SHEYLA SANTOS
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente do Itaú, Candido Bracher, disse nesta segunda-feira (7) que o Brasil pode sofrer com a falta de investimentos se não houver uma redação do país contra a degradação ambiental.
A fala foi feita durante a abertura da Conferência Amazônia, evento realizado pelo Itaú em parceria com o Bradesco e o Santander para discutir questões ambientais e articular doações para a preservação da floresta.
“Eu costumo dizer o seguinte: eu me sinto quase humilhado de ter que me lembrar das consequências concretas, de que vai faltar investimento, de que vão cortar o crédito”, afirmou Bracher. “Os investimentos no país escassearão, haverá uma discricionariedade contra o Brasil na seleção de investimentos”, afirmou.
Os empresários brasileiros se uniram e se articularam em torno de um agenda em pró-preservação, na tentativa de deter represálias internacionais contra o aumento do desmatamento e a atuação do governo brasileiro, considerada insuficiente na área ambiental especialmente por fundos estrangeiros.
Em junho, um grupo de 29 investidores globais assinou uma carta aberta ao Brasil expressando preocupação sobre a política ambiental no país e os riscos contra direitos humanos. Juntos, eles têm US$ 3,7 trilhões em ativos administrados ao redor do mundo.
“Somos lembrados dessa responsabilidade [com a Amazônia] sistematicamente em círculos internacionais que nós frequentamos. Nossos bancos têm muitos investidores estrangeiros. Cada vez mais sentimos uma expectativa de que o Brasil reaja à situação da degradação ambiental que o país vive”, afirmou Bracher nesta segunda.
Bracher disse ainda que o Itaú tem feito um trabalho na Amazônia para desestimular o desmatamento. “Temos atuado também na regularização fundiária, ajudando na infraestrutura da região. No futuro, queremos criar um mercado de carbono.”
Segundo o executivo, a falta de títulos de terra para pequenos produtores é um “problema gravíssimo, porque os impede de ter acesso a uma série de suportes oficiais”.
Bracher também explicou as razões que levaram os bancos Itaú, Bradesco e Santander, que são concorrentes, a se unirem na formulação de uma agenda ambiental.
“Desenvolvemos um sentimento de respeito quando surgiu a pandemia. Vimos que o objetivo era muito mais importante do que o ganho mercadológico e de imagem que cada banco teria”, afirma. “Se três competidores tão ferrenhos, como nós, nos unimos é possível a sociedade inteira se unir”, complementa.
O presidente do Bradesco, Octavio de Lazari, disse que a Amazônia tem valor incomensurável em capacidade de armazenamento de carbono e que o país não aproveita todo esse potencial.
“Estamos fazendo business para desenvolvimento da região. Não é caridade. Se as pessoas puderem ter financiamentos dos bancos, não vão precisar entrar na floresta para derrubar árvores”, afirma.
Sérgio Rial, presidente do Santander, afirmou que se empresa não for diversa e responsável social e economicamente irá deixar de existir, pois os clientes não irão mais tolerar um comportamento alheio à preservação.
O executivo disse que o mundo está saindo da era industrial e migrando para um outro estágio de desenvolvimento do planeta, que é a economia de baixo carbono. “É uma tendência irreversível”, afirmou.
O presidente do Santander disse ainda ainda que o desperdício que há na cadeia alimentar brasileira é “brutal”. “O Brasil tem basicamente 170 milhões de hectares hoje utilizados para a pecuária extensiva dos quais aproximadamente 60% são de baixa produtividade”.
A Conferência Amazônia faz parte de um movimento de mobilização do setor privado em favor de uma agenda ambiental mais ampla. Itaú Unibanco, Bradesco e Santander se articularam para cobrar do governo respostas para deter o aumento do desmatamento, realidade que os prejudica diante de investidores estrangeiros.
Em julho, os presidentes dos bancos fizeram uma reunião com o vice-presidente Hamilton Mourão e outros representantes do governo para discutir uma ação conjunta em defesa da Amazônia.
Uma carta de intenções foi apresentada ao final do evento, e as instituições financeiras se comprometeram a apoiar iniciativas voltadas ao fomento da bioeconomia na região, à expansão da infraestrutura básica para a população local e ao incremento do mercado de títulos financeiros verdes.
Também em julho, um grupo de empresas de grande porte, de diferentes setores, se articulou em uma carta aberta para manifestar preocupação com a deterioração da imagem do Brasil no exterior em relação ao meio ambiente.
O desmatamento na Amazônia cresceu cerca de 9,5% de agosto de 2019 a julho de 2020 em comparação com o período anterior, de 2018 a 2019. No total, foram derrubados 11.088 km² de floresta nesse intervalo de tempo apesar da presença do Exército na floresta, sob a Operação Verde Brasil 2.
Segundo os dados consolidados do Prodes (Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite), do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), a área desmatada é a maior da última década.
O aumento do desmatamento tem sido um dos entraves ao avanço do acordo entre Mercosul e União Europeia. Países como França e Áustria pressionam por compromissos ambientais mais rígidos para garantir que a produção não tenha origem em cadeias associadas à devastação de biomas.
Segundo informações da RFI, na terça-feira (1), o governo da França anunciou que irá reduzir a dependência de soja importada, principalmente do Brasil, por meio de um programa de desenvolvimento agrário.
Na quarta-feira (2), a ONG britânica Global Witness apontou que JBS, Marfrig e Minerva, os maiores frigoríficos brasileiros e entre os principais do mundo, têm comprado gado ao menos nos últimos três anos de fazendas com desmatamento ilegal no Pará. Os frigoríficos negam irregularidades.
Destaques
Quinta-feira, 7 de novembro de 2024
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