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Sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Veterana em renda fixa recomenda cautela em apostas de inflação

Mesmo com o Fed projetando juros inalterados até 2023, operadores não estão convencidos e precificam algum tipo de aperto monetário no próximo ano

 Isobel Lee enfrentou alguns dos períodos mais difíceis para os mercados de renda fixa, desde o fim da Guerra Fria até a crise financeira global. Ela tem um conselho para os que tentam navegar pela confusa saída global da pandemia: “Sejam humildes”.

“Estamos cientes de que esta é uma situação sem precedentes, que nenhum de nós jamais viu”, disse a responsável por portfólios governamentais globais na Insight Investment, uma gestora em Londres com US$ 1 trilhão em ativos. “Portanto, precisamos ser humildes e reconhecer que nosso julgamento pode estar errado.”

Um ano depois que a pandemia levou a economia mundial à mais profunda crise em gerações, investidores de renda fixa tentam entender como o amplo estímulo monetário e US$ 20 trilhões de dívida global irão repercutir no sistema financeiro.

A principal questão é a inflação, e se os aumentos de preços vão se manter com a reabertura das economias.

O Federal Reserve têm insistido que a aceleração da inflação deve ser temporária, mesmo depois que os preços ao consumidor nos EUA registraram em abril a maior alta desde 2009.

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Autoridades do Fed projetam que os juros podem ficar inalterados até 2023, pelo menos. Operadores não estão convencidos, e o mercado precifica algum tipo de aperto monetário no final de 2022 e aumento de 0,25 ponto percentual em março de 2023.

Lee disse que, depois da crise financeira, pensou que seria possível se antecipar ao ciclo de aperto monetário do Fed, ao julgar que os rendimentos dos títulos subiriam mais rápido do que os mercados haviam indicado.

“Na verdade, é muito difícil, e acho que a mesma coisa é potencialmente verdadeira desta vez”, disse Lee, que ajuda a administrar US$ 7 bilhões na Insight.

Inflação

Os yields de referência dos Treasuries despencaram para a mínima histórica de 0,31% em março passado, no início da pandemia, e se recuperaram para 1,77% este ano, com a aposta de operadores de que a aceleração da inflação irá persistir. A taxa futura de um ano está em 1,97%.

Lee, que trabalhou com emissões de títulos na década de 1990 no UBS, disse que os rendimentos dos títulos de 10 anos do Tesouro dos EUA têm maior probabilidade de cair abaixo de 1% do que se normalizar acima de 3% por “qualquer período duradouro”.

Isso porque as pressões deflacionárias que afetam os mercados há décadas – maior automação, envelhecimento da população e queda da produtividade global – não desapareceram.

“Vai levar anos para sermos capazes de normalizar acima da faixa de 2-3%” que esperamos entrar agora, disse Lee, que tem doutorado em Matemática pela Universidade de Oxford. “Quase todos os países têm uma carga de dívida que empresas ou famílias teriam dificuldade em pagar se os rendimentos aumentassem em valores realmente modestos.”

Sua estratégia? “Esperar com uma posição ativa” quando necessário, em vez de arriscar perdas. Ela saiu da maioria de suas posições overweight – recomendação acima da média – em títulos indexados à inflação.

Nos EUA, Lee acompanha de perto os comunicados e dados econômicos do Fed para determinar os próximos passos. Os dados mais fracos do que o esperado do mercado de trabalho dos EUA em abril apoiam sua visão de que a inflação persistente pode ser uma utopia, enquanto o Fed pode adiar a discussão de planos de redução gradual dos estímulos para o fim de 2021.

“Sem uma aceleração rápida da inflação, é difícil ver as circunstâncias em que os juros começariam a subir antes do primeiro semestre de 2023”, disse a gestora. “A era dos yields reais baixos e retornos baixos, na verdade, pode se reafirmar mais cedo ou mais tarde.”

Fonte: InfoMoney