RENATO MACHADO –
Senadores que integram o grupo majoritário da CPI da Covid, formado por independentes e oposição, consideram que os e-mails enviados pela Pfizer comprovam a omissão do governo nas tratativas para comprar vacinas contra a Covid-19.
O lado governista da comissão, por sua vez, considera que essas comunicações fazem parte de um esforço para se criar uma narrativa falsa contra o governo do presidente Jair Bolsonaro.
Reportagem da Folha mostrou que emails enviados pela Pfizer ao Ministério da Saúde, entregues à CPI em caráter de sigilo, evidenciam a insistência da farmacêutica para negociar vacinas com o governo federal, ao mesmo tempo que deixam clara a ausência de respostas conclusivas às propostas apresentadas pela empresa.
De 14 de agosto a 12 de setembro de 2020, quando o presidente mundial do laboratório mandou carta ao Brasil, foram ao menos dez emails enviados pela farmacêutica discutindo e cobrando resposta formal do governo sobre a oferta apresentada.
A ausência de respostas para a compra de vacinas pela Pfizer se tornou um dos temas centrais da CPI, principalmente após depoimento do ex-secretário Fabio Wajngerten, na semana passada.
Wajngarten disse à comissão que iniciou tratativas com a Pfizer após constatar que as propostas para a venda de vacinas da empresa ficaram quase dois meses sem resposta do governo.
A fala foi corroborada com a oitiva seguinte, do gerente-geral da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo.
Para senadores do grupo majoritário da CPI, os e-mails da Pfizer deixam claro que o governo buscava combater a pandemia com métodos alternativos, que não passavam pela vacina.
“Os documentos apontam que a CPI está no caminho correto da investigação. Enquanto os brasileiros precisavam de vacina, máscaras e oxigênio, o governo escolheu a contaminação de todos e o negacionismo, o resultado é a tragédia que estamos vivendo”, disse à Folha o vice-presidente da comissão, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).
O também integrante da CPI e médico de formação Otto Alencar (PSD-BA) compartilha a visão do vice-presidente da comissão.
“Esses e-mails comprovam o que desconfiávamos, de que o governo Bolsonaro postergou a compra de vacinas, porque tinha a falsa crença de que a hidroxicloroquina e a imunidade de rebanho iriam funcionar no enfrentamento à pandemia”, afirmou o senador.
Otto Alencar afirma que as investigações certamente vão revelar novos fatos e informações nessa direção, de omissão na compra de vacinas.
“Vacina nunca foi prioridade. Bolsonaro foi muito franco com isso, tanto que no fim do ano passado ele disse que o vírus ia embora e que não iria comprar vacina”, completou o senador.
Os e-mails enviados pela empresa devem abrir uma linha de investigação. O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) afirma que as mensagens deixam claro que as negociações não foram levadas adiante de uma maneira diligente.
“Eles mostram que a negociação foi, na melhor das hipóteses, amadora é lenta”, afirmou.
O lado governista da CPI, por outro lado, desdenha das informações contidas nos e-mails e afirma que se trata de uma tentativa de criar uma narrativa para atingir diretamente o presidente Jair Bolsonaro.
“É impressionante a narrativa que se quer criar. Essa discussão é inócua. Os governadores conseguiram no Supremo Tribunal Federal o direito de comprar vacinas. Quantas doses da Sputnik já chegaram ao Brasil? Por que elas não foram compradas? Porque não tinha aprovação da Anvisa”, afirma o senador governista Ciro Nogueira (PP-PI), em referência ao fato de que na época dos e-mails a agência de vigilância sanitária não havia aprovado a imunização da Pfizer.
“Essa discussão da Pfizer é para se criar uma narrativa falsa contra o governo. O que é fato é que todas as tratativas com a Pfizer nesse período aí, a Pfizer sempre ofereceu muito menos vacinas do que o governo brasileiro comprou neste ano. Impressionante essa narrativa. É uma tentativa muito grande de tentar criar um fato errado contra o governo”, completou.
Fonte: Folhapress