em 2011 os rostos de vinte e poucos anos que enfrentaram o primeiro governo de Sebastián Piñera (2010-2014) para denunciar a educação desigual e cara e exigir sua gratuidade e um ensino de qualidade.

O governo de Boric, de 36, marca a coroação de uma mudança geracional na política chilena, materializada em 2017 com o surgimento da coalizão de esquerda Frente Ampla e a entrada no Congresso de dois de seus líderes, Boric e Jackson, e também Vallejo, do Partido Comunista.

O futuro presidente quis mostrar, desde a nomeação de sua equipe, a marca que pretende dar ao seu governo: um gabinete majoritariamente feminino (14 mulheres, de um total de 24 ministérios), no qual a média de idade é de 42 anos.

“Hoje, um novo capítulo começa a ser escrito em nossa história democrática. Não estamos começando do zero, sabemos que existe uma história que nos eleva e nos inspira”, disse Boric em 21 de janeiro passado, ao anunciar seu gabinete.

Pela primeira vez, uma mulher, Izkia Siches (36), chefiará o Ministério do Interior, responsável pela segurança pública. Segundo pesquisas, este é um dos temas que mais preocupam os chilenos.

Entre as mudanças no país onde o poder político e econômico costuma ser controlado por uma elite, ele nomeou Luz Vidal (48), ex-empregada doméstica e sindicalista, como vice-ministra da Mulher e da Igualdade de Gênero.

“Boric começa com um clima favorável da opinião pública, graças a todo capital político que conquistou nas eleições e com a nomeação de seu gabinete”, disse à AFP Marco Moreno, da Universidade Central do Chile.

“Estou orgulhosa do que o Chile fez, dos cidadãos, da mobilização social, das organizações, do que temos trabalhado com Gabriel, com Giorgio, com Izkia e outros colegas do mundo feminista e da luta social”, disse Vallejo.

Fraco apoio no Congresso

O novo governo chega com pouco apoio no Parlamento. Apenas 37 deputados em uma câmara de 120 assentos, e cinco senadores de um total de 50, compõem a nova aliança oficial formada pela Frente Ampla e pelo Partido Comunista.

Também deve contar com o apoio do Partido Socialista, mas não será suficiente para obter uma maioria mínima no Legislativo.

A juventude de Boric gera esperanças, mas são grandes os desafios para seus quatro anos de governo. Sua limitada experiência política gera desconfiança na direita e na esquerda radical sobre se ele conseguirá realizar as mudanças sociais que promete.

“Boric tem o desafio de avançar na gestão dos problemas sem destruir sua coalizão de governo, que já está sob tensão devido às diferentes sensibilidades que nela coexistem”, disse à AFP Marcelo Mella, cientista político da Universidade de Santiago do Chile.

– Altas expectativas –

Um dos desafios políticos enfrentados por Boric é que ele pode se tornar o último presidente a assumir o cargo sob a Constituição de 1980, elaborada durante a ditadura de Pinochet (1973-1990), e o primeiro sob a nova Carta Magna que poderá ser escrita neste ano pela Assembleia Constituinte, um processo que ele apoia incondicionalmente.

A esperança entre os chilenos que apoiaram o surto social de outubro de 2019 se concentra em lançar as bases para um Estado mais forte e que garanta os direitos sociais em um país onde 1% da população detém 26% da riqueza.

Em sua promessa de estabelecer um estado de bem-estar social ao estilo europeu, Boric enfrenta três legados do governo que agora termina, de Piñera: um orçamento que cortou os gastos públicos em 22,5%, uma desaceleração da economia estimada para 2022 e a inflação que em 2021 fechou em 7,2%.

Migração e luta indígena

Soma-se à lista de “urgências” a incessante chegada de imigrantes pela porosa fronteira com Peru e Bolívia e, no sul, um conflito histórico não resolvido com comunidades mapuche, marcado por repetidos atos de violência e mortes.

Essas questões, assim como a segurança pública, são problemas que se arrastam há mais de uma década e agora pioraram.

Fonte: AFP