Destaques
Sábado, 27 de abril de 2024

Brasil tem maior juro real projetado em 2022 entre principais economias

Com a previsão de novos aumentos na taxa Selic, juro real no Brasil pode fechar 2022 como o maior entre mais de 30 países

Hoje com uma das maiores taxas de juros do mundo, o Brasil pode terminar 2022 liderando também no chamado “juro real”, isto é, quando se desconta a perda pela inflação.

A taxa de juros real brasileira projetada para o fim de 2022 está atualmente na casa dos 6,5%, caso as projeções para inflação e taxa Selic se mantenham.

O Brasil lidera na projeção de juro real na comparação com outros 37 países, segundo levantamento feito pela Necton Investimentos (do BTG Pactual, mesmo grupo que controla a EXAME).

Com esses valores, o juro real brasileiro está acima das previsões para países como Argentina e Turquia, onde os juros nominais são muito altos, acima de 20% e 50%, respectivamente, mas o juro real ficará negativo devido à alta inflação (veja no gráfico abaixo).

No IPCA, foi usado no levantamento uma alta de 5,23% no ano. Já para a Selic, até esta semana, a aposta na mediana do boletim Focus era de que o Brasil terminasse 2022 com taxa básica de juros em 11,75%. O juro real é calculado subtraindo-se esses dois componentes.

“O valor [do juro real brasileiro] é praticamente o dobro da taxa projetada para o segundo lugar, que é a Rússia, que deve ter uma taxa de juros de 8,1%, contra uma inflação de 4,8%, o que dá uma taxa real de 3,3%”, escreveu em nota a clientes André Perfeito, economista-chefe da Necton.

Em países desenvolvidos, no geral, são observadas inflação e taxa de juros em patamares menores, fazendo com que o juro real também seja menor.

Um aumento de 1,5 ponto percentual na Selic é esperado para a reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central, que começa nesta quarta-feira, 2. Assim, a taxa de juros chegaria a 10,75% já nesta semana, ante os atuais 9,25%.

O que significa o juro real?

O juro real é uma métrica observada com atenção por investidores, porque mostra o quanto um aporte em renda fixa renderia acima da inflação em certo país.

O cenário de juro real acima de 6% seria uma reversão em relação ao momento atual. Pela inflação e juros de hoje no Brasil, o rendimento com base na Selic perde para a inflação: o acumulado em 12 meses no IPCA foi de 10,06% em 2021, contra 9,25% da taxa Selic.

Um juro real maior pode levar, assim, a uma perspectiva de valorização do real frente ao dólar, via alguma atração de investimentos estrangeiros. A Necton revisou sua projeção de dólar para 2022 de 5,40 reais para 5,20 reais nesta semana.

Além disso, a diferença maior entre Selic e IPCA mostra também que tem havido algum resultado no controle da inflação via taxa de juros, diz Perfeito.

“Os juros reais em alta mostram […] tendência de controle inflacionário e assim temos uma perspectiva mais benigna para o país de destino dos investimentos”, aponta a nota da Necton.

Para quem pega dinheiro emprestado, no entanto, ter juros real alto é má notícia, pois aumenta o custo da dívida. Para empresas nacionais, pode ser mais vantajoso reter dinheiro do que tomar crédito para financiar investimento produtivo e expansão das atividades.

Assim, os aumentos na taxa de juros, somado à inflação recorde do ano passado, desemprego e atividade econômica fraca, levam a uma perspectiva de economia brasileira estagnada neste ano, crescendo na casa dos 0,3%. O Brasil teve uma das piores projeções de crescimento do mundo no último relatório do Fundo Monetário Internacional.

Ainda não é garantia que a inflação fechará 2022 no patamar previsto, mesmo com a alta de juros. As últimas projeções para o IPCA já vêm subindo para além de 5% inicialmente previstos e acima do teto da meta do Banco Central. No ano passado, o IPCA fechou o ano em 10,06%, a maior alta desde 2015 e uma das piores desde o Plano Real.

Neste cenário, a taxa Selic também pode ir além dos 11,75%, a depender de como se desdobrar a inflação no resto do ano. Com a prévia do IPCA de janeiro vindo acima do esperado, casas de análise e bancos têm aumentado a projeção para a Selic. Alguns já apostam que a taxa terminará acima de 12%, isto é, com ainda mais aumentos promovidos pelo Copom nas próximas reuniões.

Fonte: Exame