Política
Quarta-feira, 24 de julho de 2024

Huck se encontra com Leite para discutir aliança eleitoral em 2022 entre autores de manifesto

JOELMIR TAVARES – O apresentador Luciano Huck (sem partido) e o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), dois dos seis presidenciáveis de oposição a Jair Bolsonaro (sem partido) que lançaram um manifesto pró-democracia, terão um encontro nesta quarta-feira (14) para discutir as eleições de 2022.
A conversa, em Porto Alegre, é mais um passo na direção de uma possível aliança eleitoral de nomes da direita à centro-esquerda que tentam evitar a polarização entre Bolsonaro e o ex-presidente Lula (PT).
Além da dupla, o grupo que busca confluência para a corrida presidencial inclui Ciro Gomes (PDT), João Doria (PSDB), Luiz Henrique Mandetta (DEM) e João Amoêdo (Novo). Como mostrou o jornal Folha de S.Paulo, o sexteto acumula divergências e rusgas do passado, mas converge na resistência à dicotomia Bolsonaro-Lula.
No dia 31 de março, quando o golpe que instaurou a ditadura militar (1964-1985) completou 57 anos, os seis publicaram o Manifesto pela Consciência Democrática. Eles afirmaram no texto, em recado para Bolsonaro, que a democracia está ameaçada e conclamaram uma soma de forças para defendê-la.
Foi também a primeira vez que Huck se colocou indiretamente na condição de presidenciável para o pleito do ano que vem, algo que evita confirmar abertamente.
O apresentador da TV Globo quase foi candidato na eleição presidencial de 2018, mas acabou recuando. Desta vez, vem entabulando conversas com partidos e líderes políticos, mas sem se declarar pré-candidato e dizendo que deseja contribuir com a saída do país da crise.
O encontro desta quarta é parte dos esforços para garantir o envolvimento do PSDB na construção de coligação que uma o grupo batizado de Polo Democrático. O gaúcho anunciou a intenção de disputar as prévias do PSDB para definir um nome para 2022, entrando em choque com os planos de Doria.
Segundo aliados que acompanham as articulações, a conversa também será um gesto ao senador tucano Tasso Jereissati (CE), membro da ala tradicional do PSDB. Tasso é entusiasta do nome de Leite e vem declarando publicamente apoio à participação dele no debate sobre candidatura.
O senador também se coloca favoravelmente à pacificação do que chama de centro político em torno de um único projeto.
O discurso envolvidos nas discussões é o de que o candidato ao Planalto deverá ser aquele que reunir as melhores condições para ser competitivo. Internamente, políticos defendem que o campo fragmentado entre Bolsonaro e Lula não desperdice energias dividindo-se em mais de uma chapa.
Huck e Leite se aproximaram nos últimos anos e já trocaram elogios publicamente. No início de março, o governador gaúcho participou ao lado do comunicador de um evento virtual do RenovaBR, escola de formação de candidatos da qual o apresentador é um dos conselheiros.
A organização do manifesto partiu do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta. Na semana passada, ele disse à reportagem que a evolução da iniciativa para uma aliança no campo eleitoral dependeria do andamento das conversas entre os envolvidos, o que começa a se desenrolar agora com mais vigor.
As dificuldades de entendimento entre pré-candidatos e partidos, no entanto, são significativas.
Afora o propalado respeito às regras democráticas, poucos traços ligam, por exemplo, dois nomes que estão nas pontas do sexteto: o liberal convicto Amoêdo, que votou em Bolsonaro no segundo turno de 2018, e o centro-esquerdista Ciro, que já foi ministro de Lula e hoje se opõe ao ex-presidente.
O ex-juiz Sergio Moro, que é cotado como presidenciável, também participa dos debates e integra o núcleo que resolveu divulgar o texto. Ele foi convidado a endossar o documento, mas declinou alegando razões contratuais com a consultoria Alvarez & Marsal, para a qual trabalha.
Antes de se darem as mãos, signatários do texto já protagonizaram embates públicos.
No quesito críticas, Ciro é talvez o recordista, com histórico de ataques desferidos contra praticamente todos os novos companheiros. Sua bronca com Doria foi parar nos tribunais. O ex-ministro já usou termos como “farsante” e “picareta completo” para se referir ao governador de São Paulo.
O empresário e ex-banqueiro Amoêdo, que, como o pedetista, concorreu na eleição de 2018, também virou alvo dele durante a campanha –e rebateu, falando que Ciro precisava “conhecer um pouco mais sobre economia”.
Já Mandetta e Leite soam mais agregadores, sem tantas arestas internas. No caso do gaúcho, a aventura presidencial depende, antes de tudo, de uma solução no PSDB, com a definição sobre o nome dele ou o de Doria, que desde 2019 vinha sendo tratado como virtual presidenciável do tucanato.
O único que desfruta de situação confortável dentro de sua legenda é Ciro, hoje sem maiores óbices a seu nome entre os correligionários.
A plataforma mínima que une o sexteto está fundamentada, basicamente, no antipetismo e no antibolsonarismo. À exceção de Ciro, todos são identificados na opinião pública como simpatizantes de Bolsonaro no segundo turno de 2018, embora hoje se declarem na oposição ao mandatário.
O caso mais emblemático é o de Doria, que se elegeu na onda da dobradinha BolsoDoria e rompeu com o presidente no ano seguinte, iniciando um antagonismo que se aprofundaria com as discordâncias nas medidas de combate à pandemia do novo coronavírus e a politização do tema das vacinas.
A receita desejável para atenuar a crise sanitária causada pelo vírus é outro ponto pacífico entre os subscreventes do manifesto. Todos pregam obediência às recomendações científicas, o que os coloca em campo oposto ao de Bolsonaro, que nega a gravidade da doença e sabota ações preventivas.
O impeachment do presidente é controverso –Ciro e Amoêdo são abertamente favoráveis.

Fonte: FolhaPress