Economia
Sexta-feira, 17 de maio de 2024

Startup que une tecnologia e parto humanizado abre clínica em São Paulo

Ter um filho no Brasil de forma humanizada ainda é para poucas. Mais de 50% dos nascimentos no país ocorrem via cesárea, taxa que sobe para 86% no setor privado. A OMS considera normal uma taxa de até 15%. Foi para mudar essa realidade que as empreendedoras Paula Crespi e Flavia Deutsch criaram a Theia, serviço especializado na saúde da mulher, com atenção especial para a maternidade e foco no atendimento humanizado.

“A ideia vem do nosso desejo de construir soluções que mudam positivamente o mundo para as mulheres. Esse é um mercado gigante e mal assistido e queremos reescrever essa história”, afirma Deutsch.

Fundada em 2019, a Theia atende a mulher desde quando ela deseja engravidar, no pré-natal e durante o trabalho de parto. Depois, faz um acompanhamento pós-parto. “O modelo vigente hoje tira o protagonismo da mulher nesse momento tão especial, muitas vão para a cesárea sem complicações médicas. Estamos focadas em garantir o direito de escolha da mulher”, afirma Deutsch.

A Theia funcionava até agora como site e aplicativo, com 30 especialistas de saúde. Apesar de todos fazerem parte da Theia, cada um atendida em um consultório diferente, além das consultas via telemedicina. Agora, a startup inaugura sua primeira clínica, na região da avenida Angélica, em São Paulo.

O espaço de 150 metros quadrados vai oferecer atendimento de ginecologia, obstetrícia, pediatria, fisioterapia pélvica e enfermeira obstétrica. “A clínica fi pensada nos detalhes para sintetizar nossa essência de ser um local de acolhimento e inclusão, que coloca a mulher em um lugar de força. Aqui não essa história de mãezinha, ser mãe é uma potência”, afirma Deutsch.

O modelo de clínica que oferece atendimento humanizado para gestantes não é novo e vem se disseminando à medida em que mais mulheres buscam uma alternativa à cesárea eletiva. O diferencial da Theia é unir abordagem humanizada e tecnologia, com o objetivo de ganhar escala. A ideia é ampliar o acesso para um tipo de tratamento que hoje fica restrito a quem pode pagar – e caro. “Não queremos ser uma boutique para os poucos que podem pagar. Queremos que seja possível para um público maior”, afirma Crespi.

Por isso, além do atendimento com diversos especialistas, a Theia possui um aplicativo por onde a paciente faz o agendamento de consultas e pode acompanhar sua gestação semana a semana. Também desenvolveu internamente um prontuário eletrônico focado exclusivamente no momento de vida da maternidade. Isso faz com que diferentes especialistas tenham acesso às informações da gestante e possam atuar de forma integrada.

Outra ferramenta usada para o ganho de escala é a análise de dados, que permite que a equipe da Theia interfira com mais antecedência em casos como pré-eclâmpsia ou diabetes gestacional. “Usamos tecnologia para que a mulher receba todas as informações necessárias no momento certo. A ideia é depender menos de o profissional certo estar no dia certo e olhar o exame com atenção”, afirma Crespi.

Ao entrar no site da startup, a mulher encontra programas como o Theia Gravidez, um pacote que inclui consultas com obstetra, nutricionista, fisioterapeuta pélvica, psicóloga, pediatra, dentre outros. Também é possível fazer o parto com os profissionais da clínica, que atendem nos hospitais Santa Joana, Pro Matre, São Luiz e Einstein, todos em São Paulo.

Por enquanto, a Theia atende apenas no particular. Mas já está em negociação com planos de saúde e deve começar a aceitar carteirinha em breve. O objetivo da startup é atuar cada vez mais como parceria dos planos de saúde. A clínica recém-inaugurada em São Paulo é primeira da healthtech, mas a expansão para mais unidades está no radar.

Já foram mais de mil atendimentos realizados, para um público de mulheres de alta renda em sua maioria com mais de 30 anos, sendo 65% gestantes e 35% tentantes. O crescimento é de cerca de 40% ao mês e a meta é chegar a 15 mil atendimentos até o final do ano.

Mulheres e tecnologia

Paula Crespi e Flavia Deutsch se conheceram em um MBA na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos. Saíram de lá e foram trabalhar em fintechs. Naquela época já se incomodavam com a falta de mulheres fundadoras de startups e tinham o plano de montar algo juntas no futuro. “Sempre tive essa visão de fazer algo para mulheres usando tecnologia. Me chamava a atenção que, na nossa turma do MBA, muitos homens saíram para empreender, mas as mulheres em geral foram ser braço direito de founders”, diz Crespi.

Quando Deutsch teve seu segundo filho, sentiu que era hora de tirar o projeto do papel. “Meu segundo filho veio para chacoalhar minhas bases e me fez refletir sobre o que eu queria deixar como legado”, diz. Ela chamou Crespi para uma conversa e as duas passaram a desenhar o projeto. Logo, Crespi descobriu que estava grávida do primeiro filho.

Em 2019, a Theia captou um investimento de 7 milhões de reais, liderado pelo fundo de investimentos Kaszek Ventures (que investiu em negócios como os bilionários Gympass, Loggi, Nubank e Quinto Andar) e completado pelo Maya Capital, fundo de venture capital liderado por mulheres, e por investidores-anjo. Para cada investidor homem, as empreendedoras fizeram questão de trazer junto uma investidora mulher.

Fonte: Exame