Internacional
Terça-feira, 23 de julho de 2024

Lee Jae-myung, o ex-menino trabalhador que almeja a presidência da Coreia do Sul

As desigualdades sociais são uma fonte fértil de inspiração para a ficção na Coreia do Sul, como demonstrado por “Round 6” ou “Parasita”, mas representam um grave problema nacional que Lee Jae-myung, que cresceu na miséria e trabalhou quando criança, espera resolver se for eleito presidente.

Lee, candidato à eleição presidencial de 9 de março pelo Partido Democrata, partido de esquerda no poder na Coreia do Sul, abandonou a escola aos 11 anos para trabalhar na fábrica. Um acidente de trabalho o deixou com deficiência aos 13 anos, antes de triunfar e emergir na escala social com base na determinação.

Lee cultiva agora seu próprio conto de fadas: um menino de classe trabalhadora que se torna líder político para convencer os sul-coreanos que poderá resolver seus problemas, desde os preços exorbitantes da moradia ao medíocre crescimento da economia, passando pelo desemprego elevado entre os jovens.

O programa de Lee Jae-myung – renda básica universal, tratamentos subsidiados contra a queda de cabelo – está repleto de medidas mais ou menos iconoclastas com o objetivo de reforçar o Estado-Providência. Medidas que ele apresenta como fruto da pobreza que viveu em sua juventude.

“Você pode sentir pena, em uma sala bem aquecida, das pessoas que estão com frio”, explica Lee em entrevista à AFP. “Mas você nunca será capaz de entender o sofrimento delas.”

A oposição classifica suas propostas como “populistas”, destinadas a “comprar votos” e “mergulhar a próxima geração em dívidas”. A isso se somam acusações de transação imobiliária duvidosa e uso indevido de dinheiro público.

– Menino rico, menino pobre –

No ano passado, sua equipe de campanha publicou duas fotos. Uma mostrava um joven Lee Jae-myung desgrenhado e com roupas de má qualidade. Na outra aparecia Yoon Suk-yeol, de gravata borboleta quando ainda era adolescente.

Este contraste entre Yoon, menino rico, e Lee, cujos padres sobreviviam limpando casas, parece seduzir alguns eleitores de esquerda.

Mas será que isso basta para transformar Lee no próximo presidente? Até o momento, os dois candidatos estão empatados. Em 16 de fevereiro, uma pesquisa dava a Yoon meio ponto de vantagem sobre seu rival. Os três debates televisionados entre eles podem ser determinantes.

Salvo exceções, a classe política sul-coreana está esmagadoramente dominada pela próspera burguesia e suas redes de influência. Não existe nenhum precedente na Coreia do Sul de alguém que trabalhou na infância que tenha chegado tão longe como Lee Jae-myung, afirma Lee Sang-don, ex-deputado que foi professor de Direito do candidato nos anos 1980.

Lee Jae-myung, de 57 anos, começou sua vida profissional aos 11 anos em uma fábrica de luvas.

Aos 13 anos, prendeu o braço em uma máquina e passou a ter essa deficiência pelo resto da vida. Depois de pensar em suicídio, começou a assistir a cursos noturnos e depois entrou para a Faculdade de Direito.

Ele se tornou advogado especialista em direitos humanos e entrou para a política em 2010. Em 2018, foi eleito governador da província de Gyeonggi, a mais populosa do país, que inclui a área ao redor de Seul.

Em 2019, quando a questão das desigualdades se tornou a de maior preocupação para a sociedade sul-coreana, ele chamou a atenção ao distribuir uma renda básica aos jovens de sua província. Também instaurou a gratuidade dos uniformes escolares e dos cuidados médicos para mulheres grávidas. Em 2020, no início da pandemia, criou o primeiro fundo de ajuda do país e distribuiu diretamente dinheiro aos seus funcionários.

Lee prometeu ampliar a renda universal básica, que instaurou em sua província, para todo o país.

Fonte: AFP