ÚRSULA PASSOS
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Quem caminhar pela região do viaduto Santa Ifigênia ao cair da noite e olhar para o Mirante do Vale, edifício mais alto da cidade, vai perceber um néon vermelho em uma das janelas.
Ao ler, neste momento em que estamos prestes a completar um ano de pandemia e com a chegada de um Carnaval que não se pôde comemorar, sente-se um misto de empurrãozinho de estímulo e frio na barriga: Agoniza mas não morre.
A frase, título de um samba de Nelson Sargento dos anos 1970, faz parte da obra “Samba Exaltação”, de Felippe Moraes. Até a Páscoa, o apartamento em que o artista mora exibirá néons com frases retiradas de músicas e que remetem à melancolia de um ano sem Carnaval.
“O Carnaval é uma forma de resistir, sobreviver, é uma tecnologia social que desenvolvemos ao longo de muitos anos, na qual se suprimem regras sociais para se brincar livremente”, diz Moraes.
A cada 13 dias, o passante daquela região do centro de São Paulo vai se deparar com uma nova frase. “Uma pausa de mil compassos”, verso do samba “Para Ver as Meninas”, de Paulinho da Viola, será a próxima. Ao longo da Quaresma ainda vão brilhar “Viver será só festejar”, trecho de “Baianidade Nagô”, um dos hinos do Carnaval da Bahia, e, por último, “Quero morrer no Carnaval”, título de marchinha lançada nos anos 1960 na voz de Linda Batista.
Moraes diz que a obra é uma maneira de dizer que o Carnaval que não acontece também é poderoso, apesar dos gostos de torpor, melancolia e tristeza que deixa. “O Carnaval é a possibilidade de confrontar aquilo que nos oprime, e falar de Carnaval nesse momento é um ato de libertação”, diz ele.
Instalar as mensagens em seu apartamento, segundo o artista, propõe um diálogo entre o público e o privado e entre o coletivo e o individual, uma vez que, com a janela voltada para a rua numa região bastante movimentada da cidade, sua casa pode ser vista por muitas pessoas, o que torna, até mesmo a sua presença por trás das luzes do néon uma espécie de performance.
Ele lembra ainda do carnaval da Bahia, onde os apartamentos são como camarotes, de onde se vê a festa, e a festa, de baixo, olha para aquelas pessoas da audiência.
Na sexta (12), quando o trabalho foi aceso pela primeira vez, no fim do dia, um músico tocando cavaquinho puxou alguns sambas entre os passantes do viaduto centenário em estilo art nouveau. No repertório, a melancolia de um Carnaval suspenso, como “Não Deixe o Samba Morrer” e “Praça Onze”, que lamenta o fim de um grande reduto do samba carioca, extinto por reformas urbanísticas.
Além da obra de Moraes, outros trabalhos relacionados ao Carnaval que não foi pulado podem ser vistos por São Paulo até o dia 21. A exposição “Ninguém Vai Tombar nossa Bandeira”, com curadoria de Julia Lima, reúne 40 artistas no Centro Cultural da Diversidade, no Itaim Bibi, e em outros 25 pontos da capital paulista.
Há, entre outros, trabalhos de Marilá Dardot, Mano Penalva e Renan Marcondes, que realiza performance em horários específicos da janela de um apartamento nos Jardins.
Segundo Lima, a mostra “permite colocar o bloco na rua de outro jeito”. Há obras instaladas em muros, janelas e portões da cidade. Ou em praças, como “Só de Cinzas”, de Laura Andreato, na praça Rio dos Campos, na Vila Anglo. A artista tingiu de cinza confetes e serpentinas que foram espalhados pelo local. Na quarta (17), o trabalho será varrido, no que seria Quarta-feira de Cinzas, o marco do fim da festa. Os endereços de todos os trabalhos estão num mapa no site da mostra (bandeiras.art).
Lima conta que a mostra, quando estava sendo projetada, mobilizou artistas que estavam desolados e melancólicos -olha o sentimento aí de novo- com o horizonte de um ano sem Carnaval. Assim, se juntaram em um “bloco de pessoas que pudesse oferecer um desfile ao contrário”, no qual quem desfila é o público e não o artista.
Ao ar livre, e de máscara, é possível não deixar este Carnaval passar despercebido.
Cultura
Terça-feira, 5 de novembro de 2024
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