SÃO PAULO – Dois jornalistas espanhóis e um ativista irlandês foram mortos em Burkina Fasso, na África, na terça (27). Eles haviam sido sequestrados enquanto produziam um documentário sobre a caça ilegal no país.
As vítimas são os jornalistas David Beriain e Roberto Fraile e o ecologista Rory Young. Eles estavam fazendo gravações em uma estrada que une Fada N’Gourma e Pama, no sudeste do país, na manhã de segunda (26), quando foram atacados.
Os profissionais estavam em um comboio que patrulhava uma região onde havia caça ilegal. Um grupo de homens armados atacou o grupo e sequestrou os três estrangeiros. Houve uma busca intensa na região, até que o governo confirmou que os três haviam sido mortos, na terça (27).
A estrada tinha más condições e era cercada por vegetação densa, o que facilitou a emboscada. “Quando a pista está deteriorada, você não pode dirigir rápido [para fugir]”, disse Rachid Palenfo, superintendente de polícia em Burkina Fasso, à agência Reuters.
Beriáin, 43, foi correspondente de guerra no Iraque e no Afeganistão. Trabalhou para veículos como CNN+, Discovery e La Voz de Galicia, antes de fundar a produtora 93 Metros, especializada em documentários em zonas de perigo e de conflitos armados. Ao longo da carreira, entrevistou membros das Farc, do Taleban e combatentes em países como Congo e Líbia, além de traficantes e assassinos de aluguel.
Fraile, 47, atuava como câmera e havia sido ferido na Síria em 2012. Ele trabalhava para a TV CyLTV (canal de Leão e Castela). Rory Young era um defensor da preservação dos animais selvagens e havia fundado a ONG Chengeta Wildlife Foundation.
O grupo jihadista JNIM, ligado à Al Qaeda, reivindicou o ataque. Para provar, mostrou imagens de pertences que seriam dos mortos.
A morte deles gerou comoção na Espanha. “Confirma-se a pior das notícias”, disse o premiê Pedro Sánchez. Ele expressou seu “reconhecimento àqueles que, como eles, realizam diariamente um jornalismo corajoso e essencial nas zonas de conflito”.
O chefe de política externa da União Europeia, Josep Borrell, afirmou que “os terroristas mostraram mais uma vez sua covardia e seu rosto criminoso: os defensores de um obscurantismo que aniquila toda a liberdade de expressão”.
“Esta tragédia confirma os grandes perigos que enfrentam os jornalistas no Sahel”, disse em Paris Christophe Deloire, secretário-geral da ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF).
Redações de jornais espanhóis e emissoras de TV prestaram um minuto de silêncio em homenagem às vítimas. Os corpos dos três serão levados para a Europa em um voo enviado pelo governo espanhol, em data a ser confirmada.
Desde 2015, os ataques jihadistas são cada vez mais frequentes no país. A princípio, os ataques atribuídos a grupos jihadistas – como o Grupo de Apoio ao Islã e os Muçulmanos (GSIM), afiliado à Al Qaeda e o Estado Islâmico no Grande Saara (EIGS) – tiveram como cenário o norte do país, na fronteira com o Mali. Mas, com o tempo, se espalharam para a capital e outras regiões, principalmente do leste e do noroeste.
Nos últimos seis anos, as ações violentas deixaram mais de 1.200 mortes e mais de um milhão de pessoas desalojadas.
No período, também houve diversos sequestros de estrangeiros em Burkina Fasso. Um casal de australianos foi sequestrado em Djibo, na fronteira com o Mali e o Níger, em janeiro de 2016, durante uma ação aparentemente coordenada com atentados em Uagadugu. Naquela noite, os jihadistas abriram fogo em cafeterias, restaurantes e hotéis, deixando 30 mortos e 71 feridos.
Os sequestradores entregaram a mulher, Jocelyn Elliot, às autoridades nigerianas aproximadamente um ano depois. O homem continua desaparecido.
Em dezembro de 2018, um casal ítalo-canadense desapareceu na rodovia entre Bobo-Dioulasso e Uagadugu. Foi libertado no vizinho Mali, depois de mais de um ano de cativeiro.
Fonte: FolhaPress