Economia
Sexta-feira, 3 de maio de 2024

Americanas compra redes Hortifruti e Natural da Terra por R$ 2,1 bi para avançar em entregas rápidas de alimentos


Após o vazamento de que estaria em negociação para comprar a rede Marisa, a Americanas surpreendeu o mercado e anunciou a aquisição de 100% da Hortifruti Natural da Terra, rede varejista especializada em produtos frescos com foco em frutas, legumes e verduras.

A aquisição da totalidade das ações envolve um total de R$ 2,1 bilhões. A rede de gêneros alimentícios é dona das marcas Hortifruti e Natural da Terra e tem 73 lojas no Rio, São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo.

O anúncio foi feito no início da noite, após o fechamento do pregão na Bolsa. As ações da Americanas fecharam em alta de 1,22%, negociadas a R$ 45,70. A rede Hortifruti não tem ações negociadas na Bolsa.

O movimento da Americanas em direção ao setor de alimentos segue a tendência entre as gigantes do comércio eletrônico de ampaliar sua atuação no setor de supermercado e aumentar sua capacidade de fazer entregas rápidas.

Papéis da Americanas tambem subiam. Foto: Reprodução
Papéis da Americanas tambem subiam. Foto: Reprodução

A aquisição é a primeira feita pela Americanas desde sua fusão com a subsidiária de comércio eletrônico B2W (dona das marcas Americanas.com, Submarino e Shoptime), em abril, e a reorganização acionária, que prevê o lançamento de ações de sua controladora (que tem entre os principais sócios o bilionário Jorge Paulo Lemann) nos EUA.

Na ocasião, o diretor financeiro e de Relações com Investidores da empresa, Fabio Abrate, disse que a companhia iria se tornar um “poderoso motor de fusões e aquisições”.

Hortifruti comprou Natural da Terra em 2015

A marca Hortifruti é mais conhecida no Rio e no Espírito Santo, onde cresceu chamando a atenção pela publicidade bem-humorada que dava vida às frutas e legumes como garotos-propaganda.

Já a Natural da Terra, comprada pelo Hortifruti em 2015, tem atuação mais forte em São Paulo. Entre junho de 2020 e junho de 2021, a empresa dona das redes apresentou uma receita bruta de R$ 2 bilhões.

Em comunicado, as companhias afirmaram que “a aquisição é um movimento estratégico da Americanas para ser ainda mais relevante no dia a dia dos clientes”. Para a Americanas, a aquisição “possibilitará oferecer mais conveniência aos clientes, ampliando a oferta de produtos frescos e saudáveis”.

Thiago Picolo,CEO do Hortifruti Foto: Germano Lüders / 1/06/2020
Thiago Picolo,CEO do Hortifruti Foto: Germano Lüders / 1/06/2020

Com a aquisição, a Americanas pretende usar a plataforma digital e as lojas físicas do Hortifruti para avançar com as entregas ultrarápidas de alimentos frescos. Quer ainda acelerar a expansão do conceito de dark store, que funcionam como pequenos centros de distribuição.

Com isso, a Americanas deve levar a marca Hortifruti para todo o país. Hoje, as lojas do Hortifruti têm em média sete mil itens e tamanhos variados, com área média de 180 a 700 metros quadrados. A empresa tem ainda uma dark store que permite a entrega em até 24 horas. Hoje, 16% dos negócios do Hortifruti vêm do digital.

Em comunicado, a Americanas informou ainda que fará a expansão da integração com a fintech AME, aumentando a oferta de produtos e serviços financeiros nas lojas do Hortifruti. A Americanas destaca a venda de cartão de crédito, recarga de celular, cartões de conteúdo, crédito para pessoa física, entre outros.

Facha da uma das unidades do Hortifruti no RJ Foto: Agência O Globo
Facha da uma das unidades do Hortifruti no RJ Foto: Agência O Globo

Americanas negocia com Marisa

Na semana passada, a Americanas admitiu que mantinha conversas preliminares para uma possível compra da rede de lojas de vestuário Marisa.

Apesar de não haver qualquer acordo concreto de transação entre as duas, a varejista de moda feminina é vista como uma operação que traria complementaridade à da Americanas, como oportunidade para diversificar também negócios na área digital.

‘Marketplaces‘ avançam na digitalização do supermercado

A concorrência no comércio eletrônico se acirra com as gigantes do setor investindo na compra de start-ups e no desenvolvimento de soluções para entregar produtos perecíveis em cada vez menos tempo.

Em janeiro do ano passado, a Americanas comprou a plataforma digital Supermercado Now, voltada para entregas de itens de mercado.

Embora o valor não tenha sido revelado, especula-se que a start-up tenha sido avaliada em até R$ 100 milhões. Com essa compra, a Americanas passou a oferecer entrega de alimentos dentro do seu marketplace, criado pela B2W em 2014.

Em evento on-line do GLOBO em novembro do ano passado, um executivo da B2W informou que a empresa investiu R$ 1,2 bilhão em tecnologia e logística entre 2018 e 2020, quando acelerou o planejamento por causa do aumento da demanda na pandemia, particularmente no setor de supermercado.

Magazine Luiza também vem fazendo uma série de aquisições para permitir a entrega de alimentos em um período cada vez mais curto. Na semana passada, a companhia adquiriu a Sode, plataforma digital especializada em logística urbana para entregas ultrarrápidas.

O Mercado Livre estuda desenvolver soluções para entregar alimentos perecíveis nos próximos meses, disse ao GLOBO recentemente o presidente da empresa, Stelleo Tolda.

— Com o aumento das compras pela internet, as empresas passaram a buscar novas fontes de receitas. Primeiro, estruturam as entregas de bens duráveis de forma mais rápida. Agora, buscam a criação de mecanismos para entregar até iogurte fresco e maçã — afirma o consultor de varejo Ulisses Macedo.

A estratégia envolve a criação de centros de distribuição em bairros — que podem ser também lojas físicas — compra de outras empresas e investimento em logística, observa o consultor.

” Esse é o novo varejo. Antes da pandemia, ninguém pensava em comprar uma empresa de legumes e verduras vislumbrando a possibilidade de vender isso pela internet. Mas hoje isso mudou e já se fala em criação de estratégia para entregar isso quase que instantaneamente” diz Macedo.

Fonte: O Globo