Economia
Segunda-feira, 22 de julho de 2024

Mars aposta no mercado pet para seguir crescendo no Brasil

A relação de cães e gatos com seus donos passa por uma profunda transformação. Nos últimos anos, os bichinhos de estimação, sobretudo os de raças menores, deixaram os quintais e ganharam um espaço na cama. Com a pandemia da Covid-19, essa tendência de “humanização dos animais” se intensificou. Segundo dados compilados pela Mars, o número de cães e gatos aumentou 2% e 3,8%, respectivamente, em 2020. De olho no potencial de expansão do mercado, a companhia, dona de marcas como Pedigree, Whiskas e Royal Canin, tem voltado cada vez mais o seu investimento para o setor pet, um mercado sem crise, que obteve crescimento de 13,5% no último ano, subindo seu faturamento para 40,1 bilhões de reais, segundo o Instituto Pet Brasil. Além de atuar no setor pet, a Mars é dona de marcas de chocolate como M&M’s e Twix.

Líder de mercado quando se fala em produtos industrializados, a Mars detém uma participação de 18,3%, à frente das rivais Grandfood (15,3%) e Nestlé (9,6%), e tem se beneficiado do efeito da pandemia de Covid-19 nos hábitos de consumo. Como explica José Carlos Rapacci, CEO da Mars Petcare, o novo coronavírus aumentou o convívio entre o dono e o pet, e isso proporcionou um efeito positivo para a venda de algumas subcategorias, como a de petiscos. “A nossa área de alimentos úmidos, que são os sachês, tem ganhado muito espaço. O dono usa esses produtos como uma forma de interagir mais com o gato e o cachorro e estar mais próximo deles em casa”, afirma Rapacci. “Há uma década, essa categoria era praticamente inexistente. Hoje já é uma parte significativa do mercado”. Hoje, a Mars atua no mercado nacional com um portfólio de cerca de 300 itens.

O executivo se diz satisfeito com o desenvolvimento de duas marcas novatas dentro do mix de produtos da companhia no país. Para avançar no segmento de alto padrão, chamado de ‘super premium’, a empresa trouxe para o Brasil, em 2019, as marcas Sheba, voltada para gatos, e Cesar, de cães. O movimento parece natural, já que o Brasil é o terceiro maior mercado para o setor no mundo, atrás apenas de Estados Unidos e China, e praticamente empatado com o Reino Unido. “A gente vê uma desaceleração da parte de granel dentro do mercado no Brasil, o que significa que há um amadurecimento gradual, com uma maior sofisticação do ponto de venda. Mas ainda há espaço para crescer muito mais, principalmente dentro do segmento super premium”, reitera. Embora haja uma clara evolução no comportamento do consumidor, ainda há uma parcela de cães e gatos que é alimentada com ração a granel, comprada no varejo de vizinhança, ou sobras de comida, o que não é recomendado por especialistas.

Rapacci, no entanto, sobe o tom quando o assunto é a carga tributária que incide sobre o mercado pet. Embora tenha sido considerado um mercado prioritário durante a pandemia de Covid-19, os impostos cobrados são considerados altíssimos. Segundo o Instituto Pet Brasil, esse montante chega a 60% em alguns estados. “A tributação do segmento de petfood no Brasil é uma das mais altas do mundo. Nós somos tributados como se oferecêssemos um bem supérfluo. Isso é um resquício do passado, quando consideravam o mercado pet como algo de luxo”, diz Rapacci. A complexidade tributária afasta investimentos no país, o que diminui o potencial de geração de emprego na categoria. “Se o governo entendeu que o mercado pet é tão imprescindível quanto farmácias, supermercados e postos de gasolina, porque tem alimentos e medicamentos específicos, não cabe colocar essa carga tributária escorchante. Esse é um tema que nós estamos brigando muito. Tem que retirar o IPI e rever essa carga absurda que é imposta sobre o mercado”, diz Nelo Marraccini, presidente-executivo do Instituto Pet Brasil. “Hoje os estados e a União ganham mais em impostos sobre o setor do que a indústria ganha desenvolvendo produtos.”

Outra frente

Fora do mercado pet, a multinacional também trabalha para crescer em outras frentes. Na categoria de doces e guloseimas, em que aparece como a 10ª maior empresa do mercado no país, com uma fatia de 2%, segundo dados da Euromonitor, a companhia está apostando no M&M’s Crispy. Lançado no Brasil em novembro de 2020, a variação do tradicional M&M’s foi responsável por um grande evolução da penetração da empresa na categoria de chocolates no mercado francês — entre 2018 e 2019, época do lançamento do produto na França, o crescimento foi de 46%. A tendência é que novos produtos sejam lançados no futuro já que a empresa completou recentemente seu último ciclo de investimentos com a inauguração de uma fábrica da Mars Wrigley, para expandir a produção de doces e guloseimas no país. “Entre 2012 e 2020, investimos 1 bilhão de reais no Brasil, metade disso foi para a construção de nossa fábrica de chocolates”, afirma Rapacci. “A Mars é uma companhia de mais de 40 bilhões de dólares de faturamento no mundo, mas que ainda é pouco conhecida no Brasil. Temos a oportunidade de ajudar a desenvolver o mercado brasileiro. A oportunidade está aqui.”

Fonte: BizNews