A China já tem a capacidade de fazer um bloqueio aeronaval completo de Taiwan, cortando as linhas de comunicação com os EUA e outros potenciais aliados em caso de conflito entre a ditadura comunista e a ilha autônoma que Pequim clama para si.
A avaliação está no Relatório de Defesa Nacional 2021, um documento publicado a cada dois anos pelo Ministério da Defesa em Taipei, e vai em linha com a percepção crescentemente alarmista dos taiwaneses acerca das intenções chinesas.
O texto trouxe também detalhes da cooperação militar com os americanos, que foi revelada pela presidente Tsai Ing-wen no fim de outubro e gerou consternação no regime liderado por Xi Jinping. Nos últimos dois anos, 2.799 militares dos dois lados participaram de 380 programas.
Em outubro, a tensão entre os dois governos atingiu um de seus picos históricos, com Pequim promovendo a maior onda de incursões aéreas contra as defesas de Taiwan já registrada.
Além de manter a Força Aérea da ilha em estado de estresse constante, as operações têm como objetivo simular rotas de bombardeio e de supressão de defesas. Além disso, são recados múltiplos aos EUA e ao Japão, que têm assumido instâncias de apoio mais incisivas a Taipei.
Acelerando a rota tomada por Donald Trump em sua Guerra Fria 2.0 contra Xi, o presidente Joe Biden aproveitou a retirada americana do Afeganistão para aumentar a cooperação militar com a Austrália e com outros integrantes do Quad (Japão e Índia), grupo que se insinua como barreira de contenção à assertividade chinesa e é denunciado por Pequim como agressor.
De lado a lado, foram incrementadas ações bélicas nas águas internacionais que Pequim considera suas, como o mar do Sul da China e o estreito de Taiwan. Os chineses promoveram exercícios navais mais vistosos com seus parceiros russos, de resto rivais do Ocidente.
No relatório, são citadas também as crescentes capacidades das forças de foguetes chinesas, com mísseis balísticos e de cruzeiro mais precisos aptos a atingir alvos taiwaneses.
O texto afirma que “o Exército de Libertação Popular [as Forças Armadas chinesas] é capaz de bloquear nosso portos e aeroportos críticos, rotas aéreas de saída, cortar nossas linhas aéreas e navais de comunicação e impactar o influxo de suprimentos militares e logísticos, além da sustentabilidade de nossas operações”.
É assim detalhado o cenário desenhado pelo próprio governo do país, que no mês passado havia dito que a China já poderia pensar numa invasão com custo aceitável até 2025.
Hoje, é consenso entre analistas que uma ação teria muitos riscos envolvidos, devido ao fato de que apenas 10% da costa taiwanesa é de fácil acesso –logo, é mais duramente defendida. Além isso, há o impacto das baixas em ambos os lados, que fraturaria qualquer processo de integração da ilha à ditadura.
Por fim, o temor de entrar em colisão com os EUA e aliados de forma direta. Apesar de reconhecer a noção de uma China única desde 1979, Washington tem um pacto de assistência militar com Taipei, sendo seu maior fornecedor de material bélico e prometendo auxílio em caso de ataque.
O relatório diz que, entre setembro de 2019 e agosto deste ano, 542 militares taiwaneses estiveram em território americano, enquanto 618 soldados dos EUA treinaram na ilha. Outros 1.639 fardados de ambos os países estiveram em outros programas conjuntos, sem detalhamento.
Segundo o documento divulgado nesta terça (9), além de capacidades cibernéticas, de comunicação por satélite e de ataque, Pequim poderia fazer desembarques anfíbios apoiados por grandes navios comerciais de contêineres, que protegeriam os pequenos barcos com soldados.
Fonte: FolhaPress/Igor Gielow