Cultura
Quarta-feira, 1 de maio de 2024

Podcast ‘Para Dar Nome às Coisas’ reflete sobre o autoconhecimento

Com episódios semanais, o podcast “Para Dar Nome às Coisas” navega por sentimentos conflituosos e descobertas da vida adulta. Apresentado pela jornalista e escritora Natália Sousa, o espaço se define como “uma mesa de bar na web”, daquelas em que você se senta e percebe que não está sozinho.
No entanto, a música, os diálogos, as risadas e os comentários de amigos que são comuns aos bares não têm espaço nas narrativas da jornalista -o que acaba aproximando mais os episódios daquelas longas conversas com uma única amiga, que poderiam se desenrolar acompanhadas de um café.
As boas-vindas ao ouvinte são dadas junto a um fundo quase silencioso, no qual se ouve apenas o som característico de uma máquina de escrever. Sousa conduz o podcast sozinha e caminha pelos temas de forma introspectiva, mantendo o tom de voz uniforme na maior parte de suas histórias.
O primeiro episódio de “Para Dar Nome às Coisas” foi lançado em agosto de 2019 –portanto, antes da pandemia. Mas a linguagem da autora, que põe diálogos internos em lugar de destaque, conversa bem com os momentos de reflexão trazidos pelo isolamento social.
Ela trabalha com o sensível, falando sobre temas como autossabotagem, medo do fracasso, luto, a descoberta da sua bissexualidade e tempo. A escritora também questiona o significado de abrir a intimidade para seus ouvintes. “Tem muita gente que eu nunca vi e que está me vendo de alma nua”, diz, no episódio que foi ao ar em janeiro de 2020.
A cada episódio a jornalista faz um comentário inicial, que traz um pouco do processo de escolha do tema, seja um detalhe técnico, como o desenvolvimento do roteiro, ou uma lembrança carinhosa sobre o assunto. Pode ser um diálogo com a mãe ou até a volta de um hábito antigo à rotina. “Para que a gente se lembre que a vida não precisa ficar dentro de um molde, de uma forma. Para a gente sair do automático.” Esse, por exemplo, é o começo do episódio número 84, sobre aceitação e transformação de processos.
O convite que Sousa faz ao público é o de se sentar à mesa da web e fazer o exercício de “olhar para a sua própria história e assumir que o seu processo é único, e que o tempo dele também é”, como diz na descrição do episódio 82, sobre a descoberta de sua bissexualidade. Durante a narração, a escritora cita a interação com os ouvintes que, segundo ela, sempre se sentam à mesa de seu bar virtual. Porém, essas vozes não aparecem diretamente.
Quem procura um espaço de troca que traga histórias e pontos de vista variados, como num bar, pode se decepcionar ao ouvir o podcast. “Para Dar Nome às Coisas” é muito mais um lugar de introspecção e solitude em que, ao acompanhar as experiências de Sousa, o ouvinte pode se identificar e refletir sobre as próprias.
O caminho de Sousa com autoconhecimento e ressignificação é anterior ao podcast. No livro “Sua Vida em Mim”, publicado há cinco anos, a autora conta o processo de luto e recomeço que precisou enfrentar após a morte de seu noivo, em 2015.
“Para Dar Nome às Coisas” está em sua terceira temporada e é produzido com apoio da Rede Amparo.

PARA DAR NOME ÀS COISAS
Onde: Deezer e Spotify
Autor: Natália Sousa
Link: https://open.spotify.com/show/7g6BfZvLNQjrj68MNXyDqf
Avaliação: Bom

Fonte: FolhaPress/Catarina Ferreira