INÁCIO ARAUJO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – É difícil dizer de que assuntos trata “Todos os Mortos”. Há uma cidade que chega otimista ao século 20, existe a abolição recente e o racismo, a decadência de uma família tradicional e a ascensão dos imigrantes. “É um filme que se dispõe em camadas”, diz Caetano Gotardo, um dos diretores da nova produção do grupo paulista Filmes do Caixote.
Essas camadas se deixam enfeixar por duas famílias. A primeira é a dos Soares, ex-donos de terras e escravos, deslocados para uma residência dos Campos Elíseos, na época um bairro chique da capital do estado. Melhor seria dizer as Soares, pois o pai, o falido, continua no interior, administrando a fazenda. A segunda é a família de Iná, a jovem negra descendente de escravos.
Entre as Soares, Maria é uma freira e Ana vive fechada em casa, com os movimentos controlados pela mãe. “Vivem numa espécie de confinamento não só físico, mas presas ao passado, numa cidade que surge e se prepara para o progresso”, diz Marco Dutra, o outro diretor do filme.
A fala de um complementa a do outro, como se houvesse entre eles uma harmonia que começou na elaboração do roteiro e chegou à montagem (por Juliana Rojas, a terceira perna do tripé do Caixote).
Essa harmonia talvez tenha ajudado a compatibilizar os vários assuntos que encontram em “Todos os Mortos”.
Se as Soares sofrem com a decadência, os Nascimento, a família de Iná, vive nos rescaldos da escravatura. O marido veio a São Paulo em busca de trabalho, mas Iná não o sabe localizar. “As duas famílias estão deslocadas, sofrem com a alienação”, diz Dutra.
Essa alienação passa pelo sentimento religioso. Iná precisa se fingir de católica para achar trabalho na fazenda; Ana acredita que a prática dos ritos africanos cura males que os brancos não conseguem.
Para desenvolver essa intrincada rede de ideias, os autores levaram anos de conversas, escrita, troca e feitura do filme. Como uma família, digamos. Uma fraternidade nascida há mais de 20 anos, quando se conheceram na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.
“Juliana e Marco gostavam de filmes de terror. Eu, não, na adolescência tinha medo de filmes de terror”, afirma Caeetano Gotardo, que se juntou à dupla por outras afinidades, mas logo também passou a gostar desses filmes.
Entre as afinidades, uma talvez tenha sido fundamental -o português Manoel de Oliveira. Na história do cinema, pode ser que ninguém tenha atravessado séculos, com a mesma desenvoltura que ele.
É esse à vontade com o tempo que se pode verificar nesse filme de época em que a casa dos Campos Elíseos foi achada na Liberdade. Em que, ao lado de caracterizações da passagem do século 19 ao 20, irrompem (nunca de forma abusiva) imagens do século 21.
“Todos os Mortos” não é um filme que se absorve facilmente, tantos são os sentidos que se abrem a nós (entre eles, os inúmeros braços de uma rede fluvial da cidade). Mas se expressa com raro rigor, a partir de um grupo de personagens deslocados, alienados de suas origens e bens, o crescimento caótico e um tanto monstruoso de uma cidade como São Paulo, ou seja, do Brasil.
O filme representa a geração que se constitui sobretudo a partir de grupos de afinidades. É assim o pessoal paulista do Caixote, assim como os mineiros da Filmes de Plástico, os pernambucanos, os cearenses, os brasilienses. Enfim, a geração que se afirma como a mais forte do cinema brasileiro desde os anos 1960.
Cultura
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